Talisman aceita a oferta da Repsol
O conselho da canadense recomenda por unanimidade a operação A espanhola pagará 22,6 bilhões de reais em dinheiro e assumirá a dívida
A Repsol fez acordo com a Talisman Energy para a aquisição de 100% do capital social da empresa canadense, com o pagamento de 8,3 bilhões de dólares (cerca de 22,6 bilhões de reais) em dinheiro, mais uma dívida de 4,7 bilhões de dólares, no total de 13 bilhões de dólares. Completada a operação, a maior realizada por uma companhia espanhola no exterior nos últimos cinco anos, a Repsol ficará entre as 15 mais importantes empresas petrolíferas privadas, segundo a companhia.
A operação foi avaliada favoravelmente e recomendada a seus acionistas pelo Conselho de Administração da companhia canadense de forma unânime. Mesmo assim, a compra está condicionada à aprovação por 66,6% dos acionistas na próxima assembleia.
A transação será financiada essencialmente pelo caixa próprio da Repsol, basicamente com os recursos gerados pela expropriação da YPF (6,3 bilhões de dólares), embora num segundo momento a Repsol vá emitir até 5 bilhões em títulos híbridos e vender 1 bilhão de dólares em ativos para manter sua nota de crédito.
A incorporação da Talisman elevará a produção do grupo Repsol em 76%, para 680.000 barris equivalentes de petróleo por dia, e aumentará o volume de reservas em 55%, para atingir 2,353 bilhões de barris equivalentes de petróleo. O grupo resultante estará presente em mais de 50 países e terá mais de 27.000 funcionários.
O acordo com a Talisman prevê o pagamento a seus acionistas de 8 dólares por ação, o que representa ágio de 24% em relação à cotação média dos últimos três meses. As ações da Talisman fecharam na sexta-feira a 4,29 dólares na Bolsa de Nova York. A oferta da Repsol deverá ser aprovada pelos acionistas da Talisman presentes em uma Assembleia Geral Extraordinária a ser realizada até 19 de fevereiro de 2015.
Ambas empresas se propõem a completar a transação em meados do ano que vem, o que está sujeito ao cumprimento das condições usuais neste tipo de operação, entre as quais estão incluídas aprovações regulatórias e o consentimento de terceiros, sócios da Talisman, em determinados ativos.
Calgary, nova subsede da Repsol
A Repsol cumprirá os requisitos e trâmites regulatórios necessários no Canadá e solicitará a autorização da autoridade governamental de investimentos estrangeiros (Investment Canada), mostrando os benefícios da operação para o país. Depois de completada a operação, Calgary, na província de Alberta (Canadá), vai se tornar uma das sedes corporativas mais importantes da Repsol no exterior.
A Repsol estará “mais focada na produção e na exploração", afirma Josu Jon Imaz
Com essa operação, a Repsol faz uma “mudança de rumo” em sua estratégia, segundo explicou em entrevista coletiva de imprensa o CEO da Repsol, Josu Jon Imaz, que destacou que a partir de agora, será uma petrolífera “mais focada na produção e na exploração”. Imaz também detacou que é “um bom acordo no momento atual de preços baixos do petróleo”, o que, como recordou, tem impacto na cotação e “particularmente, em empresas com um forte estresse financeiro, como a Talisman, que foram mais castigadas” no mercado. “Mas agora entra em uma companhia com um balanço sólido”, pelo que se mostrou confiante em que seus ativos, que caíram 52% na Bolsa no ano, vão subir de preço.
Além disso, destacou que a compra “não surgiu da noite para o dia”, tendo levado mais de 15 meses “investigando mais de 500 ativos” em diversas localizações, incluindo o Sudeste Asiático. Junto a isso, Imaz afirmou que o fato de que a “capacidade de criar valor nestes territórios seja muito mais complexa” em razão das dificuldades de encontrar sinergias os levou a “realizar uma transação maior”. O CEO também disse que, além da deslocalização geográfica, a Talisman aporta ativos não convencionais (shale, ou fracking).
“Trata-se de uma operação transformadora e empolgante, que nos tornará um dos atores mais importantes do setor energético internacional”, declarou em comunicado o presidente da Repsol, Antonio Brufau. “Talisman é um grupo excelente, que somará sua experiência e comprovado conhecimento em ativos em produção aos que tem a Repsol na exploração em águas profundas. Tudo isso possibilitará dar um forte impulso ao desenvolvimento do conjunto da nova empresa”, afirmou.
A operação aumentará a presença da Repsol em países da OCDE ao incorporar reservas e produção em áreas de grande estabilidade geopolítica. Além disso, segundo a empresa, acrescenta uma ampla carteira exploratória com ativos produtivos de alta qualidade e potencial de exploração, que asseguram o crescimento da atividade nos próximos anos, indicou a empresa espanhola num comunicado.
Sinergias de 200 milhões de dólares
A Talisman Energy aportará na Repsol ativos em produção e áreas de grande potencial exploratório na América do Norte (Canadá e Estados Unidos) e no Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia e Vietnã), bem como na Colômbia e na Noruega, entre outros países. Quando for completada a operação, a América do Norte terá aumentado seu peso na Repsol, com quase 50% do capital investido na área de exploração de hidrocarbonetos da companhia. O capital investido na América Latina será de 22%.
O grupo estima que a gestão conjunta de ativos representará sinergias de mais de 200 milhões de dólares (cerca de 550 milhões de reais) por ano, essencialmente graças à otimização de funções, gestão do portfólio de negócios e exploração, maior capacidade de comercialização na América do Norte e aplicação de tecnologia e boas práticas operacionais.
A transação permite adiantar e superar significativamente as metas de crescimento da área de Exploração e Produção (Upstream) da empresa inseridas no Plano Estratégico 2012-2016 e consolida esse negócio como o principal vetor de crescimento nos próximos anos. O capital investido nessa área passará a representar 56% do total do Grupo, frente aos atuais 35%.
Uma operação blindada
O acordo inclui as previsões usuais para este tipo de operação, que visam a levar ao fechamento satisfatório, como, entre outras, o compromisso do Conselho de Administração da Talisman de não buscar ativamente outros possíveis compradores (non-solicitation), o direito da Repsol a igualar ofertas superiores “não solicitadas” (matching right) e o compromisso de conselheiros e executivos da Talisman de não vender suas ações e de votar a favor do acordo (lock-up agreements). A Talisman se compromete também a pagar à Repsol 270 milhões de dólares em determinadas circunstâncias caso o negócio não seja fechado (termination fee).
Além disso, a Repsol tambén propõe a aquisição do total das ações preferenciais da Talisman ao preço de 25 dólares canadenses por ação, mais os dividendos vencidos e não pagos na data de fechamento. A aquisição das ações preferenciais está condicionada a que todas as condições prévias à aquisição das ações ordinárias sejam cumpridas e à aprovação dos detentores das ações preferenciais. O fechamento da aquisição das ações ordinárias não está condicionado à aquisição das ações preferenciais.
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