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Sem clima político, Olimpíada do Rio não terá ex-presidentes na cerimônia de abertura

Ex-presidentes e presidente afastada decidiram não comparecer a abertura dos jogos

Acrobatas e músicos durante a passagem da tocha por São Paulo.
Acrobatas e músicos durante a passagem da tocha por São Paulo.Andre Penner (AP)

Quando, em 2009, o Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas imaginava-se que qualquer político brasileiro gostaria de estar ao lado do presidente da ocasião para aparecer na foto da cerimônia de abertura dos jogos. Sete anos mais tarde, dois presidentes depois, nenhuma das cinco pessoas que já comandaram o país antes de Michel Temer (PMDB) confirmou presença no evento. Apenas o próprio peemedebista, que ocupa interinamente o cargo, estará no Maracanã, no próximo dia 5 de agosto, para receber os aplausos, ou as vaias, da plateia quando tiver sua imagem declarando a abertura do torneio divulgada para o lendário estádio.

José Sarney (PMDB), que governou o Brasil entre 1985 e 1990, disse que não participará do evento porque se recupera de uma cirurgia no braço. Fernando Collor de Mello (PTC), presidente entre 1990 e 1992, não justificou a razão de sua ausência e sua assessoria diz que nem sabe se ele foi convidado pelo Comitê Olímpico Internacional. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), presidente entre 1995 e 2002, também passou por uma cirurgia recentemente para instalar um marca-passo no coração e está em processo de recuperação. Os petistas Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) afirmaram a assessores que não há clima político para estarem na festa, dividindo o mesmo espaço com Temer. Ambos costumam afirmar que o afastamento, ainda que temporário, de Rousseff da presidência, trata-se de um golpe de Estado articulado pelo presidente em exercício.

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Em uma entrevista publicada pela Rádio França Internacional na segunda-feira passada, a presidenta afastada disse que a escolha do Rio como sede era resultado de esforços dela e de Lula e reafirmou que não estará nos jogos. “Não pretendo participar da Olimpíada em uma posição secundária”, afirmou Rousseff.

Especialistas em ciência política e em marketing eleitoral dizem que a ausência de ex-mandatários e da presidenta afastada não devem impactar a imagem de Temer ou de seu Governo. “É compreensivo que Lula e Dilma não queiram estar ao lado do presidente em exercício. Os demais, não teriam uma razão política, já que são seus aliados”, diz Fernando Azevedo, cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Consultor em marketing político, Chico Santa Rita reforça essa tese. “Qualquer impacto negativo só virá se as Olimpíadas não forem bem-sucedidas ou se houver algum problema de segurança pública muito grande. Caso contrário, não seria a falta de um ou outro ex-presidente que implicaria na falta de reconhecimento do Governo Temer”. Ele acredita, inclusive, que se o peemedebista for vaiado, será por uma restrita parte dos espectadores no Maracanã. “Pode ser algo de uma claque, mas não deverá ser uma vaia generalizada”, opinou.

Na Copa do Mundo de 2014 e na Copa das Confederações de 2013, ambas durante a gestão Dilma Rousseff, nenhum ex-presidente participou da solenidade de abertura dos jogos. A presidenta acabou vaiada quase sozinha. O então vice-presidente Temer estava próximo a ela na ocasião. Em Londres, no entanto, durante os Jogos de 2012, o ex-primeiro-ministro Tony Blair, do Partido Trabalhista, esteve na cerimônia de abertura apesar de os holofotes terem se voltado para o conservador David Cameron, então primeiro-ministro. Blair foi o responsável por conquistar as Olimpíadas para os ingleses.

Baixa presença internacional

Aliado a tudo isso, o Brasil deverá receber um baixo número de autoridades do primeiro escalão internacional. Apenas quatro chefes de Estado do G20 (os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia) confirmaram a presença na solenidade de abertura. São eles, o francês François Hollande, o italiano Mateo Renzi, o argentino Maurício Macri e o australiano Peter Cosgrove. Ao todo, menos de 50 representantes dos 207 países participantes dos jogos informaram ao Palácio do Planalto que estarão na abertura.

Uma das razões, seria a crise política e uma suposta falta de apoio estrangeiro ao governo peemedebista. “Temer é um interino em meio a uma guerra de versões. Seus aliados dizem que seu governo é legítimo. Os petistas afirmam que houve um golpe. Ou seja, há uma disputa retórica que fez circular no exterior essa versão de que o país passa por uma ruptura institucional, um golpe. Isso inibe fortemente a presença de outros chefes de Estado”, analisou o professor Azevedo.

Diplomatas consultados pela reportagem, contudo, dizem que a crise de segurança internacional, decorrente de diversos ataques terroristas, e o fato de o Brasil ter sediado uma série de grandes eventos nos últimos anos – Rio +20, em 2012, Copa das Confederações, em 2013, e Mundial, em 2014 – também afastaram os líderes mundiais do torneio. O fato é que Temer vai colher os louros - ou as vaias – com poucas autoridades ao seu lado.

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