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O otimismo do Piauí em meio à crise

Governador Wellington Dias fala das apostas para o crescimento apesar da recessão Petista defende necessidade de renovação do PT e admite temor com ajuste fiscal

Wellington Dias, governador do Piauí.
Wellington Dias, governador do Piauí. Fernando Frazão

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), 53 anos, não abandona o discurso otimista mesmo diante das previsões para a economia do Brasil neste ano. Ele, que comanda o Estado pelo terceiro mandato não consecutivo, prometeu que dobraria o PIB piauiense em uma década, elevando-o a 66 bilhões de reais até 2024. A promessa não parecia ilusória, já que o Piauí e o Nordeste crescem a taxas superiores à média nacional há anos. Entretanto, 2015 não trouxe boas notícias nem ao setor econômico nem ao político —ele é um dos principais aliados no Nordeste da presidenta Dilma Rousseff, agora ameaçada de sofrer um impeachment. Mas o governador, que participa nesta quinta-feira de um fórum promovido pelo EL PAÍS sobre investimento no Nordeste brasileiro em Madri (Espanha), aposta em alguns pontos-chaves para tentar evitar que seus planos derretam em meio a esse cenário: a parceira com os vizinhos Maranhão, Tocantins e Bahia —que com o Piauí compõem o bloco Matopiba—, a produção de energia eólica e os investimentos em mineração.

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“É possível sim manter a meta. Agora, para que o crescimento tenha uma velocidade maior, eu creio que é necessário que o Brasil também tenha êxito. Eu não posso ter a ilusão de que o Piauí é uma ilha dentro do país, mas estamos trabalhando para isso”, afirmou, em entrevista concedida por telefone ao EL PAÍS Brasil, no final da novembro. "Mesmo num ano complexo como 2015, o Piauí vai fechar com saldo positivo de emprego e no crescimento. Por isso que eu batalho e cobro mudanças na política econômica, como redução dos juros, enfim, exatamente para que a gente não fique contaminado pelo que acontece na economia nacional", completou.

O potencial de investimentos do bloco regional foi uma bandeira de Dilma durante a campanha pela reeleição em 2014, agora defendida pelos governadores, que tentam atrair parceiras com a iniciativa privada. “A presidenta resolveu trabalhar de forma especial essa região porque é a que tem a maior capacidade de crescimento do Brasil”, disse. Uma das justificativas para a aposta do potencial econômico do Matopiba é a energia eólica: ao lado do Rio Grande do Norte (maior produtor do país) e do Ceará, a Bahia e o Piauí estão entre os cinco maiores geradores de energia do país. “Nós temos condições de ter o equivalente a 20 gigawatts de geração de energia nos próximos anos”, destacou o governador, citando a vocação natural do Nordeste para a produção. Fora do Nordeste, apenas o Rio Grande do Sul integra o ranking dos cinco geradores desse tipo de energia.

Nós precisamos de uma reforma do próprio Partido dos Trabalhadores

A propaganda do potencial eólico do Piauí já deu frutos. Em outubro, o grupo Votorantim anunciou a entrada no mercado de energia limpa, com a construção, a partir de 2016, de sete parques eólicos no Estado, num investimento de 1,13 bilhão de reais. A maior parte do dinheiro injetado será usado na aquisição de 98 aerogeradores (peças que compõem o catavento) fabricados pela espanhola Gamesa, sendo que a meta é que a produção comece em 2018. Atualmente, a energia eólica representa 5,8% da matriz elétrica do Brasil, mas somente de janeiro a outubro deste ano a produção no Nordeste aumentou 125% (na comparação com o mesmo período do ano passado), de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema.

Wellington Dias também aposta na produção agrícola, sobretudo o plantio de soja, na mineração (o Estado tem duas reservas de ferro), no setor de habitação e no comércio para dobrar a renda do Estado e gerar os empregos prometidos. Mas além de atrair mais investimentos do setor privado, o plano do político depende da conclusão de obras importantes de logística e infraestrutura. O Piauí é o único Estado do Nordeste a não ter um porto marítimo —a construção do porto de Luís Correia, que tem investimentos superiores a 300 milhões de reais, se arrasta há quase 40 anos. A conclusão da ferrovia Transnordestina é outro impasse: prevista para ser concluída em 2010, a obra que beneficiará 81 municípios da região (sendo 19 do Piauí) só deve (nas previsões otimistas) ser entregue em 2016. Outro setor que acompanha com apreensão os desdobramentos da crise política e econômica é o da habitação. Em setembro, num encontro com Dilma, empresários piauienses pediram ao Governo que não aumente impostos e retome os investimentos no programa Minha Casa, Minha Vida, atualmente estagnado.

A propaganda do potencial eólico do Piauí já deu frutos. Em outubro, a Votorantim anunciou a construção de sete parques eólicos no Estado

"É necessário que a gente encontre saídas rápidas para o equilíbrio das contas públicas e para o crescimento econômico. Eu defendendo que a gente use as reservas cambiais como fundo garantidor para captação de recursos externos para que a gente possa investir. Ela é uma poupança brasileira importantíssima. Se dos 376 bilhões de dólares agente tiver em torno de 70 num fundo soberano, a longo prazo é possível no exterior ter um resultado de grande impacto na melhoria das condições da economia", avaliou o governador.

Renovação do PT

Petista há exatos 30 anos, Wellington Dias assinou, no início de dezembro, uma carta conjunta com outros sete dos nove governadores da região repudiando a abertura do processo de impeachment, que eles classificaram como "absurda tentativa de jogar a nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional". "Quem quiser governar o Brasil tem que ser pela vontade do povo. Essa é a essência da democracia", reiterou o governador piauiense, ao EL PAÍS.

Mas apesar de engrossar o coro pró-Governo no Nordeste (tradicional reduto petista), Dias evita o tom vitimista adotado por grande parte do PT, que atribui a crise à uma espécie de perseguição ideológica ao partido. Embora enalteça o código de ética do partido e defenda a condenação dos envolvidos em escândalos de corrupção, como a revelada pela operação Lava Jato, o governador admite que a legenda fundada pelo ex-presidente Lula precisa se "repensar".
Sem abandonar a defesa de Dilma, Dias abraça o discurso de boa parte da esquerda de que o PT precisa se voltar ao povo. Essa é, aliás, uma das maiores críticas dos movimentos sociais ao Governo federal, o que justifica o temor de que a presidenta não conte nas ruas com o apoio que espera para se manter no Planalto.
"Eu acredito que o bombardeiro é muito grande, mas nós precisamos também repensar. Vejo a necessidade de uma atualizada nas nossas bandeiras, porque o Brasil mudou e precisamos nos atualizar. Por exemplo, se somos contra o financiamento de pessoas jurídicas, precisamos ser coerentes, encontrar mecanismos de financiamento que evitem riscos para os eleitos. Se de um lado a gente precisa de uma reforma política, nós precisamos de uma reforma do próprio Partido dos Trabalhadores."

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