_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Duelo de populismos

A irrupção do Podemos na Catalunha e no País Basco representa um desafio ao secessionismo radical

O primeiro grande ato político do Podemos em Barcelona, assim como as pesquisas do CEO catalão e do Euskobarómetro da Universidade do País Basco, prenunciam um notável efeito da nova formação na Catalunha e no País Basco, tanto nos Parlamentos autônomos, como na correlação de forças entre os partidos nacionalistas e os demais.

Se o mapa eleitoral for parecido com o que preveem as pesquisas atuais, o partido de Pablo Iglesias pode se tornar a segunda força em ambas as comunidades e contribuir significativamente para a perda de vantagem do bloco nacionalista, diminuindo em grande medida a viabilidade do processo independentista catalão.

A suposta ascensão a segunda força indica um impulso semelhante ao registrado nesta fase de novidade – e correlativo desgaste dos partidos convencionais – no conjunto da Espanha. O prejuízo ao soberanismo está relacionado à maior quantidade de partidos presentes em ambas as nacionalidades históricas e ao fato de que sua proposta se compara a outras de semelhante raiz na irritação popular, embora em diferente formato, através da questão social ou nacional.

Assim, o radicalismo inicialmente esquerdista do Podemos desafia os bastiões eleitorais de outros radicalismos, como Bildu, CUP e Esquerra, que procuram canalizar o descontentamento social para horizontes patrióticos. Todos esses partidos traduzem, em uma ou outra medida, a desafeição de diversos setores sociais com a fatura da crise, a conduta da elite política e a anemia democrática. Mas cada um a orienta com distintos graus de populismo e diferentes propostas sociais e territoriais. Por isso todos – e outros que, como Convergència, jogam para aprendizes de feiticeiro rupturistas – sentem-se ameaçados em suas bases e nos gratos prognósticos que vinham acariciando.

Compreende-se tanto desconcerto – destes e de outros partidos e forças sociais – diante das novidades, em um cenário político que necessita de ar e uma reforma constitucional séria. Mas se o aborrecimento produz unicamente sobressalto e este só gera desqualificação, perdeu-se uma grande ocasião para argumentar. O que? A melhor condição das soluções democráticas frente às das assembleias; e o receituário social disponível nas grandes forças europeias frente à improvisação de receitas de mudanças, suscetíveis a prejudicar a estabilidade de um sistema suscetível de melhora.

Nem os cidadãos desenganados em seu honesto esforço diário, nem os nostálgicos de uma Espanha antes vermelha do que quebrada – nem os cínicos do quanto pior, melhor – deveriam empolgar-se com qualquer aumento de radicalismo, de qualquer rótulo, na Espanha. É preciso aprofundar o debate tranquilo sobre as diferentes propostas, seus itinerários e seus riscos: também sobre a questão territorial para a qual Podemos aponta, mas não especifica. E estar atentos às experiências de países vizinhos, como a Grécia, que enfrenta hoje um dilema institucional de grande calado: a estabilidade ou uma eleição antecipada cheia de incertezas.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_