_
_
_
_
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

A verdade em marcha

Snowden revirou as estruturas de poder mais secretas e perigosas do planeta

Lluís Bassets

Missão cumprida. Ele tem 30 anos, mas fala como se já tivesse feito tudo na vida. “Tudo o que quis tentar eu consegui”, disse ele às vésperas do Natal ao The Washington Post. “Eu não queria mudar a sociedade, e sim dar à sociedade a chance de decidir se ela queria mudar por si mesma”. Não é um profeta, nem um líder religioso. Mas seu balanço é exato. Em meio ano, conseguiu revirar as estruturas de poder mais secretas e perigosas do planeta. A espionagem começou a mudar a toda velocidade depois dos vazamentos de Edward Snowden no último mês de junho, quando ele revelou o alcance e a profundidade do controle global das comunicações por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, instituição para a qual havia trabalhado.

Nenhum obstáculo se opunha até agora à coleta de bilhões de dados privados por parte da agência especializada. A facilidade decorria da extensão das tecnologias, que transformam os usuários em involuntários agentes informantes das suas próprias comunicações. As principais empresas do setor colaboraram no fornecimento direto desses dados à inteligência norte-americana. No papel, eram apenas metadados, dados sobre dados – identidade, duração e lugares de origem das comunicações –, mas nunca os conteúdos das conversas ou as mensagens, embora bastem a sua coleta e processamento em quantidades astronômicas para gerar informações de grande relevância. Isso não era suficiente para a NSA. Graças à colaboração do Governo britânico, do Google e do Yahoo, os espiões de Washington grampearam as redes de fibra óptica de todo o mundo, acessando assim conteúdos de mensagens emitidas e recebidas também por norte-americanos, sem se submeter a nenhum controle jurídico ou parlamentar.

As escutas de mandatários estrangeiros por causa dos grampos em seus celulares é o fato picante que tempera essa sinistra salada de espionagem global, com seus correspondentes protestos diplomáticos. Afinal, soubemos de algo que não devíamos ignorar, que também os aliados e amigos se espionam, e que praticamente não há regras do jogo na espionagem. As que existem satisfazem à distribuição do poder no mundo.

O alcance dos documentos subtraídos da NSA ainda é desconhecido, mas o dano sofrido pelo prestígio dos EUA e de Obama já é incalculável. A primeira reação foi tachar o autor das revelações de traidor e velhaco. Mas a seguinte foi a exigência de limites e de regras para o jogo, por parte das empresas, da Justiça e inclusive de consultores do Governo. A verdade está em marcha, e nada a freará. Snowden disse isso quando tudo começou, parafraseando o escritor francês Émile Zola. Por enquanto ele tem razão, e esse é sem dúvida o acontecimento mais importante do ano que termina. Feliz 2014!

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_