Justiça, nada mais
A declaração de Cristina perante o juiz era indispensável para o processo em andamento
A declaração de Cristina de Borbón perante o juiz José Castro mostra que o respeito à justiça se impôs sobre o escândalo que acarretaria qualquer outro final. A família do Rei está submetida à Constituição e não vive à margem dela. Cristina é uma cidadã e o magistrado que lhe convocou é o juiz natural que corresponde ao caso investigado. Se cumprem desta forma as exigências do Estado de direito, às que estão submetidos todos os cidadãos, também a filha do Rei.
A promotoria tentou pressionar o magistrado para livrar prematuramente Cristina, algo que faz parte da lista de erros registrados no gerenciamento deste assunto. À margem das razões do promotor com respeito às razões da causa (o ministério público sustenta que Cristina não cometeu delito), a firmeza do juiz evita que as suspeitas fiquem no ar ou se depositem no lado escuro da democracia. Além disso, que a filha do Rei declare perante um juiz contribui à tarefa pendente de restabelecer o crédito perdido pelas instituições.
Iñaki Urdangarin desperdiçou a oportunidade de se declarar culpado pelas irregularidades investigadas na empresa Aizoon (cuja propriedade compartilhava com Cristina), uma sociedade alimentada com fundos públicos extraídos através do Instituto Nóos, que foi usado supostamente para evadir impostos. A negativa de Urdangarin complicou sua situação e também a de sua esposa, que alegou ante o juiz Castro ser alheia ao gerenciamento dos negócios do marido e ter confiado plenamente nele.
Estes são os aspectos relevantes e não as polêmicas em torno do procedimento de acesso físico de Cristina ao tribunal. Gastar demasiado tempo em buscar a cumplicidade dos "cidadãos de classes baixas" para enfrentar a “elite”, neste caso uma pessoa da família real, é uma atitude claramente populista. Não há discussão: Cristina é mais uma cidadã perante a lei, mas sobra falar de privilégios quando se trata de manter as medidas de segurança necessárias para uma pessoa situada na linha de sucessão da Coroa, embora afastada dos atos públicos.
Não faz parte da normalidade democrática que as suspeitas de corrupção se estendam pelas instituições do Estado. Mas como é assim, a resposta correta não consiste em substituir a justiça pelo espetáculo, nem estabelecer culpas ou inocências em função da forma ou do tempo de exposição frente às câmeras. A única solução responsável é confiar na justiça e respeitar suas determinações, e antes de mais nada a do juiz, que decidirá se o procedimento contra Cristina deve ser continuado. Seja qual for essa decisão, a função constitucional que desempenha a chefia do Estado não deve ser influenciada pelas metamorfoses de alguns membros da família do Rei.
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