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O silêncio no exclusivo condomínio de Eduardo Cunha no dia de sua prisão

O clã Cunha se esforçava para manter a normalidade até a detenção. Os vizinhos reagem com indiferença

Entrada do condomínio onde vive Eduardo Cunha, no Rio.
Entrada do condomínio onde vive Eduardo Cunha, no Rio.F. B.

A aparente monotonia no exclusivo condomínio de luxo Park Palace, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, foi quebrada nesta quarta-feira. Agentes da Polícia Federal cumpriam um mandado de busca e apreensão, por volta do meio-dia, na casa do mais ilustre morador deste condomínio: o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), que foi preso preventivamente em Brasília e levado para Curitiba após ordens do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato.

Os policiais estiveram na residência do conservador ex-deputado e deixaram o lugar uma hora depois, segundo os seguranças do condomínio, que também relataram que a esposa de Cunha, Claudia Cruz, não se encontrava. Mas, mesmo diante de um acontecimento desta importância, a tranquilidade não se alterou durante todo o dia, tanto dentro como fora do Park Palace — apenas um pequeno grupo de jornalistas, incluindo este, demonstrava interesse pelo assunto. “Sabemos que algo aconteceu quando os jornalistas estão aqui do lado de fora. Aí ligamos a televisão e vemos que é algo com o Cunha”, disse uma moradora enquanto entrava no condomínio, empurrando um carrinho de bebê. Outro vizinho foi pego de surpresa: “Prenderam ele, é? Não estava sabendo não!”.

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Esses foram alguns dos poucos comentários ouvidos durante a tarde. Trabalhadores domésticos ou do condomínio, ao serem questionados sobre comentários e “fofocas” do outro lado do portão preto, se limitavam a dizer que estava tudo tranquilo e que não tinha visto nada. Muitos não queriam falar. “Estão esperando o Cunha?”, disse um homem, de forma irônica e sorridente ao mesmo tempo em que apressava o passo em direção ao supermercado, localizado ao lado da entrada do condomínio. No Park Palace, as pessoas parecem indiferentes. Ninguém comenta e nem sabe — ou quer saber — o que acontece na casa ao lado.

No entanto, a Operação Lava Jato, que descobriu contas bancárias de Cunha na Suíça, expôs alguns detalhes da vida de sultão do peemedebista e sua família. Assíduo frequentador de restaurantes caros — no Rio, um de seus preferidos é o Fasano —, chegou a pagar contas de mais de 6.000 dólares. Suas viagens tampouco saíam baratas. E uma delas, para Miami no réveillon de 2013, chegou a gastar mais de 42.000 dólares. Valores semelhantes também foram gastos por Claudia Cruz e sua filha Danielle em lojas de roupa e joias, segundo os investigadores. Enquanto a Lava Jato avançava e o céu caia na cabeça de Cunha em Brasília, as duas continuavam a ostentar, sem nenhum constrangimento, uma vida de luxo.

Desde que foi cassado, Cunha vinha tentando demonstrar uma rotina de um carioca normal. No Twitter, fazia comentários sobre futebol e emitia opiniões sobre o Flamengo, seu time do coração. Foi visto em restaurantes e transitando por aeroportos. A vida de cidadão comum, porém, mostrou alguns inconvenientes. Em uma de suas viagens, enquanto arrastava o carrinho de bagagens em um aeroporto, foi perseguido e agredido por uma senhora. O vídeo do ocorrido viralizou nas redes sociais na semana passada.

Em outros momentos, porém, também era tratado como uma celebridade. Simon Romero, correspondente do New York Times no Rio, relatou em sua página de Facebook ter presenciado, em um restaurante zona sul do Rio, várias pessoas correndo com seus celulares para pedir fotos e lhe agradecer pelo impeachment de Dilma Rousseff. Outras também lhe gritaram e xingaram de “ladrão” e “filho da puta”. Em questões de minutos, relatou Romero, o ex-deputado entrou num carro e partiu.

Desde que foi cassado, Cunha vinha tentando demonstrar uma rotina de um carioca normal

Seu lugar de descanso da política e da má fama nacional era sua casa na Barra da Tijuca, no condomínio Park Palace. Na intimidade do lar estaria escrevendo o livro que prometeu sobre os bastidores do impeachment, segundo noticiaram os jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. Não pouparia ninguém, já avisava ele, para o terror de Brasília. Teria prontas cerca de 100 páginas.

O material explosivo que vinha gestando contrasta com a tranquilidade do Park Palace. Por trás dos altos portões pretos, nas ruas impecáveis e vazias, podia viver discretamente seu padrão de vida milionário ao lado de sua esposa e filha. Alguns vizinhos procuraram demonstrar que não emitem opiniões sobre a vida alheia. E quando o fazem, são discretos. Um deles, que saía de carro nesta quarta-feira, abaixou o vidro e disse rapidamente: “Cunha não está aqui não. Isso aqui é um condomínio residencial, não é baixaria”.

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