_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Poucos votos no Egito

O regime militar não convence a população da volta à normalidade democrática

Cumprindo o roteiro estabelecido em vários países do mundo depois de um golpe de Estado, o Egito celebrou as eleições presidenciais das quais resultou vencedor, com 93,3% dos votos, o general Abdelfatá al Sisi, o exchefe do Exército que em julho de 2013 —assegurando que pretendia salvar a democracia— protagonizou um golpe de Estado. Al Sisi encarcerou o presidente e grande parte do Governo eleitos democraticamente, declarou ilegal e terrorista seu partido e desde então presidiu um Gabinete caraterizado pelo acréscimo da repressão política e pelas restrições à liberdade de expressão, embora faça questão de tentar transmitir ao exterior uma imagem de normalidade. Também seguindo o roteiro, nas eleições teve um oponente, o esquerdista Hamdin Sabbahi, que obteve 3,9% dos sufrágios.

E embora 2,8% dos votos tenham sido declarados nulos, o espírito de protesto dos egípcios manifestou-se basicamente mediante a negativa de participar nas eleições. Tanto que na terça-feira na hora de fechar as urnas, após três dias em que permaneceram abertas, o regime anunciou que prolongava a jornada eleitoral por outras 24 horas, em meio a um bombardeio propagandístico para que a população fosse votar. Nem mesmo assim: 54% do censo ficou em casa. E isso, aceitando as estatísticas oficiais, postas em dúvida pelos observadores eleitorais europeus.

É certo que os últimos meses do Governo da Irmandade Muçulmana, presidido por Mohamed Morsi, ficaram marcados pela tensão social e as arbitrariedades e exclusões de todo tipo, e que a emblemática praça Tahrir, tomada por jovens laicos opostos à islamização do Egito, recebeu com fogos de artifício a notícia de que o Exército havia deposto Morsi. Mas a experiência demonstra uma vez mais que romper as regras do jogo democrático não resolve nada, senão o contrário, em uma sociedade que tinha tirado de cima longos anos de regime totalitário.

Hoje o Egito de Al Sisi tem um regime que tenta fazer desaparecer toda a oposição —islamita ou laica—, enquanto o terrorismo cresce nas ruas nas quais graves dificuldades econômicas são o caldo de cultivo ideal para criar o pior dos palcos. Celebrar eleições não tem a ver necessariamente com viver em democracia. O Egito é um exemplo.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_