O Japão começa a reabertura de usinas nucleares após o incidente de Fukushima

A Autoridade Reguladora Nuclear dá sua aprovação para religar dois reatores em Sendai

A planta de Sendai, da companhia Kyusu Electric Power, em 2013.AP

O Japão deu mais um passo nesta quarta-feira para recuperar seu setor nuclear comercial, completamente fora de operação há quase um ano e que atravessa graves dificuldades desde o incidente de Fukushima em 2011. A Autoridade Reguladora Nuclear (NRA, na sigla em inglês) deu sua aprovação para religar dois reatores da usina de Sendai, de propriedade da empresa Kyusu Electric Power.

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No entanto, os reatores não entrarão em funcionamento de imediato. Conforme explica o porta-voz da NRA, Tabashi Yamata, ainda são necessárias mais duas revisões da entidade em outras instalações da usina, que ficou fechada por três anos, e em seus mecanismos de segurança. Além disso, o funcionamento dos reatores terá de ser aprovado não só pelas autoridades da província de Kagoshima, mas também pela população local, o que, ao que parece, será muito mais complicado. “É difícil dizer quando o processo poderá ser concluído. Vai depender dos resultados das avaliações”, disse Yamata por telefone. Segundo a imprensa local, o processo poderia ser concluído no próximo ano.

A decisão, esclareceu a NRA em nota, foi tomada após “a análise cuidadosa” do documento apresentado pela Kyusu Electric Power, de 18.600 páginas, e mais de 62 reuniões de avaliação. A Autoridade também ouviu as opiniões do público sobre a questão.

Um grupo de ativistas protesta contra a reabertura em Tóquio.K. NOGI (AFP)

Perto de completar um ano desde a paralisação completa da atividade das 48 usinas nucleares japonesas, em 15 de setembro, o Governo de Shinzo Abe vê com bons olhos a retomada das atividades do setor, dada a escassez de fontes de energia próprias e o alto preço das importações de petróleo e gás que desequilibra a balança comercial da terceira economia do mundo. Antes do desastre de Fukushima, a energia nuclear atendia 30% das necessidades de energia do Japão.

O anúncio vem uma semana após a reestruturação do Governo japonês, que incluiu a renovação do ministério da Economia, Comércio e Indústria, que supervisiona o setor. Em um de seus primeiros atos, a nova ministra, Yuko Obuchi visitou precisamente da usina de Fukushima. Em uma entrevista coletiva após sua nomeação, indicou que, embora o seu Governo trabalhe para promover o uso de energias renováveis, também retomará o funcionamento do setor, desde que sua segurança seja garantida. Após a decisão desta quarta-feira, Obuchi emitiu um breve comunicado no qual indicava que seu ministério trabalhará para “alcançar o entendimento e a cooperação das comunidades locais e outras entidades envolvidas”.

Embora o Governo japonês esteja inclinado a favor da recuperação da energia nuclear, a maioria da população ainda é contra. Segundo uma pesquisa publicada pelo jornal Nikkei Shimbun em agosto, 56% dos japoneses não querem reativar as usinas desligadas, em comparação com 32% que apoiam a medida.

Organizações de defesa do meio ambiente, como o Greenpeace, também criticam os passos para o reinício das operações deste setor

Organizações de defesa do meio ambiente, como o Greenpeace, também criticam os passos para o reinício das operações deste setor. O Greenpeace calcula que o aumento da eficiência no uso da eletricidade e medidas para reduzir o consumo desde o ano fiscal de 2010 até o ano fiscal de 2013 equivale ao total de energia produzido por treze usinas nucleares, o suficiente para abastecer 22 milhões de famílias no Japão.

As usinas nucleares no Japão foram gradualmente desmanteladas até setembro de 2013, após o desastre nuclear de Fukushima causado por um terremoto seguido por um tsunami em 11 de março de 2011. Quase 16.000 pessoas morreram e cerca de 300.000 foram evacuadas no pior acidente nuclear desde Chernobyl em 1986.

Desde então, a região se esforça para voltar à normalidade e alguns moradores começaram a regressar. Neste verão, o Japão anunciou a retomada das exportações de arroz cultivados em Fukushima, canceladas por dúvidas sobre sua segurança. Já em 2012, tinham sido retomadas as exportações de frutas procedentes da zona.

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