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O Google é racista?

Um jovem mostra as diferenças ao fazer buscas por “três adolescentes negros” e “três adolescentes brancos”

O diferente resultado das buscas em Google.
O diferente resultado das buscas em Google.

Seus amigos já haviam contado, mas ele queria comprovar por si mesmo. Gravando com o celular, Kabir Alli experimentou buscar no Google as palavras “three black teenagers” (três adolescentes negros). O menino publicou o vídeo com o resultado no Twitter e, 68.000 compartilhamentos depois, a rede se pergunta: o Google é racista? Por que preponderam as imagens usadas nas fichas policiais de jovens afro-americanos? Por que ao procurar por “três adolescentes brancos” aparecem jovens sorridentes, aproveitando seu tempo livre?

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A polêmica não é nova – o que talvez seja é o claro contraste desses resultados, com os quais esse colegial da Virgínia conseguiu questionar a responsabilidade do Google na criação dos seus algoritmos. Em nota enviada à edição britânica do site Huffington Post, a companhia respondeu que “isso significa que, às vezes, interpretações desagradáveis sobre um assunto delicado podem ter um impacto nos resultados de buscas na rede”, os quais “não refletem as opiniões nem os valores” do Google. “Acreditamos firmemente na diversidade de perspectivas, culturas e ideias”, acrescenta a nota.

Mas usuários e especialistas há muito tempo se perguntam se, com esse tipo de resposta, a empresa não está apenas tirando o corpo fora. Afinal de contas, por trás dos algoritmos há engenheiros, matemáticos, pessoas. “Mesmo que não tenham sido concebidos com a intenção de discriminar grupos de pessoas, se eles reproduzem as preferências sociais de uma maneira completamente racional também estão reproduzindo formas de discriminação”, declarou David Oppenheimer, professor da Universidade da Califórnia, ao jornal The New York Times no ano passado.

Um blogueiro britânico, autor deste vídeo intitulado "O Google é Racista?", sugere que os internautas publiquem, compartilhem e busquem narrativas positivas de adolescentes afro-americanos. “Se houvesse mais histórias de afro-americanos que têm sucesso ou simplesmente positivas, estariam entre os primeiros resultados de busca”, propõe Antoine Speaks.

O caso é similar às polêmicas que surgiram depois das mortes de Trayvon Martin e Michael Brown por disparos de policiais, o que acendeu a chama do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), contra a violência policial. Pouco depois de ficarem sabendo a morte desses jovens, dezenas de usuários perguntaram nas redes por que os meios de comunicação escolhiam imagens diferentes das vítimas quando estas são afro-americanas. Assim surgiu a iniciativa de compartilhar fotos de Brown, por exemplo, vestido para o dia da sua formatura. O objetivo era que essas imagens fossem vistas e compartilhadas com maior frequência, o que seria uma forma de influenciar os resultados das buscas subsequentes.

O Google não foi o único questionado. No mês passado, o Facebook prestou explicações a vários políticos republicanos depois de ser acusado de “esconder” notícias relacionadas ao partido no mural dos usuários. A companhia anunciou posteriormente que deixaria de confiar numa lista de mais de mil publicações que servem para criar o seu índice de Trending Topics e que aperfeiçoaria o seu algoritmo. Já nesta semana, depois da polêmica suscitada pela pena leve imposta a um aluno do Stanford acusado de estupro, numerosos usuários também se perguntaram se a imprensa teria escolhido a mesma foto se o rapaz fosse negro.

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