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Chris Rock ri de todos e pede “mais oportunidades” para atores negros

Apresentador do Oscar ataca a Academia por seu racismo e critica o grupo que propôs boicote

Chris Rock, apresentador do Oscar, durante a cerimônia.Foto: reuters_live
Tommaso Koch
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A plateia não conseguia acreditar. Tanto que deixou escapar dois “oooooh” em apenas cinco minutos — ou seja, um bom indício do impacto do monólogo de Chris Rock na cerimônia do Oscar. “É injusto que Will Smith não esteja indicado, mas também é injusto que tenha recebido 20 milhões de dólares por As Loucas Aventuras de James West”, disparou o apresentador, para assombro do público. E, pouco depois: “Este Oscar vai ser diferente. No in memoriam só vão ter negros assassinados a tiros pela polícia”. Primeira fala, e já não havia mais dúvidas. O anfitrião iria, sim, falar do racismo do Oscar. E diria tudo sem papas na língua.

O comediante, que voltava a uma cerimônia que já apresentou em 2005, distribuiu farpas contra as duas frentes: por um lado, atacou a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e o setor como um todo, responsabilizando-os por ignorar os atores negros em suas indicações ao Oscar e em seus filmes. Por outro lado, não poupou o grupo liderado por Spike Lee, Jada Pinkett Smith e Will Smith, que decidiu boicotar a cerimônia: “Jada disse que não viria. É como se eu dissesse que não usarei as calcinhas da Rihanna. Ninguém me convidou!”.

Basicamente, todo o monólogo inicial do apresentador se centrou na falta de inclusão. “Se quiserem os negros todos os anos, poderiam criar categorias sob medida: por exemplo, melhor amigo negro”, disse ele, numa das várias piadas. Entre tantas risadas, Rock arrancou um aplauso, quando esclareceu a chave de toda esta polêmica: “Não se trata de boicotar: queremos oportunidades. Queremos as mesmas oportunidades que os atores brancos. Nada mais”.

Rock respondeu assim a todos os que insistiram para que não apresentasse a cerimônia e se somasse à luta de outros astros afro-americanos. O apresentador relembrou que, afinal de contas, nos anos sessenta e setenta os negros tampouco eram indicados ao Oscar. Só que, naquela época, estes tinham “coisas mais importantes” contra as quais protestar. “Se nos linchavam, que importância tinha para nós quem ganhava o Oscar de melhor diretor de fotografia?”

Chirs Rock nos Oscar.Foto: reuters_live | Vídeo: KEVIN WINTER / QUALITY

O fato é que, durante o século XX, 95% das indicações em categorias de interpretação foram para atores e atrizes brancos. E em 6 dos últimos 20 anos nenhum ator ou atriz negro disputou o Oscar. Além disso, o apresentador dedicou boa parte da sua carreira e de seus agudos monólogos ao racismo na indústria do cinema. Claro que não perderia a chance na noite mais importante do setor.

Chris Rock enfatizou tanto a polêmica racial, que houve na Internet quem o criticasse por ser monotemático e deixar o cinema de lado. Até mesmo algumas paródias em vídeo riam da ausência de atores negros nos filmes indicados, enquanto Rock anunciava que, para entregar o primeiro prêmio, entrariam “Emily Blunt e alguém ainda mais branca: Charlize Theron”. O produtor da cerimônia, Reginald Hudlin, já havia avisado que Rock estava se dedicando a modificar completamente o roteiro da cerimônia – o que, inevitavelmente, o levou a reduzir o espaço das brincadeiras ácidas sobre seus colegas, que caracterizaram a cerimônia que ele apresentou em 2005. Mas ainda assim ele perguntou quem era Jude Law, a quem descreveu como “um Tom Cruise de baixo custo”, e insinuou que Nicole Kidman merecia um Emmy pelo sorriso falso com que recebeu sua derrota. O que o cômico repetiu com relação à festa foi o resultado da pesquisa entre os espectadores nas ruas, com resultado idêntico: ninguém viu os filmes favoritos ao Oscar.

No fundo, o próprio Rock viveu na pele desde criança os efeitos do racismo nos EUA. Seus pais (uma professora e um caminhoneiro) preferiram mandá-lo para um colégio longe do seu bairro marginal, o que fez com que ele passasse a vida entre colegas de classe brancos. O pequeno Chris sofreu um assédio que acabou contando na comédia televisiva Everybody Hates Chris. Uma obra tão autobiográfica como No Auge da Fama, recente tentativa de Rock de fazer um filme “mais honesto e sincero”, seguindo os passos do seu admirado Woody Allen. O filme, de 2014, contava a história do próprio comediante.

Rock está na profissão desde 1985, quando estreou em um pequeno palco de Nova York. Dois anos depois, passou para o cinema, também graças ao seu amigo e mentor Eddie Murphy, e acumulou filmes como Um Tira da Pesada 2, Vou Te Pegar, Otário e Máquina Mortífera 4, nenhum deles especialmente memorável. Bastante melhor foi na televisão, onde o Saturday Night Live serviu como trampolim para levá-lo a bem-sucedidos programas solo, sobretudo na HBO: Big Ases Jokes, Bring the Pain e Bigger and Blacker.

Chris Rock, o garoto que começou trabalhando numa rede de fast food e ganhando salário mínimo se tornava, segundo a Entertainment Weekly, “o homem mais engraçado da América do Norte”. A partir desta noite, muita gente deve estar de acordo. Mas não tanto Will e Jada Smith, sem dúvida.

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