Quando o fotógrafo Dennis Stock se encontrou com James Dean
No 60º aniversário de morte do ator, um livro recupera seu encontro com o fotógrafo
Quando o fotógrafo Dennis Stock levou à revista Life as fotos de James Dean, uma material que havia realizado ao longo de vários meses sobre o ator, os editores ficaram espantados. As imagens de um obscuro personagem caminhando sob a chuva pela Times Square, carregando nos braços um porco na chácara familiar ou parado no cemitério ante a tumba de um de seus antepassados eram bastante estranhas – e sombrias – para uma reportagem protagonizada por um ainda desconhecido ator de Hollywood. Setenta anos depois, aquelas fotos compõem um dos grandes mitos do século XX, a construção de uma iconografia que se perpetuou graças à moda, à publicidade e à música pop.
O livro James Dean: Dennis Stock (Thames & Hudson) reúne o encontro gráfico entre um jovem fotógrafo que trabalha em Hollywood para a agência Magnum e o ator que havia estreado na telona com Vidas Amargas, sob a direção de Elia Kazan, e emendado com Juventude Transviada, dirigido por Nicholas Ray. É exatamente o bangalô de Ray no hotel Château Marmont que serve de primeiro contato entre Stock e Dean numa das festas organizadas pelo diretor. Entre os dois surgiu uma cumplicidade imediata. Ao longo do inverno boreal de 1954, fotógrafo e ator entabulam uma estreita amizade, uma relação afetiva e profissional, tendo a partir de então a câmera de Stock como testemunha. As fotos acabam revelando o futuro mito juvenil, enquanto a figura de Dean cristaliza o trabalho de Stock como retratista.
Stock segue James Dean pelas ruas de Nova York, por Hollywood e pela chácara familiar situada em Fairmount, no estado de Indiana, centro de gravidade do encontro. As fotos da reportagem para a Life capturam o ator com familiares e amigos, acompanhado de seu primo pequeno Markie, nas paisagens de sua infância e adolescência. Passaram-se sete anos desde que Dean abandonou Fairmount e o sucesso o espera na próxima esquina. Agora, de volta aos campos gelados de Indiana, o ator se despe: um strip-tease emocional em meio a suas origens e raízes familiares. Stock retém em sua câmera esse mal de viver que parece acompanhar o ator e que só encontra felicidade vivendo outros personagens que não sejam o seu.
No início de março de 1995, a Life publica a reportagem de Stock com algumas das fotos de James Dean enquanto ocorre a estreia de Vidas Amardas. O filme transforma o ator na nova estrela de Hollywood, na esteira de Montgomery Clift e Marlon Brando. Seis meses depois, e semanas antes do lançamento de Juventude Transviada, o ator bate seu Porsche Spyder numa estrada da Califórnia. A morte desencadeia uma onda de necrofilia, fixando o mito do eterno adolescente. A adolescência como classe biológica se afirma frente ao mundo adulto e, ao mesmo tempo, rebela-se impondo seus códigos de indumentária. O ícone Dean imortaliza a calça jeans e a jaqueta como os novos cânones da eterna juventude, prefigurando os futuros heróis do rock e seus cadáveres singulares.
A celebração do aniversário de morte do ator soma-se ao filme biográfico Life – que estreia em 27 de novembro – do realizador Anton Corbijn, que narra o encontro entre o ator e o fotografo Dennis Stock com a dupla de protagonistas Dane DeHaan (como Dean) e Robert Pattinson (Stock). O autor da festejada biografia do cantor de Joy Division, Control, revela a relação Stock-Dean a partir de uma intensa amizade marcada pela fugacidade e o desenlace, uma sessão fotográfica que acabará se transformando em lenda. Dennis Stock, morto em 2010, viajou à Tailândia depois da morte de Dean para entrar num mosteiro budista e ali permaneceu por mais de um ano. Com James Dean, terminava um capítulo de sua vida.
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