_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Outro tempo

A primeira tarefa de Felipe VI será a de usar suas faculdades para facilitar os grandes consensos

A proclamação de dom Felipe como rei renova o vínculo entre Monarquia e democracia parlamentar, posta claramente em destaque durante o reinado anterior. Dom Juan Carlos foi o autor da melhor decisão tomada na Espanha em muito tempo, a de renunciar a seus plenos poderes para impulsionar uma democracia constitucional. Com a assinatura da abdicação, termina uma etapa que entra na história por ter encerrado as convulsões vividas durante grande parte do século XX e por ter registrado um considerável desenvolvimento econômico, social e político, além de ter facilitado a integração da Espanha na Europa.

A partir de hoje, Felipe VI assume a Chefia do Estado conforme determina a Constituição. Será proclamado no mesmo edifício que dom Juan Carlos, quase 39 anos atrás; aí terminam as semelhanças entre o ato de 1975 e o de hoje. Daquelas Cortes franquistas às atuais, emanadas em sua totalidade da soberania do povo, existe a distância que vai de uma ditadura a uma democracia.

A situação de partida não é nada fácil. As principais lideranças políticas estão em crise, como mostram as avaliações ruins obtidas pelos dirigentes nas pesquisas. Sente-se falta dos consensos básicos necessários para garantir o futuro; inclusive duas formações parlamentares, a Esquerda Unida e agremiação catalã Convergència i Unió, romperam o pacto constitucional do qual participaram os partidos dos quais ambas derivam. Sem dúvida, a reivindicação soberanista de algumas forças na Catalunha pesará sobre o novo reinado.

Por isso, além das circunstâncias da cerimônia – felizmente prevista de forma austera e laica –, os cidadãos aguardam os primeiros gestos e palavras do Rei. A renovação na instituição monárquica oferece a grande oportunidade de mobilizar outras energias, que fazem falta em um país carente de recuperar a confiança e o valor do diálogo como método para a solução de conflitos. Sem prejuízo de que o primeiro discurso do Rei tenha sido combinado com o Governo, espera-se o Monarca no terreno da unidade dos espanhóis e na forma de resolver os problemas que se abatem sobre a convivência, e também nas questões sociais e nos direitos dos cidadãos.

O ato fundacional da nova época tem de servir para confirmar a vontade de Felipe VI de ser o rei de todos os espanhóis, como foi seu pai, e responder às expectativas de um tempo novo. Dom Felipe já é o chefe do Estado, com todas as consequências, a tal ponto que protagonizará o ato do Congresso, inclusive sem a presença de seu pai. Ele precisa tomar a responsabilidade em suas mãos desde o primeiro instante, e, uma vez que o pai decidiu não assistir à proclamação do sucessor, é claro que assim deseja o próprio dom Juan Carlos.

Dom Felipe não pode substituir as Cortes nem o Governo, onde residem os poderes políticos efetivos, mas pode, a partir de agora, utilizar suas faculdades de arbitragem e moderação para facilitar um clima favorável à volta ao diálogo.

A decidida vontade da Coroa de impulsionar um campo de reformas não pode passar por cima do fato de que o Rei só conta com a auctoritas que for capaz de angariar. Como Príncipe das Astúrias, se manteve à margem dos episódios lamentáveis protagonizados por outros membros da família do Rei. É preciso exigir de dom Felipe que recupere a imagem exemplar que a Coroa deve oferecer a todo instante.

O começo de um reinado é uma grande oportunidade para alterar o clima de pessimismo dos últimos anos, para alterar os termos do debate. Em vez de cada um se encastelar em suas posições e se aprofundar no que divide, será preciso se aplicar em reconstruir a vida econômica e social, abrir as pontes e restabelecer os consensos.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_