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No planeta dinheiro, reformas são mais importantes que crise moral do Governo Temer

Para executivos, crise política não altera o norte que o Brasil assumiu após aprovação do teto de gastos e mudanças trabalhistas em curso

Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participa de evento para investidores em São Paulo.
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, participa de evento para investidores em São Paulo.Sebastião Moreira (EFE)

O clima de forte incerteza política que toma conta do país desde a delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS, parece estar longe de tirar o sono de investidores estrangeiros interessados em fazer negócios no Brasil. Na visão de alguns, a crise instalada em Brasília é uma tormenta passageira sem força para alterar os rumos da retomada do crescimento da economia brasileira, que começa a ensaiar alguns pequenos sinais de melhora. “O Brasil não perdeu a década e os fundamentos econômicos também não se perderam”, avalia Hélio Magalhães, presidente do Citibank no Brasil, que participou do Fórum de Investimentos 2017, em São Paulo. Como ele, os executivos ouvidos pelo EL PAÍS durante o evento aponta a crise política como um empecilho no curto prazo, mas as reformas em andamento são garantia de uma mudança bem-vinda. “Há uma solidez econômica e institucional no Brasil, uma certeza de que o país é capaz de lidar com a crise política”, disse a este jornal o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Moreno. O BID está ampliando investimentos no Brasil e abriu um segundo escritório no país, de olho em novos projetos.

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O resultado do PIB divulgado nesta semana, que apresentou crescimento de 1% no primeiro trimestre, após dois anos de queda, era a prova cabal que o Governo precisava para convencer o mercado de que o futuro será melhor que o passado. Não é o fim da recessão ainda, como o presidente Michel Temer anunciou no Twitter nesta quinta, mas ajuda a fortalecer a narrativa da equipe econômica para convencer as empresas a mudar de postura. Apesar do entusiasmo com as reformas, a taxa de investimentos ainda está em baixa: 15,6% em relação ao PIB no primeiro trimestre deste ano, a mais baixa desde os anos 90.

Poucos dias após a delação da JBS, o sentimento entre os interessados em investir no Brasil era de tensão, como constatou Andoni Hernández, consultor em direito estrangeiro, do escritório Demarest, que recebe demandas de interessados do exterior, em conhecer as potencialidades do país. “Não vou negar que o clima político causa reticência e que investidores estrangeiros ficam com pé atrás. Mas essa é uma visão generalista”, diz Hernández, que cuida dos clientes ibero-americanos, e tem o pulso de como o Brasil este sendo visto lá fora. Se em 2015 e 2016 a posição era de cautela, diz ele, este ano o interesse voltou com a agenda de infraestruturas do Governo.

David Fleischer, cientista político americano naturalizado brasileiro, diz não ter dúvidas que os investidores estrangeiros estão mais de olho na economia e menos interessados nos problemas domésticos do país. "A crise política afeta menos as decisões deles. Tanto é assim que o investimento estrangeiro direto continua crescendo desde janeiro", argumentou. No acumulado de 2017 até abril, o ingresso de investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo somou 45,44 bilhões de dólares. No mesmo período, em 2016, o investimento estrangeiro alcançou 33,3 bilhões.

Um dos endereços desses recursos são as obras de infraestrutura. As concessões de quatro aeroportos, em março, por exemplo, trouxeram capital da Alemanha, Suíça e França, que vieram pelos grupos Fraport, Zurich e Vinci, respectivamente.

A crise política que colabora com a letargia na economia parece também ter um efeito colateral para os estrangeiros, uma vez que os ‘ativos’ do Brasil estariam a preços convidativos, como sugeriu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante palestra a investidores. “Este é o momento certo de investir, antes que o país esteja mais valorizado. Quem está presente desde o começo do ciclo [de recuperação da economia], serão a se beneficiar”, afirmou.

Magalhães, do Citibank, acredita que o nó político não deve demorar muito a desatar-se. “Só não me pergunte como, porque isso eu ainda não sei”, brincou. Para Magalhães, o plano de reformas contra o déficit das contas públicas, proposto pelo Governo Temer, vai na direção correta e, só a partir dele, será possível criar os pilares necessários para um crescimento sustentável do país. “Os investidores estão preocupados com o nível de estabilidade financeira do país e o ministro [da Fazenda] Henrique Meirelles deixou claro que continuará trabalhando a favor das reformas independentemente do cenário político futuro. É isso que o investidor quer ouvir”, avaliou.

O discurso realmente foi feito sob medida para os dois dias do encontro, organizado pelo Governo brasileiro em conjunto com o BID. O presidente Temer e os integrantes da sua equipe mantiveram o tom de otimismo, que beirou quase à euforia, sobre os rumos da economia brasileira. O relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), chegou a ser fortemente aplaudido, numa das mesas do encontro, quando afirmou que tinha “absoluta convicção” que independentemente da crise política, conseguiria o apoio necessário para passar a reforma. Segundo ele, o número de votos a favor do projeto pouco mudou após as delações da JBS, mas reconheceu que a turbulência causada pelas denúncias contra o presidente precisam ser superadas o antes possível.

O que parece música para os ouvidos de investidores tinha som de disco riscado em Brasília. Maia e o Governo vão precisar superar incêndios, como a rebelião dentro do PSDB, com uma ala dos tucanos forçando o partido a abandonar Temer. Mas no planeta dinheiro, parece que encarar as desavenças como ‘brigas de casal’ que fazem parte do casamento que se formou logo após o impeachment de Dilma Rousseff entre PMDB e PSDB.

Na visão do presidente global do Santander, o espanhol José Antonio Álvarez, o Brasil atravessa um quadro de dificuldades momentâneas, mas apresenta áreas, como a de infraestrutura, onde há lacunas e são de grande interesse para os investidores estrangeiros. “Comparando a outros países, é muito difícil você encontrar algum que reúna características como as encontradas por aqui. Vocês têm uma das maiores economias e há pessoas com trilhões de dólares nos bolsos procurando projetos para investir”, disse durante o fórum. Dentre os atributos favoráveis do país, Álvarez enumerou a presença de um Banco Central independente, a inflação sob controle e estabilidade financeira. “Hoje você não é uma grande empresa multinacional se não tiver uma presença no Brasil”, ponderou.

O apetite de investimento dos chineses no país é um dos que parecem não ter sofrido nenhum abalo. Na terça-feira os governos do Brasil e da China um fundo de investimentos de 20 bilhões de dólares destinado ao financiamento de projetos de infraestrutura de interesse para os dois países. Atualmente, mais de 200 empresas chineses fazem investimentos e abrem negócios no país, que é o principal destino do dinheiro chinês na América Latina. “Embora nos últimos anos haja uma volatilidade da política e da economia brasileira, a política macroeconômica no Brasil está estável. (...) O futuro da cooperação de investimentos é amplo e ainda há muito a fazer”, ressaltou Li Jinzhang, embaixador da China no Brasil em um auditório lotado.

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