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Sete são indiciados por envolvimento em estupro coletivo de jovem no Rio

Entre os suspeitos está o chefe do tráfico da favela onde o crime aconteceu e um menor de idade

Menor que foi vítima de estupro coletivo deixa o Hospital Souza Aguiar, acompanhada da mãe.
Menor que foi vítima de estupro coletivo deixa o Hospital Souza Aguiar, acompanhada da mãe. Gabriel de Paiva (Ag. O Globo)
María Martín

Após quase um mês de investigações e perícias, o inquérito que apura o estupro coletivo sofrido por uma adolescente de 16 anos em uma comunidade do Rio e que foi divulgado depois nas redes sociais foi concluído. Os investigadores da Polícia Civil vão denunciar ao Ministério Público sete suspeitos, cinco serão acusados pelo estupro da menina, além da produção de material pornográfico feita por três deles, enquanto os outros dois serão acusados apenas pela divulgação dos vídeos do abuso sexual. O inquérito conclui que quatro dos acusados estavam na casa no momento do abuso, afasta a hipótese de que o crime tenha sido cometido por trinta de homens, mas não descarta o envolvimento de outras pessoas na ação, que continuará a ser investigada.

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Entre os indiciados está Raí de Souza, de 22 anos, que manteve relações sexuais consentidas com a vítima na madrugada do crime e que está preso desde o 30 de maio. Ele, que em seu primeiro depoimento à polícia se apresentou sorrindo ante as câmaras e negou ter participado do crime, vai responder por estupro de vulnerável, mas também pela produção e transmissão de cenas pornográficas da adolescente. Os crimes estão castigados com penas máximas de 15, 8 e 6 anos de prisão, respectivamente. O celular do Raí foi, de fato, a principal fonte de investigação e onde foram achados os vídeos e as mensagens trocadas com outros envolvidos para combinar seus depoimentos. “A apreensão do celular foi muito importante, até para delimitar as personalidades de cada um [dos envolvidos]”, disse a delegada do caso Cristiana Bento.

Outro dos indiciados que responderá também pelos crimes de estupro e produção das imagens é o cinegrafista Rafael Belo, de 41 anos. O rosto de Belo, que também está preso, aparece em uma das fotos tomadas junto a vítima desacordada e aparece num dos vídeos introduzindo objetos na vagina da menor.

Com o encerramento do inquérito foi pedida a prisão preventiva para mais cinco homens que estariam foragidos: o traficante Moisés Camilo Lucena, o Canário, identificado pela vítima como um dos homens que a segurou durante a violação, e o chefe do tráfico da comunidade onde o crime aconteceu, Sergio Luiz da Dilva, o Da Russa. Não há provas de que o Da Russa tenha participado do estupro, mas será indiciado pelo crime de estupro por ele ter conhecimento do que estava acontecendo, pois o quartel-general do tráfico fica do lado do lugar conhecido como abatedouro, onde a menina foi estuprada.

Outros dois jovens, Michel Brasil e Marcelo Miranda, de 20 e 18 anos, não responderão pelo estupro de vulnerável, mas sim por serem os primeiros em divulgar as imagens. Por último, a polícia procura um menor, o Perninha, também envolvido no tráfico de drogas e que responderá, como menor, aos crimes de estupro de vulnerável, produção e transmissão das cenas pornográficas da adolescentes.

No começo do inquérito, o jovem foi identificado por Raí de Souza como o Jefinho, mas as conversas contidas no seu celular, que ele escondeu em casa de um amigo, demonstraram que tanto Rafa como Raí combinaram seus depoimentos para proteger o menor. O jogador de futebol e ex-namorado da vítima que chegou a ser preso, Lucas Perdomo, foi excluído da denúncia pois não foi demonstrada sua participação.

Os problemas dos indiciados não terminam aqui. Parte dos resultados da investigação desse caso passaram à Delegacia de Combate às Drogas, onde serão investigados os indícios que relacionam a grande parte dos acusados com o tráfico.

Comoção e controvérsias

A delegada assumiu o inquérito no dia 29, após o afastamento do colega Alessandro Thiers, da divisão de crimes informáticos, que questionou a existência do estupro e foi acusado pela então advogada da adolescente de constrangê-la em depoimento. Nesta sexta, Bento reafirmou que o crime, que provocou forte comoção e marchas de mulheres em várias cidades, passará à história porque fez pensar a sociedade “sobre o conceito e a cultura de estupro” no Brasil, que busca “culpar a vítima o despenalizar o agressor”. A delegada disse acreditar que os indícios colhidos por ela são suficientes para conseguir a condenação dos suspeitos. "Espero que esse caso tenha uma punição exemplar. Esse caso serve como alerta para toda a comunidade. A mulher não é uma coisa, tem que ser respeitada e praticar sexo com adolescente desacordada, que não pode oferecer resistência é crime. Eles não têm consciência de que houve um estupro ali", disse a delegada.

Cronologia do caso

21 de maio: De madrugada, a vítima de 16 vai com uma amiga num baile funk na comunidade do Barão, na zona Oeste do Rio. Ali se encontra com Raí e Lucas. A adolescente manteve relações sexuais consentidas com Raí em uma casa abandonada da comunidade, enquanto sua amiga ficava com Lucas. Por volta das 10h da manhã, Lucas, Raí e a amiga abandonam a casa deixando a adolescente no local. Encontrada pelo traficante Moisés Camilo de Lucena, o Canário, foi levada para o local conhecido como abatedouro, onde aconteceu o estupro.

22 de maio: À noite, Raí aparece no abatedouro e, acompanhado de Rafael Belo, o Perninha e o Canário, abusam da jovem e a gravam desacordada. A vítima declarou que o dois homens a seguravam enquanto outros dois a estupraram.

24-25 de maio. Os vídeos começam a se espalhar e chegam à família da jovem.

26 de maio. A adolescente presta seu primeiro depoimento ao delegado Alexandre Thiers, que acabou sendo afastado do caso no dia 29 de maio por constranger à vítima com questionamentos sobre as preferencias sexuais da jovem. O novo destino de Thiers, que está de férias, ainda não foi definido.

27 de maio: A jovem presta mais depoimentos e Lucas Perdomo e Raí se apresentam na delegacia.

30 de maio: A Polícia Civil monta uma operação para prender seis envolvidos no crime. Raí e Lucas, que foi liberado das depois por falta de provas, sao detidos. O resto estão foragidos.

31 de maio: A vítima entra no programa de proteção a testemunhas e abandona o Estado, sob outra identidade, com a família.

1 de junho: Rafael Belo é preso após se apresentar na delegacia. O inquérito continua com ordens de busca e apreensão e perícias no lugar do crime e nos materiais apreendidos.

17 de junho: O inquérito conclui com a participação de cinco pessoas no estupro e acusação de mais dois jovens por divulgar às imagens.

A pergunta que Bento mais ouviu nesses dias foi se realmente foram 33 os agressores da adolescente - como deram a entender as primeiras postagens do vídeo nas redes sociais e como a vítima afirmou no seu primeiro depoimento. Bento afirmou que esse número é pouco provável e explicou que a adolescente, que mudou de Estado sob a proteção do programa de testemunhas, pode ter tido uma falsa memória devido ao trauma. O caso, como lembrou a delegada, não é único no Rio, que registra um estupro a cada duas horas. Antes de assumir a investigação que chocou o Brasil, Bento acabava de concluir um caso parecido que correu sem holofotes: uma menina de 13 anos estuprada por quatro milicianos.

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