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Editoriais
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Unidos, muito melhor

A UE deve continuar sua bem-sucedida trajetória de firmeza com Londres: sem revanches

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano, cumprimenta o secretário de Estado britânico para a saída da UE (Brexit), David Davis.
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano, cumprimenta o secretário de Estado britânico para a saída da UE (Brexit), David Davis.CLAUDIO ONORATI (EFE)

A primeira sessão de negociações entre a União Europeia e o Reino Unido para encaminhar os problemas provocados pelo Brexit foi simbólica e frutífera. Assim deve continuar o processo.

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Simbólica de que o peso de 27 países coordenados só pode ser superior ao de um sozinho: em um mundo global é melhor enfrentar desafios unidos do que fragmentados.

Frutífera porque a abordagem europeia se impôs sem alarde. O calendário, os temas e o formato da negociação responderão às condições dos 27. Pois o mais razoável era e é discutir por etapas (primeiro o divórcio; depois, a futura relação, oxalá amistosa). E começar pelos assuntos mais urgentes: estatuto dos residentes britânicos no continente e vice-versa, custo financeiro de retirada, e problemas fronteiriços entre as duas Irlandas.

Diante disso, não havia propostas britânicas. Com o resultado da eleição de 8 de junho, o Governo do Theresa May ainda está dando seus primeiros passos. Sem mandato. O objetivo de um Brexit duro foi desacreditado e nocauteado entre os jovens e nas grandes cidades. Mas a primeira-ministra não se atreve a mudar para um Brexit suave, o que provocaria a aversão de seus colegas mais radicais.

As dificuldades na formação de sua aliança com os partidários do Ulster apontam para outro beco sem saída. Estes são a única força disponível para o acordo interno; mas se apoiar neles exacerbará o Sinn Fein, o partido independentista da Irlanda do Norte e, em cascata, todos os centrifugismos. Com razão os partidários de Gerry Adams afirmam que a preferência concedida a uma das partes que assinaram o Acordo da Sexta-Feira Santa (o núcleo legal da pacificação) não respeita a neutralidade à qual, na ocasião, Londres se comprometeu, e as libera para defender a unificação com a República da Irlanda.

Dada a instabilidade da equipe de May, exatamente o contrário do que ela pretendia ao apelar para eleições antecipadas, a Europa se mostrou mais preparada, mais douta e mais firme no início da negociação. Isto está de acordo com o cenário de recuperação do sentimento europeísta registrado nas eleições na Holanda, e principalmente, na França: ambos os países que fraquejaram nos referendos de diversos tratados europeus. A capacidade de algumas novas lideranças (como Emmanuel Macron) se traduz no estado de espírito: um ano atrás, os europeus favoráveis à integração eram 51% (47% contra) e hoje aqueles superam estes por 63% a 34%.

Um corpo político unido, um objetivo claro e a firmeza (que não significa dureza) na defesa das regras é o que sustenta a solidez dos 27. É fundamental insistir nisso tudo, sem espírito revanchista se pode prever que dentro de dois anos (o prazo para se chegar a um acordo) os britânicos terão esquecido as mentiras grosseiras do referendo e serão sensíveis aos prejuízos (também econômicos) do isolacionismo. Entre eles, os mais portadores de futuro, a geração jovem que Jeremy Corbyn cultivou, mas a partir de uma ambiguidade sobre o Brexit que não deveria manter. Se assim for, e se a Europa mantiver sua acertada estratégia, esperamos que a política britânica acabe recuperando a racionalidade. A partir da qual, tudo seria possível.

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