_
_
_
_
_

Cinco coisas que você acha que seu cachorro gosta... mas não

É preciso abraçá-lo quando escuta fogos de artifício? Devemos mesmo jogar diversas vezes um pedaço de pau para ele buscar?

O ator Simon Peeg está fazendo uma coisa que desagrada seu cão no filme 'Absolutamente Impossível' (2015).
O ator Simon Peeg está fazendo uma coisa que desagrada seu cão no filme 'Absolutamente Impossível' (2015).Cordon
Mais informações
Como falar com seu cão, segundo a ciência
Meu gato e meu cachorro têm medo do barulho de fogos de artifício
10 sinais de que você tem um ‘cãofilho’

Paco acaba de passar por uma depressão reativa que o deixou péssimo, quase sem sair de casa por vários dias. O pior é que não foi porque sua namorada o abandonou nem porque foi obrigado a fazer hora extra no trabalho: é porque tudo isso aconteceu com o seu dono. Fruto do cruzamento de Dachshund com Griffon, Paco era supersimpático antes que Rafael, programador de sistemas, fosse contratado por uma multinacional. Pouco tempo depois o jovem terminou o namoro. Quando saía do escritório, já tarde da noite, ia direto a um bar procurando diversão. Paco caiu na sua escala de prioridades e, claro, não soube se adaptar à vida solitária.

Os cães ficam deprimidos, estressados, constipados. Eles se alegram, se entristecem e se levantam com melhor ou pior humor dependendo do dia. Isso não significa que sejam humanos, e sim que tenham uma sensibilidade extrema. Por isso, como afirmam os especialistas no mundo canino, tentar humanizá-los é contraproducente. Outra coisa, claro, é relegá-los à condição de Paco, tirando-os de casa de vez em quando para fazerem suas necessidades. A chave é saber se comunicar com eles. E com todos acontece a mesma coisa: cada um tem seu jeito, suas manias... e nisso se parecem conosco.

A adestradora de cães norueguesa Turid Rugaas registrou toda a sua experiência no livro Señales de Calma (sinais de calma), espécie de bíblia para donos de cães. Basicamente, ela ensina a comunicar com o animal a partir da observação, dando dicas para falar “o mesmo idioma”.

Muitos dos que leram a obra afirmam que a relação com seu cão melhorou radicalmente, e para melhor. Daremos então algumas pistas do que você não deve fazer com seu cachorro, embora pense que ele goste. Porque ele não é tão cachorro quanto pensamos... nem tão humano.

1. Segurar um pedaço de pau para ele pular

A imagem de um cão dando saltos na vertical sobre as patas traseiras costuma ser divertida, mas para ele não é nada disso. A brincadeira, muito comum, é feita da seguinte forma: o dono segura um pedaço de pau bem alto para que o cachorro pule com a intenção de alcançá-lo, mas o eleva para que o animal não alcance. Lembra-se do famoso experimento de Pavlov?

Durante um tempo, o fisiologista russo deu comida a um cão justo depois que soava uma campainha. Depois, a fazia soar sem lhe dar nada, só para que o cachorro salivasse, provando assim sua teoria de reflexo condicionado. Parece cruel, certo? Com o jogo do pedaço de pau, no entanto, geramos uma ansiedade parecida em nosso companheiro.

E há não apenas uma agressão mental, mas também física. “Pular na vertical pode causar lesões no cão, pois ele concentra todo o peso nas patas traseiras, repetidamente, cada vez que cai”, diz o adestrador Ricardo Antón, autor do bem-sucedido blog Educando a mi Perro (educando meu cão). E completa: “Se você fizer uma brincadeira assim, que seja sempre paralela ao solo. E, claro, que o animal possa alcançar o pedaço de pau. Do contrário, você criará nele uma sensação de impotência e frustração.”

2. Acariciá-lo quando tem medo

O que mais alivia um cachorro quando passa por uma situação de tensão é que você o deixe enfrentar sozinho seu momento de pânico. Uma das situações mais comuns é quando há fogos de artifício em festas. Os cães detestam, em parte porque seu ouvido é muito mais sensível que o nosso aos ruídos fortes (não se esqueça de que eles captam ondas de frequência tão baixas que não podemos perceber).

