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Coluna
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Balas sortidas

Donald Trump, Vladimir Putin, Michel Temer, machismo, cultura e o Nobel de Literatura para Bob Dylan

Operário pinta máscara de Trump em fábrica na China.
Operário pinta máscara de Trump em fábrica na China.Anthony Kwan (Getty Images)

Nesta semana estou oferecendo aos leitores um pacote de balas sortidas. Aproveitem!

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'O fascismo bate à porta', por Luiz Ruffato

TRUMP – O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, certamente assistiu inúmeras vezes às performances do bufão italiano Benito Mussolini, disponíveis em vídeo na internet. Ele o imita em tudo: no gestual, nos rompantes e, em particular, na retórica vazia, mas perigosamente sedutora para analfabetos políticos. Trump encarna a síntese do fascismo contemporâneo — ressentido, nacionalista, machista, xenófobo, homofóbico, beligerante. Com certeza, sua adversária, a candidata democrata Hillary Clinton, irá ganhar as eleições, mas o que impressiona é a quantidade de norte-americanos que seguem Trump como a um messias.

PUTIN – Já o presidente russo, Vladimir Putin, abraça o modelo mais discreto, mas muito mais eficaz, de seus antecessores, em particular o do sanguinário ditador Josef Stálin. Putin não precisa dar satisfação a ninguém, pois montou um sistema autoritário de perpetuação no poder de fazer inveja aos amadores políticos tucanos e petistas do Brasil. Putin invade a Ucrânia, bombardeia as forças aliadas para proteger o ditador sírio, Bashar al-Assad, elimina adversários políticos, faz e acontece, contando com a fraqueza de uma Europa dividida e acuada. Por isso, Putin, que encaminhou toda a sua trajetória dentro de órgãos de espionagem soviéticos, é o sonho de consumo de Trump.

MACHISMO – Muita gente se indignou — e com razão — com o comentário machista do presidente nigeriano Muhammadu Buhari diante da primeira-ministra alemã, Angela Merkel. Irritado com uma entrevista da primeira-dama, Buhari disse que o lugar de sua mulher era “na minha cozinha, na minha sala e nos demais cômodos da minha casa”. Não há dados disponíveis sobre feminicídio na Nigéria, mas os há no Brasil, onde também consideramos a mulher mais uma de nossas posses: segundo dados da Organização Mundial da Saúde, aqui a taxa é de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, o que nos coloca no vergonhoso e desconfortável quinto lugar no ranking mundial.

TEMER – Por falar em Brasil, o medíocre, obscuro e golpista presidente não eleito, Michel Temer, vai conseguir uma grande proeza: entrará para a história contrapondo-se ao presidente bossa-nova Juscelino Kubistchek. Kubistchek consta dos anais por ter feito o país avançar 50 anos em 5. Temer constará por fazer o Brasil atrasar-se 20 anos em 2. Claro, há exagero em ambos os casos: nem avançamos 50 anos em 5 com Kubistchek, nem iremos atrasar apenas 20 anos em 2 com Temer.

CULTURA – Paira no ar uma ideia intencionalmente estimulada por setores reacionários à esquerda e à direita: a de que a cultura é o espaço de expressão e gozo da elite. Ora, a cultura é patrimônio da Humanidade e desprezá-la é desprezar milênios de conquistas. Há certos militantes de esquerda que, cavalgando o burro do populismo, acham que só literatura, música, artes plásticas, cinema, teatro, etc, produzidas pelo “povo” — e enchem a boca quando falam “povo” — é que presta, desprezando todo o resto, que denominam de “cultura burguesa”. E há os reacionários de direita que incitam essa perspectiva, porque querem que a cultura, que eles chamam, enchendo a boca, de “alta cultura”, seja mesmo uma zona reservada ao usufruto dos ricos. Entre uns e outros, perdemos a oportunidade de lutar por um país mais justo, onde todo cidadão, sem distinção de classe, tenha assegurado o acesso à Cultura, com maiúscula e sem adjetivos.

PRÊMIO NOBEL – Aliás, embora ninguém tenha me perguntado, vou meter minha colher: se houvesse Prêmio Nobel de Música eu já acharia um equívoco entregá-lo para Bob Dylan, com suas chatíssimas canções, tendo outros nomes muito mais importantes, em todos os sentidos, como Roger Waters (do Pink Floyd), Leonard Cohen ou, por que não?, o nosso Chico Buarque. Agora, dar a ele o Prêmio Nobel de Literatura é sem dúvida sinal dos tempos...

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