Lula e Marina Silva, novamente juntos
No meio do furacão político, os dois se destacam como candidatos favoritos às eleições de 2018
No meio do furacão político que atinge o Brasil, Lula da Silva e Marina Silva voltam a aparecer juntos, desta vez como os dois candidatos favoritos às eleições presidenciais.
O ex-presidente Lula e sua ex-ministra Marina conviveram durante 30 anos no Partido dos Trabalhadores (PT). Ela, ecologista, de origem pobre como aquele com o qual compartilha o sobrenome Silva, era chamada de “Lula de saias”.
Em seu primeiro governo, o ex-sindicalista surpreendeu com dois nomes reconhecidos mundialmente para compor sua equipe: a defensora da Amazônia, Marina, nomeada ministra do Meio Ambiente, e o gênio musical Gilberto Gil, na pasta da Cultura.
O divórcio entre Lula e Marina aconteceu em 2008, quando ela abandonou o governo ao ver seus projetos de defesa do meio ambiente boicotados. Lula comentou na ocasião: “Perdi uma grande ministra”.
Um ano depois, em 2009, Marina abandonaria também o PT para começar a sua própria viagem política.
Hoje, o destino volta a uni-los. Segundo a última pesquisa Datafolha do jornal Folha de S.Paulo, os dois Silvas estariam empatados nas eleições presidenciais de 2018 como os candidatos mais votados, derrotando os demais, começando pelo tucano Aécio Neves, que perdeu para a presidenta Dilma Rousseff no último pleito.
Lula sempre manifestou respeito pela intransigente Marina. Quando escolheu um candidato para substituí-lo, contam as crônicas que o então presidente pensou em uma mulher e ficou em dúvida entre Rousseff e Marina Silva.
As más línguas contam também que Lula preferiu Rousseff porque a considerava uma boa gestora e pouco política, que não se apegaria ao cargo, e ele poderia voltar à presidência em 2014. Não foi assim que aconteceu, e desde então, as relações entre criador e criatura não foram as ideais. Hoje, Lula sussurra que foi a “maior vítima de Dilma”.
Teremos um duelo entre Lula e Marina Silva nas urnas? É cedo para dizer. No Brasil, neste momento, tudo pode mudar em uma hora. Lula precisa libertar-se das acusações e pesadelos que pesam sobre ele no caso Petrobras, e ainda não sabemos se ele poderá voltar a ser ministro.
Marina Silva segue sendo um mistério. Criticada por gregos e troianos, pouco mimada pela imprensa, aplaudida mais fora do Brasil do que dentro dele pelo seu compromisso com a defesa da Terra, ela é temida politicamente pela sua intransigência com a velha política e contra a corrupção. E pela sua dificuldade em fazer concessões, que são a alma da democracia.
E, no entanto, pesquisa após pesquisa, segue à frente nas intenções de voto, desta vez lado a lado com Lula, embora com índices muito menores de rejeição do que ele.
Ambos, Lula e Marina, os Silva, com todas suas luzes e sombras, continuam sendo dois personagens cujo futuro é difícil de profetizar. Não poderiam ser mais diferentes, e ao mesmo tempo, há algo que os continua unindo. Lula luta para que o seu partido, o PT, não desmorone com o tsunami da corrupção que o golpeia e que levou vários dos seus líderes à prisão. Chegou a dizer que o partido precisa ser refundado para voltar as suas origens. E Marina Silva sonha, dizem, com recolher na Rede os órfãos e decepcionados com o partido em que militou durante 30 anos e do qual mantém o seu DNA original.
Sempre se disse que Lula não existiria sem o PT e que o PT desapareceria sem Lula.
O possível duelo Lula-Marina Silva, se confirmado na hora das urnas, poderia ser o maior teste para o partido que já foi a maior formação política de esquerda moderada na América Latina e que hoje vive sua maior crise de identidade.
Profecia por profecia, nesses momentos de areias movediças e de surpresas a cada esquina, tudo pode acontecer, até a melhor e a pior das surpresas.
Que vença a melhor para o bem da sociedade, principalmente para os que um dia habitaram a pobreza e ressuscitaram na classe média, e que hoje, como afirmou o cineasta José Padilha, autor do famoso filme Tropa de Elite, em sua entrevista ao jornal O Globo, estão “vivendo em um país que está devolvendo à pobreza os brasileiros que haviam saído dela”.
É essa a crise social que desponta e que assusta Marcelo Neri, economista e especialista da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro de Rousseff, que em sua entrevista a este diário para minha colega Maria Martín, confidenciou que em 2014 ocorreu a “maior queda de desigualdade social em 10 anos”.
Alguém precisará interromper, e sem esperar muita coisa, essa perigosa e dolorosa queda que pode criar frustrações e até violência neste país que apostou muita esperança em exorcizar a miséria e suas velhas desigualdades sociais.
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