Já não basta escolher entre Ciências, Humanas ou Exatas
Especialistas incentivam os jovens a buscar mais de uma formação para atender às novas demandas
"Se perguntam o que você sabe sobre o genoma humano, já não vale responder que é da área de Humanas e isso não tem nada a ver com você". Quem fala é Nieves Cubo, uma jovem de 25 anos que desenvolveu a primeira máquina de impressão 3D de tecidos humanos e que trabalha como pesquisadora do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC). Enquanto estudava Engenharia Eletrônica na Universidade Carlos III, na Espanha, ficou interessada em Química e combinou as duas carreiras. "Não tinham nada a ver e essa é a chave; os projetos interessantes nascem da fusão. O mundo não é mais como antes, não vale a pena escolher Ciências ou Humanas".
A pesquisadora participou do evento "EL PAÍS com seu futuro", realizado em Madri para orientar mais de 3.800 alunos do segundo ano do Ensino Médio e de Formação Profissional em seu caminho para a Universidade. Segundo Cubo, as profissões do futuro estão mudando e exigem pessoas curiosas que não estejam presas a uma especialidade, perfis com capacidade de aprender de forma permanente.
"A linha divisória entre as carreiras técnicas e as humanas está desaparecendo", explicou Teresa Ramos, diretora de Inovação e Tecnologia da IE University, que este ano lançou uma nova graduação em Gestão de Sistemas de Informação, um dos primeiros na Espanha que combina Ciências e Humanidades em uma carreira de quatro anos. "Agora a tecnologia permeia tudo e para conseguir que seja útil é preciso ter conhecimento de Psicologia e Ciências sociais; é preciso entender as necessidades humanas para desenvolver produtos". As chamadas soft skills (inteligência emocional, liderança, trabalho em equipe e capacidade para falar em público) também são parte integral desse programa.
Um pouco de "Googliness"
Anaïs Pérez dirige, aos 31 anos, a comunicação de Espanha e Portugal da gigante da tecnologia Google. Um trabalho que, como ela explica, envolve o conhecimento de legislação, engenharia, tecnologia e interiorizar as peculiaridades de um país. "Isso não vem com manual de instruções, é você que decide como se arriscar", contou a um grupo de estudantes atentos que a escutam em uma das palestras de "EL PAÍS com seu futuro".
Mas será que são tão felizes no Google como querem vender? Pérez ri e afirma que sim, mas não pelos sofás e jogos que há no escritório – "apesar de que há" – mas "pela liberdade que dão e como seu trabalho é valorizado", explica no final de sua apresentação.
"Para entrar nessa empresa não é preciso ter um diploma de engenharia, mas algum interesse e precisa gostar de tecnologia e seus produtos". No Google muitas carreiras universitárias se encontram: "Em Marketing há muitos que não fizeram esses estudos específicos e no departamento de Vendas há, por exemplo, físicos". Pérez fala sobre o Googliness, um termo que combina as qualidades e atitudes que fazem com que um empregado contribua com valor para a empresa. "Não olhamos apenas o currículo acadêmico, mas também o fato de que consiga trabalhar em equipe, com todos os tipos de culturas e quais são seus hobbies e interesses. É essencial que falem inglês".
O processo de seleção para entrar na empresa é longo. Os candidatos costumam passar por entre quatro e seis entrevistas e são valorizados por diferentes departamentos. "Queremos sair da endogamia de que um único departamento escolhe seus membros, quando na verdade esse trabalhador vai trabalhar com todos", afirma.
O mesmo se aplica a outras disciplinas em alta como Inteligência Artificial. "Todas as empresas querem subir no vagão da Internet das Coisas, conectar todos os produtos à Internet, e para isso precisam de perfis com conhecimentos tecnológicos, mas também com capacidade de analisar o comportamento humano", diz Juan Antonio Recio, diretor do departamento de Engenharia de Software e Inteligência Artificial da Universidade Complutense. Em última análise, saber um pouco de tudo. E para isso Recio recomendou escolher carreiras de tecnologia que se misturem com outros campos, uma formação "muito valiosa para se encaixar no mercado de trabalho". "Querem um exemplo dessa fusão? Na Complutense temos uma equipe de pesquisadores de Inteligência Artificial aplicada à poesia", explicou aos jovens.
Virginia Toledano, estudante de 17 anos do Ensino Médio, conta que quer se dedicar à embriologia e montar sua própria empresa. "Gostaria de criar um centro de inseminação e também estudar Medicina ou Biologia, sei que tenho que conhecer também o mundo do Empreendedorismo". Este ano em sua escola pública, ela fez uma matéria optativa de gestão e administração de empresas. "Com uma única especialização ninguém sobrevive. Temos isso claro".
Mas outra estudante reclama da falta de orientação profissional no ensino médio. "Sentimos muita pressão, parece que estamos apostando nosso futuro e é muito difícil encontrar informações confiáveis na Internet sobre a realidade por trás dos empregos", diz Lina Lin, de 17 anos.
Lucía González, responsável pelo Verne, seção do El País dedicada a explorar temas da Internet, ressalta a importância de perder o medo de errar, sobre a coragem de mudar de rumo. "Se você se arrepender no primeiro ano de estudos, não deve se sentir uma pessoa estranha. É normal que a formação ministrada na universidade não atenda às suas expectativas. Podem entrar em contato com um profissional em seu campo e perguntar como ele se sentiu durante esse período". O mais importante, continuou, é apagar da mente a ideia de que uma má escolha é sinônimo de perda de tempo. "Tudo soma e nunca se sabe a que vai se dedicar no final e quais conhecimentos irá usar."
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