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Pedro mostra o caminho a Diego Costa

Um gol do espanhol acaba com a resistência da Itália na estreia apagada do brasileiro

José Sámano
Pedro comemora o gol da Espanha contra a Itália.
Pedro comemora o gol da Espanha contra a Itália.JAVIER SORIANO (AFP)

Os atacantes da Espanha vêm e vão e Pedro segue aí, ligado como nenhum outro à seleção, onde é um modelo de eficácia e sacrifício. Como o foi o brasileiro Diego Costa no Atlético de Madri, e que, com atributos semelhantes, ganhou com ampla vantagem a Roja. Ele era o principal atrativo no enésimo clássico com a Itália, uma equipe de maior ou menor talento mas que sempre tem algo a mostrar. E no dia de Costa, estupendo jogador mas um pouco ofuscado na partida, Pedro tomou a dianteira e foi protagonista, por seu gol e o futebol aceso do início ao fim. Um valor seguro para o técnico Del Bosque, como ficou constatado novamente no estádio Vicente Calderón, em Madri. Se Pedro caiu bem ao Barça, ainda melhor nesta Espanha que já mira a Copa do Mundo no Brasil. A partida ante os italianos não será muito rebobinada, mas, ao menos, serviu para certificar que a atual campeã mundial tem matéria-prima. Independentemente do que se consiga no Mundial, a fonte não secou. Com algumas limitações na defesa, no restante das posições a pujança é extrema e muitos jogadores de primeiríssima linha terão de brigar por uma vaga até o último suspiro.

ESPANHA, 1 - ITÁLIA, 0

Espanha: Casillas (Valdés, m. 46); Azpilicueta, Javi Martínez, Sergio Ramos (Albiol, m. 65), Jordi Alba; Thiago, Busquets (Xabi Alonso, m. 46), Cesc (Silva, m. 46); Pedro (Cazorla, m. 82), Diego Costa e Iniesta (Navas, m. 65). Não utilizados: Reina; Juanfran, Xavi, Koke e Negredo.

Italia: Buffon; Maggio (Abate, m. 46), Barzagli, Paletta, Criscito; Motta (Giaccherini, m. 62), Montolivo, Marchisio; Candreva (Pirlo, m. 46), Cerci (Destro, m. 69) e Osvaldo (Inmobile, m. 69). Não utilizados: Sirigu y Perin; Bonucci, Chiellini, Astori, De Sciglio, Parolo, Verratti, Gilardino e Insigne.

Gol: 1-0. M. 63. Pedro.

Árbitro: Levgenii Aranovskyi (Ucrânia). Deu cartão amarelo a Criscito e Destro.

Cerca de 30.000 espectadores no Vicente Calderón, em Madri.

Sem contratempos finais, não resultaria estranho que Del Bosque escalasse na estreia no Brasil ante a Holanda sete dos titulares que foram alistados contra a Itália nesta quarta-feira. Tamanha é a base espanhola que os quatro em dúvida são indiscutíveis no Bayern de Munique (Javi Martínez e Thiago), no Chelsea (Azpilicueta) e no Atlético de Madri (Diego Costa). Na expectativa ficam, ninguém mais ninguém menos que ilustres como Xavi, Alonso, Silva ou Negredo, por exemplo. A concorrência é máxima em uma seleção na qual se custa encontrar espaço para atletas como Torres, Villa, Mata e outros tantos. Na Espanha de falsos centroavantes irrompeu Costa e na Espanha que não fecunda volantes e laterais pedem passo Javi Martínez e Azpilicueta. Com Thiago acontece outra coisa: trata-se de clonar Xavi.

Em um duelo mais relaxado com os atletas comandados pelo técnico italiano Prandelli, ninguém estava mais sob os holofotes que Diego Costa, que tem um tempo curto para se adaptar ao formato de uma seleção de traçados rápidos, que detesta chutar por mais que disponha do gol no horizonte. Ao menos ante a Itália ficou evidente que será o brasileiro o que terá de se moldar ao estilo de jogo curto, de grupo e em espaços reduzidos. Nesta Espanha não se busca a área rival na correria. Esse é o ponto de partida, por mais que com o atacante do Atlético a equipe possa improvisar outro repertório se for preciso. Contra a Itália, que jamais fica constipada adiante de Buffon, Diego Costa não esteve cômodo, faltou a ele a paisagem à qual está acostumado. Se a Espanha não vê o futebol com os faróis altos, os italianos não soltam as amarras nunca. Bem o comprovou Diego Costa, cujas muitas qualidades não são desdenháveis para a Espanha.

Sem sobressaltos, Azpilicueta —lateral sem muito barulho, mas com os tempos certos para o ataque e a prudência— e Javi Martínez —com corpo para o choque, bom cabeceador e com a perna solta para a articulação das jogadas—, Thiago dividiu a cena junto com Busquets e Xabi Alonso. Com a experiência na Bundesliga, o filho de Mazinho encontrou sua pausa. Sente-se relevante, que é o que queria, e não precisa ser Maradona ou Zidane em cada jogada, em cada passe, em qualquer situação intrascendente. No Calderón foi visto solto, mas com maior rigor tático. Mais maduro, definitivamente. Como recursos nunca faltaram a ele, agora aponta para ser um grande jogador, a ser o melhor aluno da grande fábrica de meio-campistas na seleção espanhola nos últimos tempos. Uma safra infinita da qual também saiu Silva, cuja entrada no segundo ato resultou capital. Ele pôs a graça que tinha faltado à atual campeã mundial depois de um início de jogo muito acadêmico.

Com Silva à frente, a Espanha foi mais elétrica nos últimos metros, o que multiplicou sua produção ofensiva, reduzida às aventuras de Pedro, jogador tão solvente que na Roja vê transitar um pelotão de atacantes que não conseguem assegurar sua vaga. É um desses jogadores que nunca te deixa na mão, que em suas jornadas menos brilhantes é garantia de trabalho realizado. Frente aos italianos encontrou uma recompensa, após uma "partitura" inteligente de Iniesta e Silva. Como Pedro varre todo o ataque, seguiu a jogada até emergir a tempo para superar Buffon, que no gol não foi o grande Buffon. Na verdade, não houve um italiano acima dos demais. A Itália mantém o cromossomo do calcio. Uma seleção com ofício, difícil quase sempre, mas que joga sem brilho quando Pirlo está apagado.

Resolvido o amistoso, a menos de 100 dias para o Mundial, a Del Bosque só resta comandar à distância, porque para os dois ensaios que restam antes da abertura, com a temporada de clubes finalizada, a convocação final estará praticamente decidida. O treinador terá de passar um pente fino em seu bendito problema da abundância —salvo na zaga, onde há pouca lista de espera—, tanto no meio como no ataque, onde deverá colocar Costa ou quem escolher para remar junto com o irredutível Pedro.

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