Os bancos internacionais fracassam na tentativa de solucionar a crise argentina
Os “fundos abutres” rechaçam vender os bônus com desconto para quatro entidades financeiras
Dois dos fundos abutres que conseguiram a sentença dos EUA que levou à crise da dívida da Argentina, NML e Aurelius, anunciaram esta semana que fracassaram as negociações para vender a dívida do país sul-americano em default de 2001 a quatro bancos internacionais.
Os norte-americanos Citigroup e JP Morgan, o alemão Deutsche Bank e o britânico HSBC queriam adquirir o passivo para desativar o default: iam pedir ao juiz de Nova York, Thomas Griesa que suspendesse a sentença até 2015, com o qual a Argentina poderia pagar os vencimentos da dívida reestruturada em 2005 e 2010 com vencimento em 30 de julho passado e assim ganharia tempo para negociar no ano seguinte sem o risco de processos dos portadores do passivo refinanciado. Mas o fracasso da negociação confirma que a Argentina continuará no que as agências classificadoras de risco avaliaram como default restrito, limitado a certos títulos públicos, pelo menos até 2015.
Apesar da moratória de 30 de julho, os ativos financeiros do país sul-americano ainda não perderam tanto valor como se esperava em um caso assim porque os investidores tinham a esperança de que um acordo entre os fundos norte-americanos NML e Aurelius e os bancos desativasse a crise. Nos mercados havia a ilusão de um default “curto”. Mas com o passar dos dias e a falta de novidades o prêmio de risco começou a subir e nesta sexta-feira chegava a 774 pontos básicos, ao redor de 4% a mais que no dia anterior, acima dos 764 da Ucrânia e ainda muito abaixo dos 1.052 da Venezuela. Um nível superior a 1.000 costuma indicar o risco de um default.
Até agora, os mercados esperavam um default “curto”, mas agora existe o temor de que siga até 2015
O NLM, o fundo do investidor republicano Paul Singer, declarou nesta sexta-feira à agência Bloomberg que “as conversas com os atores privados fracassaram na tentativa de produzir uma solução aceitável”. Na última quarta-feira, o Aurelius tinha informado sobre o estancamento das negociações: “Não há perspectivas realistas (de chegarmos a um acordo). Nenhuma proposta que recebemos não foi nem remotamente aceitável. As entidades que fizeram essas propostas só estavam preparadas para garantir uma pequena parte, até mesmo nenhuma parte, dos pagamentos que queriam que aceitássemos”.
Uma das consequências mais claras do que o governo de Cristina Kirchner se negou a classificar como moratória foi a desvalorização do peso nos mercados paralelos, tanto na praça ilegal como nas que os investidores usam para comprar legalmente divisas mediante a triangulação com bônus e ações. Este tipo de movimento no câmbio pode pressionar uma depreciação da moeda argentina no mercado legal. Para evitar isso, o Banco Central prolongou a aquisição de divisas de empresas que devem pagar importações a fornecedores do exterior por um total de mais de 8,7 bilhões de reais. As montadoras de automóveis são as mais prejudicadas.
O fato de que o default não é curto e continuará até 2015 pode piorar as variáveis financeiras da Argentina, que sofre uma estagflação (recessão e inflação de 31,2%). O governo de Cristina Kirchner argumenta que não entrou em default porque na verdade depositou o dinheiro destinado aos credores de dívida reestruturada no agente de pagamento, The Bank of New York, mas este banco não fez a transferências a seus destinatários por ordem do juiz Griesa.
A Argentina alega que não pode pagar aos fundos abutres o que estes reclamam porque até o final do ano rege uma cláusula que estabelece que se for feita uma proposta melhor aos que rechaçaram a reestruturação de 2005 e 2010 e ficaram com os títulos em default de 2001 do que aos fundos que aceitaram a renegociação, estes últimos têm direito de reclamar o mesmo tratamento. Quer dizer, o país poderia enfrentar novos processos por quase 90 bilhões. A dúvida dos bancos internacionais que negociavam com os abutres era se em 2015, quando vencer a cláusula, Buenos Aires aceitaria pagar a dívida de 2001 sem descontos ou iria pagar oferecendo o refinanciamento de 2005 e 2010. Os bancos tampouco chegaram a um acordo pelo preço do passivo em default em mãos dos fundos especulativos, que equivale a 3,9 bilhões de reais.
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