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Golpe de Estado na Turquia
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Um teste para Erdogan?

Desde o levante de 1980, os generais tinham se limitado a marcar o passo dos políticos

Juan Carlos Sanz

Quando os turcos pareciam ter enterrado a ameaça dos golpes de Estado com tanques nas ruas, e até ter devolvido os militares aos quartéis para sempre, as imagens dos tanques no aeroporto de Atatürk de Istambul e nas pontes sobre o Bósforo golpeiam como uma maldição bíblica um país-membro da OTAN e candidato a se integrar à União Europeia.

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Desde o levante de 1980, o mais sangrento dos três motins que a Turquia viveu em menos de duas décadas, os generais tinham se limitado a marcar o passo dos políticos com simples ordens, batendo com o punho na mesa, como aconteceu para forçar a destituição em 1997 de Necmettin Erbakan, o primeiro chefe de Governo muçulmano na história da Turquia moderna, ou com um simples anúncio no site do Estado-Maior das Forças Armadas, dez anos mais tarde.

Mas o chamado golpe eletrônico ou e-golpe de 2007 colidiu na época com a firmeza do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP na sigla em turco), a formação política neoislâmica fundada por Recep Tayyip Erdogan que conquistou quatro mandatos com maioria absoluta nas urnas desde 2002. O contundente peso dos votos e a formidável força política do AKP rejeitou a tentativa antes e devolveu aos governantes civis a autonomia que tinham apenas na aparência desde a fundação da República, em 1923, após o colapso do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.

O Governo do AKP, apoiado por setores islâmicos infiltrados na polícia e na Justiça, acabou levando aos tribunais dezenas de generais e almirantes, além de centenas de oficiais em vários macroprocessos contra as tramas golpistas e retrógradas dentro do Exército. Exatamente quando Erdogan se livrou da tutela da bota militar e aquartelou os comandantes militares propensos a intervir na política, o líder turco revelou sua autêntica agenda escondida, que não era a imposição da sharia, como temiam os setores leigos da sociedade — é mais um conservadorismo religioso o modelo que finalmente apareceu —, mas um regime autoritário que despreza as minorias, os dissidentes ou os descontentes para esmagá-los com a hegemonia nas urnas.

Quando estas linhas estão sendo escritas ainda há dúvidas se os tanques que tomaram as ruas terminarão retornando às suas bases, como teve que ordenar finalmente o general Jaime Milans del Bosch em Valência depois do fracassado golpe na Espanha em 23 de fevereiro de 1981 ou continuarão mantendo seus canhões apontados de forma permanente e com consequências imprevisíveis para um grande país em crescimento, que evoluiu muito e progrediu nas últimas décadas em busca da modernidade e de completar seu caminho até a meta de ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente.

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