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Mesmo irritado com ‘fogo amigo’ de Lula, Levy decide ficar na Fazenda

Foi um dia de rumores sobre a saída do ministro que fez reunião extraordinária com Dilma

Levy em evento do FMI no dia 8, em Lima.
Levy em evento do FMI no dia 8, em Lima.Guillermo Gutierrez (Bloomberg)

A artilharia contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, só aumenta. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu publicamente um afrouxamento do ajuste fiscal planejado por ele e a interlocutores diz diz que seu tempo no cargo está perto do fim. A Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, também reclama do titular da pasta. E a CUT, a central sindical vinculada à legenda da presidenta Dilma Rousseff, diz que ele é uma das razões da crise econômica enfrentada pelo Brasil.

Diante de tantas críticas, os rumores sobre sua saída do cargo cresceram mais uma vez nesta sexta-feira. Uma inesperada reunião da equipe econômica do Governo durante a tarde, poucas horas antes de uma viagem internacional de Rousseff, só botaram mais lenha na fogueira.

Ainda não foi dessa vez.  No fim do dia, a assessoria de imprensa da Fazenda informou que ele se manteria no cargo. Bastou o rumor para fazer com que a bolsa de valores tivesse ganhos inferiores ao esperado durante o dia – subiu só 0,16% – e o dólar voltasse a registrar uma alta de 1,92%, atingindo os R$ 3,87.

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No encontro com a presidenta, do qual participaram os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento), Levy se demonstrou insatisfeito com o “fogo amigo”, mas não tratou de sua saída do cargo, conforme auxiliares do Palácio do Planalto. Os membros da equipe econômica discutiram as estratégias para aprovar novas medidas do ajuste fiscal, como a aprovação da nova CPMF (o imposto do cheque), a ampliação do Imposto sobre Produto Industrializado, e estudaram os termos apresentados pela agência de rating Fitch, que rebaixou a nota do país.

Alçado ao posto de ministro apenas no segundo Governo Rousseff, Levy não é um neófito entre os petistas. No primeiro Governo Lula (2003-2006), ele ocupou o cargo de secretário do Tesouro Nacional. Quando deixou o cargo seguiu a carreira na iniciativa privada e colaborou com o Governo do Rio de Janeiro. Ao retornar para a União, com o objetivo de botar a casa em ordem, foi visto como um “homem do mercado”.

Sem indicações partidárias, apenas técnicas, Levy não foi abraçado por todos os membros do Governo. Hoje seu principal aliado é o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. Os petistas são os que mais reclamam de suas tesouradas no Orçamento e de seu afã pela criação de novos tributos. Nas últimas reuniões que participou com políticos, entre elas uma na última semana na Câmara dos Deputados, o ministro reforçou que, sem novas fontes de receitas, o país dificilmente conseguirá tapar o déficit orçamentário de 60 bilhões de reais previsto para o ano de 2016.

Levy compra frequentes brigas com o seu colega do Planejamento, Barbosa. O titular da Fazenda foi contrário à proposta de enviar um orçamento deficitário para o Congresso Nacional. Perdeu a batalha. Só recuperou espaço no Governo depois que a Standard & Poor’s retirou o selo de bom pagador do país e apontou uma das razões a previsão de rombo nas contas públicas para o próximo ano.

Nos últimos dois meses, essa é a segunda vez que se especula que Levy deixaria o cargo por contas de pressões externas e brigas internas. Interlocutores do Governo relataram ao EL PAÍS que o compromisso de Levy com Rousseff seria até a aprovação do ajuste fiscal. O difícil é prever quando esse pacote deve ser aprovado, levando em conta que a relação entre o Governo petista e o Congresso Nacional passa por uma fase nada amistosa.

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