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CRISE NA CASA ROSADA

Responsável por manipular os dados de inflação na Argentina deixa o governo

Guillermo Moreno, secretário de Estado do Comércio, sempre apoiado pela presidente Cristina Kirchner, promovia, desde 2007, a falsificação dos dados sobre preços e da expansão da economia

Francisco Peregil
Guillermo Moreno em evento em maio de 2012.
Guillermo Moreno em evento em maio de 2012.AFP (Y. CHIBA)

Guillermo Moreno, o homem que determinou o rumo da economia da Argentina nos últimos anos, renunciou nesta terça-feira. Seu cargo – como costuma ocorrer no Governo da presidente Cristina Kirchner – não se correspondia com seu verdadeiro poder. Na teoria, era um mero secretário Estado do Comércio. Na prática, foi o homem que impulsionou desde 2007 a falsificação as cifras de crescimento da economia e de inflação com a manipulação do Indec, o instituto de estatísticas argentino. A partir daí, mais de dez consultoras divulgaram estudos em que deixavam em evidência a falsidade das cifras oficiais que Moreno as sancionou. Finalmente, neste ano, um juiz incriminou Moreno por suposto abuso de autoridade.

Através de suas medidas, e sempre com o apoio da presidenta Cristina Kirchner, Moreno conseguiu que a mera menção da palavra inflação fosse um tabu na Argentina. E conseguiu fazer também com que o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitisse, pela primeira vez em sua história, uma declaração de censura contra um país por manipular suas estatísticas.

Moreno foi também o homem que promoveu em fevereiro o congelamento temporário de preços nos supermercados como um método bastante particular de combater a alta dos preços. Fez isso a sua maneira: reunindo os principais executivos das empresas e dizendo-lhes que não tinham outra alternativa além de aceitar sua proposta. A inflação manteve seu ritmo, e Moreno prorrogou a medida por mais dois meses. O avanço dos preços continuou, mas o secretário de Estado conseguiu, de quebra, que muitas das grandes empresas deixassem de anunciar nos jornais, o que levou os veículos mais críticos do Governo argentino, como Clarín, La Nación e Perfil perderam até 20% de seus rendimentos. Os diários alegavam que Moreno “apertava” os empresários para que não anunciassem. Mas nenhum deles admitiu publicamente que Moreno os pressionava.

Guillermo Moreno tinha inimigos por toda parte: entre a classe empresarial, nos meios de comunicação, especialmente no grupo Clarín, e também dentro do próprio Governo. Mas contou sempre com o apoio incondicional de Néstor Kirchner, e, depois, de Cristina. Até que nesta terça-feira apresentou sua renúncia. A presidente a aceitou e recompensou os serviços prestados com o posto de adido econômico na embaixada da Argentina em Roma. "O prêmio aos inúteis e aos fascistas são as representações argentinas no exterior, preferencialmente na Europa", declarou a deputada opositora Elisa Carrió, em clara alusão também ao ex-ministro da Economia Hernán Lorenzino, que foi nomeado embaixador da Argentina na União Europeia.

Moreno deixará o cargo em 2 de dezembro. A partir de então, o comando da Economia ficará concentrado nas mãos do novo ministro, Axel Kicillof.

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