“Se houver uma tempestade ou barulhos de bombas, abraçar ou acariciar seu cachorro não tira o medo dele; ao contrário, reforça o temor”, diz a agência de educadores caninos Voran. “Isso causa a impressão de que realmente está ocorrendo algo terrível, que há motivos para se preocupar, porque seu dono o está protegendo. O melhor, para relaxá-lo, é aparentar normalidade. E se o cachorro entrar debaixo da cama, deixe-o. Mas que enfrente esse processo sozinho. Assim, você lhe transmitirá a menor ansiedade.”

A especialista em comportamento animal  e educadora canina Belén Coronado acrescenta: “É preciso reforçar sempre as situações em que o cão está tranquilo e ignorar aquelas nas quais está ansioso. Se ele pedir a você carícias tranquilamente, claro que pode lhe dar. Mas se for de forma ansiosa, porque não é capaz de estar sozinho, então é um tema de dependência e insegurança que deve ser trabalhado.”

3. Lançar a bola para ele buscar... muitas vezes

“Na natureza, alcateias de lobos ou matilhas de cães selvagens percorrem longas distâncias por dia em busca de alimento. Nesse exercício, não há nada de excitação ou ansiedade. Ao contrário do que fomentamos em nossos cachorros com os jogos que os deixam excitados e ansiosos.” É o que diz o adestrador Ricardo Antón. “O jogo de lançar uma bola (ou qualquer coisa) tem um lado negativo: a obsessão. Seu cachorro pode ficar obcecado de tal forma que não vai parar de latir, terá taquicardia e, no final das contas, terá menos anos de vida.”

Mas não devemos ser radicais. Na medida exata, tudo é benéfico. Assim afirmam o próprio Antón e outros especialistas, como Carlos Ríos. O importante é controlar os tempos, para evitar que o cachorro caia num momento de ansiedade. Por exemplo: decidir quando deixar de lançar o objeto, e nunca lançá-lo se o animal ladrar para que você o faça. “Outro truque é fazer com que ele busque o objeto por meio do olfato, não da visão. Isso o excitará menos, pois usará seu sentido mais refinado”, diz Ríos. “Antes de tudo, porém, o importante é que o dono decida em que momento o jogo termina, sem precisar esconder a bola ou o pedaço de pau. Assim o cão aprende a desconectar”, afirma Antón.

4. Abraçá-lo

Surpreso? Pois é assim: quando você abraça seu cachorro e começa a niná-lo, está tirando o seu espaço. E ele não gosta disso. Já percebeu que costuma contrair os músculos e ficar rígido na mesma postura? Isso porque gosta de você e está disposto a aguentar o que for. Inclusive que o abrace. Stanley Coren, do Departamento de Psicologia da Universidade de British Columbia, fez um estudo sobre isso. E observou que alguns sinais nos indicam se o abraço incomoda ou cria ansiedade no nosso cão. Por exemplo, se o animal gira a cabeça, abaixa as orelhas ou desvia os olhos para fora. Após analisar 250 fotos de abraços a cachorros, a equipe de pesquisa de Corem concluiu que 82% dos cães mostraram sinais de ansiedade ou mal-estar quando eram abraçados.

5. Premiá-lo... demais

“Os prêmios comestíveis, como ossos e biscoitos, são uma ferramenta de aprendizado motivadora, que pode ajudar o cachorro a relaxar e estar mais atento a nós”, afirma a especialista em comportamento animal Karen Overall. Os educadores da Voran, no entanto, advertem sobre o risco de prêmios em excesso. “Os cães podem se tornar egoístas e deixar de fazer algo que antes realizavam por si sós, simplesmente porque não há prêmio”, afirma. “E quando não há prêmio, porque nem sempre pode haver, isso no longo prazo cria frustração e ansiedade.” Antón entra no debate: “Usar recompensas sociais, como carícias e elogias, ou brincar com o cão poderá levar mais tempo em sua educação, mas facilita a assimilação no longo prazo de uma nova conduta, já que estará cimentada em funções do cão baseadas na cooperação, não em receber algo material em troca.”

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_