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As Bolsas ignoram o crescimento eleitoral dos radicais e sobem após fala de Draghi

Um empurrão de Milão, que avança mais de 2,75%, puxa a alta dos demais mercados de referência O Ibex chega ao seu nível mais alto em três anos, ao crescer quase 1% na metade do pregão

Álvaro Romero
Um homem fala ao telefone em frente a uma tela com os valores do índice indonésio IDX, em Jacarta.
Um homem fala ao telefone em frente a uma tela com os valores do índice indonésio IDX, em Jacarta.EFE

As Bolsas europeias responderam com um movimento de alta aos bons resultados dos partidos radicais nas eleições europeias. A ascensão das agremiações alternativas, eurocéticas e populistas deveria supostamente complicar o trabalho da futura Comissão Europeia, a cuja liderança concorrerá um velho conhecido dos mercados, o democrata-cristão Jean Claude Juncker, que foi até 2013 o presidente do Eurogrupo [grupo de ministros de Finanças da zona do euro] e cujo bloco político venceu a eleição europeia de domingo por uma margem mínima. Entretanto, frente à expectativa de mais incerteza, os investidores – que já haviam equacionado na semana passada a perspectiva de que os dois grupos majoritários perderiam apoio eleitoral – preferiram olhar com otimismo para o futuro. Contribuiu para isso a insistência de Mario Draghi, presidente do BCE, em anunciar medidas iminentes contra o risco de deflação. A jornada, além disso, não teve nem a referência de Londres nem a de Wall Street, mercados que não operaram devido a feriados.

Por conta disso – e não só na cidade portuguesa de Sintra, onde Draghi se pronunciou –, o foco das atenções durante o pregão se transferiu de Bruxelas para a Itália. Nesse país, a revalidação obtida pelo primeiro-ministro Matteo Renzi, menos de quatro meses depois de chegar ao poder, dissipou muitas dúvidas dos investidores, temerosos com uma ascensão do movimento populista Cinco Estrelas. Por este motivo, a Bolsa de Milão, que vinha de quedas fortes por causa da possibilidade de uma vitória da formação do populista Beppe Grillo e de um crescimento do voto “de castigo” contra Renzi, se recuperou nesta segunda-feira, com alta de 2,75%.

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Esse empurrão milanês animou um movimento de compra no resto do Velho Continente. O setor bancário foi decisivo para a alta na Itália, registrando lucros de até 6% ou 7%, no caso dos bancos Popolare e Unicredit, o maior do país. Na Espanha, o índice Ibex 35 foi subindo à medida que o dia avançava, e na metade da sessão ele registrava alta de 0,98%. Com essa recuperação, superou os 10.660 pontos, aproximando-se do seu nível mais alto dos últimos três anos, os 10.677 pontos marcados no começo de abril.

No resto da Europa, o índice DAX, de Frankfurt, também subia quase 1% no mesmo horário, fazendo com que a principal Bolsa alemã atingisse níveis máximos em toda a zona do euro. Na França, onde o mercado ainda está digerindo a vitória da populista Marine Le Pen, o CAC cresceu 0,39%. Antes da abertura, e com a ressaca das altas da sexta-feira em Wall Street, o Japão obteve uma notável ascensão de 0,97%, levando o índice Nikkei ao seu volume mais positivo em um mês.

No mercado cambial, o euro se viu prejudicado na abertura do dia pelos resultados das eleições, embora o otimismo que vinha da Itália também tenha afinal animado as compras da divisa europeia. Por volta das 12h (hora de Brasília), a moeda única era vendida a 1,3649 dólar, recuperando-se do piso do dia, de 1,361. A revalorização da moeda é, aliás, um dos fatores de risco para a recuperação citados por Mario Draghi no seu discurso. Durante uma conferência organizada pelo Banco Central Europeu em Sintra, o economista italiano insistiu em que a instituição está preparada para assumir medidas contra a baixa inflação, que ameaça frear a já frágil recuperação econômica da eurozona.

Além das eleições europeias, do discurso de Draghi e da falta de referências em Londres e Wall Street, os analistas destacaram também como um dos fatores determinantes da sessão o resultado das eleições na Ucrânia, onde “a previsível vitória de Poroshenko contribuiria para atenuar as tensões no país”, segundo Victoria Torre, diretora de análises do Self Bank.

Valores do Ibex

Dentro do Ibex, a maior alta foi da operadora Red Eléctrica, 2,7%, ao passo que a Repsol – que antes da abertura confirmou a decisão de propor um pagamento extraordinário de dividendos, como já havia antecipado o EL PAÍS – avançou 1,78%. Outros papéis que puxaram a alta foram os das empresas Gamesa, Sacyr e Enagás, todos com altas superiores a 2%.

Quanto aos grandes valores, a Inditex saltou 1,5%, a Telefónica subiu 0,70%, a Iberdrola registrou 0,56%, e os bancos BBVA e Santander marcaram 0,75% e 0,58%, respectivamente. Todas as empresas do índice espanhol de referência conseguiram operar no azul.

Com relação à dívida, a melhora dos países periféricos do euro, especialmente da Itália e da Espanha, foi destacada depois do castigo da semana anterior. Graças à compra de seus títulos por parte dos investidores, a taxa de risco de ambos os países perdeu fôlego. No primeiro caso, a melhora foi de 14 pontos, chegando a 159 pontos-base, enquanto, no caso da dívida espanhola, o sobrepreço cobrado nos bônus de 10 anos caiu 8 pontos básicos em relação aos títulos alemães que balizam o mercado, ficando 148 pontos-base. Os títulos do Tesouro com vencimento em 2024 foram vendidos com juros inferiores a 2,9%.

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