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2014 deve ser ano mais quente desde 1880, segundo as Nações Unidas

Entidade alerta para as inundações que acompanham o calor sem precedentes

Manuel Ansede
Inundações em Maglaj (Bósnia) em maio.
Inundações em Maglaj (Bósnia) em maio.UNDP

O ano de 2014 “está em vias de se transformar em um dos mais quentes, se não no mais quente” da história recente, de acordo com os cálculos preliminares da Organização Meteorológica Mundial. Entre janeiro e outubro, a temperatura média mundial do ar superou em 0,57 graus a média de 14 graus do período de referência 1961-1990.

A instituição atribui o calor excepcional desse ano às altas temperaturas sem precedentes na superfície do mar, que “muito provavelmente permanecerão acima do normal até o final do ano”, segundo um comunicado publicado na quarta-feira. Se isso ocorrer, 2014 superará 2010, 2005 e 1998, os anos mais quentes desde que os registros começaram, em 1880. Até outubro, a temperatura superou em 0,09 graus a média da última década.

“Com a informação provisória pode-se ver que 14 dos 15 anos mais quentes dos quais se têm registro ocorreram no século XXI”, assinala o meteorologista francês Michel Jarraud, secretário geral da organização. “Não existem moratórias no aquecimento global”, alerta.

14 dos 15 anos mais quentes de que se tem registro foram no século XXI 

As estimativas vêm a público coincidindo com a reunião organizada pelas Nações Unidas em Lima (Peru) para tentar chegar a um acordo internacional de redução de emissões de CO2. Os níveis atmosféricos de CO2 estão em seu ponto máximo histórico, chegando em 142% do nível médio da era pré-industrial, de acordo com os dados do ano passado.

Para Jarraud, o observado em 2014 corresponde perfeitamente com o previsível em uma mudança climática. “Um calor sem precedentes junto com chuvas torrenciais e inundações provocaram a destruição de meios de subsistência e de vidas. O que é particularmente insólito e alarmante esse ano são as altas temperaturas de vastas áreas da superfície oceânica, especialmente no hemisfério norte”, adverte o meteorologista.

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O índice de 93% de energia que fica preso na atmosfera por conta dos gases de efeito estufa acaba nos oceanos, conforme explicação da organização. Esse ano, as temperaturas mundiais na superfície do mar bateram todas as marcas, com 0,45 graus acima da média de 1961-1990.

“Nosso clima está mudando e a cada ano aumentam os riscos de fenômenos meteorológicos extremos e as consequências que podem acarretar para a humanidade”, declarou no mesmo comunicado a costa-riquenha Christiana Figueres, chefa das negociações climáticas das Nações Unidas.

A Organização Meteorológica Mundial lembra que “as altas temperaturas do mar, junto com outros fatores, contribuíram para que ocorressem precipitações e inundações excepcionalmente intensas em numerosos países e secas extremas em outros”. A instituição, com sede em Genebra (Suíça) e ligada às Nações Unidas, aponta as “inundações devastadoras” na Sérvia, Bósnia e Croácia que afetaram dois milhões de pessoas. Também incide nas graves inundações no norte de Bangladesh, norte do Paquistão e Índia. A França viveu seus meses de julho e agosto mais úmidos desde que os registros se iniciaram, em 1959.

“Por sorte nosso clima político também está mudando”, opina a chefa da negociação climática da ONU

Em maio e junho, ressalta a organização, o total de precipitações superou em 250% a média no Paraguai, no sul da Bolívia e em algumas regiões do sudeste do Brasil. Duzentas mil pessoas foram prejudicadas pelas inundações após a enchente do rio Paraná, particularmente no Paraguai.

Ao mesmo tempo, em partes do leste e no centro do Brasil ocorreram situações de seca grave, especialmente em São Paulo. Secas também foram registradas nos EUA desde novembro, com precipitações inferiores a 40% da média de 1961-1990 em regiões da Califórnia, Nevada e Texas.

A organização detalha que, entre janeiro e outubro, a temperatura média do ar sobre a superfície terrestre foi 0,86 graus maior do que a média de 1961-1990. É a quarta ou quinta mais alta desde o começo dos registros, dependendo da análise de outros dados.

“Por sorte nosso clima político também está mudando”, opina Figueres, que confia que a negociação no Peru será frutífera e avançará para um acordo internacional de redução de emissões de CO2, que seria assinado em 2015, em outra reunião em Paris.

 

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