_
_
_
_

Quando não nos querem mais

Em casos de abandono, a tristeza é inevitável Instalar-se nela ou vivê-la até se adaptar à nova situação depende de nós

JAVIER OLIVARES

Ante uma desilusão, rompimento ou abandono amoroso, é inevitável passar por fases de tristeza, desespero, impotência… Os sonhos, as ilusões, desmoronam para uma parte ou outra do casal e normalmente começa um calvário, cuja duração depende de cada afetado, que passa por várias fases:

Fase de súplica. A primeira reação pode ser chorar e implorar pelo seu amor. Não se perde a dignidade ao declarar seu amor a alguém, mas sim quando lhe dizem que não a amam e você continua insistindo como se não tivesse valor, como se em sua vida não fosse ter outra oportunidade de encontrar alguém que a mereça.

Mais informações
Morrer de tristeza
Jack Nicholson, o amor sem esperança de Anjelica Huston
O insondável amor de Kafka e Felice
Como conservar lembranças

Fase de racionalização. Nela, a parte magoada, que não entende como tudo funcionava tão bem e de repente se desfez, tenta fazer a outra parte ver, por meio de argumentos racionais, que se equivocou, que não vai encontrar ninguém igual, que tudo vale a pena pelo tempo investido e que é possível corrigir o que não funcionou.

Fase de adaptação. Pouco a pouco, a vida vai-se reordenando. Como em todo processo de perda, a pessoa começa a encaixar-se na nova etapa de sua vida. Começa a normalizar sua rotina, dorme melhor, trabalha como sempre, relaciona-se com seus amigos, o ex deixa de ser o protagonista de todas as conversações e começa a ter esperanças.

Viciados em beijos

UM FILME

- A guerra dos Roses, de Danny DeVito, com Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny DeVito.

UMA FRASE

- “O bom dos anos é que curam as feridas; o mau dos beijos é que viciam”, de Joaquín Sabina.

UMA CANÇÃO

- ‘Me cuesta tanto olvidarte’, de Mecano.

Fase de indiferença. A pessoa já está pronta para viver sem a presença do ex, não fica se lembrando dele, ele enfim passou para o segundo plano. Isso não significa que se o encontrar na rua o coração não bata mais forte ou voltem boas e más lembranças, mas em geral vive alheia ao rompimento. Já não há desamor, mas um período no qual você se abre e se sente segura.

Fase transversal. Vive-se distante de todo o processo de perda e desamor. Os protagonistas desta fase são seu apoio social, aqueles que não a deixam à própria sorte. São os bons amigos, essa parte da família que sempre está pronta para tudo, aqueles que desejam sempre sua felicidade. Escute-os, têm uma visão diferente do que aconteceu e agora vão lhe dizer de forma sincera tudo o que pensavam, opiniões que calavam há muito tempo em respeito a sua relação e suas decisões. Deixe-se levar por eles.

Normalmente vivemos em ritmo acelerado, mas quando se mergulha em um rompimento amoroso, parece que tudo se torna mais lento, que as horas não passam. Deixa-se de viver o presente porque é onde se convive com a tristeza e nos dedicamos a contemplar o passado, como se fosse possível alterá-lo. Existem pessoas que dão voltas e voltas, fantasiam com a possibilidade voltar no tempo e verbalizam isso.

Mas não é possível voltar e, depois de alguns meses, superado o inferno, talvez a perda seja vista com outros olhos, e até mesmo se possa vislumbrar sua parte positiva.

Não viva a separação de forma irracional, como se o mundo fosse acabar depois daquela pessoa amada. A emoção dominante nesses momentos é tão intensa que se pensa que é a única verdade que existe. A forma de avaliar, de interpretar e de expor o rompimento vai ser a chave para lutar e seguir adiante dignamente. Aceite a perda, deixe de fazer recriminações, de procurar culpados, de se sentir infeliz… a vida continua.

A não ser que esteja feliz na relação de casal, ninguém tem a obrigação de permanecer ao lado de alguém que não valoriza nem ama. Você é livre para estar sozinha ou procurar alguém com quem se sinta viva. Seu parceiro também. Poucas vezes o amor acaba de mútuo acordo.

Se está nessa situação ou conhece alguém que esteja, aqui vão alguns conselhos que ajudarão a ter mais autonomia e contemplar o mundo de outro ponto de vista.

É tão curto o amor e tão longo o esquecimento...” Pablo Neruda

Reinterprete. Na verdade, não é o rompimento que não a deixa viver, mas o resultado da avaliação que faz dela. Acreditar que a situação é catastrófica e irremediável é só um estilo negativo de confrontar as coisas. Mas se acreditar que assim é, certamente assim ocorrerá. Comece a focalizar a atenção no que ainda faz você sentir bem. Seguir adiante ou não, depende de você; se não se salvar, ninguém o fará. Pensamento, ação e sentimento influenciam-se mutuamente. É preciso aceitar que vai passar um mau bocado e que tudo voltará ao seu lugar.

Aproveite as emoções. É necessário aprender a tolerar a frustração e outras emoções negativas, porque com elas se amadurece. Durante dias, sua intensidade e variedade vão oscilar porque se trata de um processo de luto pela pessoa perdida. Terão o protagonismo que você quiser dar a elas. É bom aliviar esses sentimentos através do exercício físico, expressando-os por escrito ou através da pintura, da música…

Fale e escute. Falar com seus amigos do que está acontecendo com você é importante, mas se puder faça-o com vários, para não torpedear sempre o mesmo, também conte a eles outras coisas de sua vida, pergunte por eles e não transforme as conversações e os momentos com amigos e familiares em um monotema: “seu ex”. Não é a única pessoa com problemas, nem seu problema é o mais grave, só se dará conta disso se escutar os outros. É o momento de envolver-se em causas e projetos solidários. Sua dor perde valor quando convive e se solidariza com a dor de outros.

Atue sobre seu comportamento. Atreva-se a conhecer gente nova, visite ambientes que sempre quis frequentar. Não espere estar bem para fazer coisas. Esta regra funciona ao contrário: é preciso fazer coisas para poder ficar bem.

Cuide-se e mime-se. Vigie sua aparência, alimentação, higiene e saúde. Dedique mais tempo a isso e menos a pensar. Sobretudo no início, dê-se a caprichos que a façam se sentir melhor mas que habitualmente não se permite.

Cerque-se de gente que gosta de você. O apoio social é muito importante nessas circunstâncias. Não caia na armadilha de procurar a solidão constantemente, não a ajudará a se distanciar do passado.

O passado serve para aprender. Se se arrepende de algo, é melhor procurar seu próprio perdão que continuar buscando o perdão do outro, porque se já não a ama, é inútil fazer de tudo para demonstrar o seu valor: simplesmente não o atraem porque já não a quer. Guarde esses valores para pessoas que possam apreciá-los e gaste sua energia em outras atividades. Também não parece boa ideia para superar um rompimento pensar que “podemos ser amigos”. Se isso for possível, virá sozinho; no momento, a distância é o mais saudável na maioria dos casos.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_