Delações da Odebrecht: o que já se sabe e o que mais elas podem conter
Nomes de Dilma Rousseff, Michel Temer, Aécio Neves e de ministros já saltaram de depoimentos
Nos últimos meses, trechos de depoimentos de delatores da Odebrecht vazaram à imprensa, dando uma mostra do que poderá estar presente nas 78 delações acordadas por funcionários da empresa com a Justiça. Na próxima semana, espera-se, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ministro Edson Fachin retire o sigilo das declarações. Janot enviou no final da tarde desta terça-feira o pedido ao STF. Ele também requisitou a abertura de 83 inquéritos contra políticos com foro privilegiado (benefício dado a presidente, ministros e parlamentares federais). Os nomes dos que podem ser investigados só será conhecido quando o fim do sigilo for decretado.
Até agora, já foram implicados nomes do atual presidente Michel Temer (PMDB), além de ministros importantes de seu Governo, da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e de seu oponente nas eleições passadas, Aécio Neves (PSDB), entre outros parlamentares de uma dezena de partidos. A possível amplitude das declarações alimentou a discussão de anistia ao caixa dois que acontece no Congresso. Nos últimos dias, diversos políticos relativizaram as doações não contabilizadas feitas por empresas, incluindo o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso.
Leia o que se sabe até agora sobre as colaborações com a Justiça de 5 dos principais delatores e o que mais elas podem conter. Todos os políticos já citados negam qualquer irregularidade.
Marcelo Odebrecht
O herdeiro da construtora ocupava a presidência da Organização Odebrecht desde 2008 até ser preso, em junho de 2015. Ele era o homem das decisões e dos contatos com os principais políticos. Sua delação é apontada pela imprensa como a mais bombástica. No início deste mês, em um depoimento ainda sigiloso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante processo que investiga irregularidades na chapa Dilma-Temer em 2014, ele afirmou que o senador Aécio Neves pediu a ele 15 milhões de reais para sua campanha eleitoral, mas o repasse parece não ter sido concretizado. A questão, entretanto, não foi aprofundada porque o juiz do TSE pediu para que ele se detivesse ao objeto daquela investigação, ou seja, à coligação PT-PMDB. A informação, no entanto, deve constar na delação do fim do mundo, que pode se tornar pública na próxima semana. Também ao TSE, ele afirmou que a empresa doou 150 milhões de reais à chapa Dilma-Temer, sem precisar quanto desse dinheiro foi via caixa dois. E confirmou que se reuniu com o presidente Michel Temer, então vice-presidente, em um jantar no Palácio do Jaburu, para discutir repasses ao PMDB, mas disse não se lembrar de ter tratado de valores com ele. Em trechos vazados à imprensa, ele afirmou que a Odebrecht colocou à disposição do PT, entre 2008 (Governo Luiz Inácio Lula da Silva) e 2014, 300 milhões de reais, sempre após conversas com nomes do partido, como Antonio Palocci e Guido Mantega.
Claudio Melo Filho
A delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht é a única com conteúdo totalmente conhecido. No final do ano passado, um anexo de sua colaboração entregue ao Ministério Público Federal vazou para a imprensa e mostrou como a construtora operava junto a parlamentares para pagar propina em troca de leis que a beneficiavam. A didática delação, de 82 páginas, envolveu 51 políticos de 11 partidos. Ele também citou o jantar no palácio do Jaburu, onde, além dele, esteve Marcelo Odebrecht, Michel Temer e o atual ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Os peemedebistas teriam pedido 10 milhões de reais e, ao contrário de Marcelo, o ex-diretor foi contundente em relação à participação do presidente: ele disse que o pedido do dinheiro foi feito pelo próprio Temer, o que confirmou em um depoimento posterior ao TSE. Pelas versões divergentes, Marcelo e Claudio tiveram que passar por uma acareação nesta sexta-feira no tribunal eleitoral. O conteúdo dela está em sigilo até que o ministro Edson Fachin, responsável pela Lava Jato no Supremo, autorize a divulgação das 78 delações acordadas com a Justiça. Além de Padilha, o ex-diretor citou ainda Romero Jucá, ex-ministro de Temer, Renan Calheiros e Eunício Oliveira, ex-presidente e atual presidente do Senado, Jaques Vagner (PT), Antônio Imbassahy (PSDB) e outros parlamentares.
Benedicto Júnior
Ex-presidente da construtora Odebrecht, Benedicto Junior também deu uma mostra, em depoimento ao TSE, do que sua delação poderá trazer. Ele afirmou que a Odebrecht doou a campanhas 80 milhões de reais por meio de caixa dois, metade por meio de uma cervejaria. Ele também afirmou que repassou 9 milhões de reais ao PSDB a pedido de Aécio Neves, mas não deixou claro se houve doações não contabilizadas ao partido. Ele também não se estendeu muito sobre o tópico, já que as campanhas tucanas não fazem parte do escopo de investigação do tribunal eleitoral, que é a chapa Dilma-Temer. É possível, entretanto, que os detalhes disso já estejam nas mãos da Justiça, em sua delação.
Hilberto Mascarenhas
Mascarenhas trabalhava no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como o "departamento de propinas", pois cuidava dos repasses feitos aos políticos. Em depoimento ao TSE, ele informou que a Odebrecht movimentou mais de 3 bilhões de dólares entre 2006 e 2014 para o caixa dois de campanhas eleitorais brasileiras. Ele detalhou os pagamentos feitos aos marqueteiros de campanhas petistas Duda Mendonça e João Santana, já condenado por envolvimento na Lava Jato. Os pagamentos, apontou ele, foram feitos para campanhas de Lula e de Dilma.
Alexandrino Alencar
O ex-diretor de Relações Institucionais da construtora é visto como mais próximo de Lula e chegou a ter uma delação recusada, porque a força-tarefa da Lava Jato considerou que ele parecia estar querendo proteger o ex-presidente. Ao TSE, ele disse que o ex-tesoureiro da campanha de Dilma de 2014, Edinho Silva, sugeriu que a construtora fizesse uma doação de 30 milhões de reais por meio de caixa dois para a chapa Dilma-Temer. O dinheiro teria servido para que se comprasse apoio de outros partidos para a coligação. Em sua delação, além de detalhar esses repasses, espera-se que Alexandrino tenha esclarecido a questão do sítio de Atibaia, que ronda Lula. O ex-presidente nega ser dono do sítio, que recebeu melhorias feitas pela construtora. A força-tarefa da Lava Jato diz que a propriedade está em nome de laranjas.
Fernando Reis
O ex-presidente da Odebrecht Ambiental também falou ao TSE, na investigação que apura supostos desvios na campanha Dilma-Temer. Ele afirmou que repassou 4 milhões de reais ao PDT para que o partido apoiasse a reeleição da chapa. O partido, por sua vez, diz que a declaração de seu apoio foi muito anterior ao suposto recebimento de dinheiro apontado pelo ex-funcionário. Ele afirmou ainda que o Orçamento disponível para o partido era de até 7 milhões, mas a primeira oferta, mais baixa, logo foi aceita.
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