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Coluna
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Infâmia e vergonha na cara

Acredite: Michel Temer, por causa da fobia social provocada pelo medo de vaias, propôs inverter a corrente de solidariedade às vítimas da tragédia da Chapecoense

Homenagem montada para o funeral dos jogadores e dirigentes da Chapecoense mortos na Colômbia.
Homenagem montada para o funeral dos jogadores e dirigentes da Chapecoense mortos na Colômbia.DOUGLAS MAGNO (AFP)

O ano de 2016 entra, com louvor, para a história universal da infâmia, como na coletânea de vilões e iniquidades escrita por Jorge Luis Borges. Somente esta semana poderíamos acrescentar vários personagens brasileiros ao festival de horrores. Primeiramente, ele, óbvio, o assombroso do Palácio do Planalto.

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Acredite: Michel Temer, por causa da fobia social provocada pelo medo de vaias, propôs inverter a corrente de solidariedade às vítimas da tragédia da Chapecoense. Em vez de participar do velório na Arena Condá, os familiares dos mortos iriam encontrá-lo reservadamente no aeroporto da cidade catarinense. Inacreditável. “Ele que tenha vergonha na cara e venha aqui”, reagiu Osmar Machado, pai do zagueiro Filipe, um dos mortos no desastre aéreo.

Pior é que não vai mesmo. Segundo nota da sua assessoria do governo federal, o presidente ficará no aeroporto, distribuirá medalhas de honra ao mérito esportivo aos parentes e adeus. A dignidade pedida por ti, caro Osmar, parece não ser o forte do político peemedebista que chegou ao poder depois de armar uma arapuca institucional para a ex Dilma Rousseff. O senador aliado Romero Jucá, roteirista do golpismo, que o diga.

Relatos selvagens

Na galeria dos infames, caríssimo Borges, poderia figurar também o presidente da CBF, o sr. Marco Polo Del Nero. Diante da insistência dos dirigentes da Chapecoense para que a equipe seja dispensada do último jogo do Brasileirão, o mafioso que comanda o futebol sugeriu fazer “um grande festa” nesta partida. Mais que um palpite infeliz, um gol contra a sensibilidade humana.

O mesmíssimo Marco Polo que, contrariando o próprio batismo, não se arrisca em viagens fora do país. Corre o risco de ser preso pelo FBI, a mesma polícia que engaiolou José Maria Marin, o ex da Casa Bandida do Futebol, para lembrar a forma adotada pelo jornalista Juca Kfouri para a sigla da entidade.

Temer e Del Nero, mirem-se no exemplo daquela brava gente colombiana que mostrou ao mundo como se faz em momentos de tragédia. Uma aula para a humanidade. Mesmo sob a guerra do tráfico durante décadas, os moradores de Medellín demonstraram não ter corações embrutecidos. Ao contrário daqueles que mandam no Brasil. Acaba 2016, chega de relatos selvagens. Diante da falta de sensibilidade de alguns ditos seres humanos, só nos resta um apelo: embrutecer jamais. Meus sentimentos.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor do romance Big Jato (editora Companhia das Letras), entre outros livros. Comentarista dos programas Papo de Segunda (GNT) e Redação Sportv.

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