Ato marca sete dias da chacina de Osasco: “Nossos mortos têm voz!”
Rua onde oito das 18 vítimas do crime foram mortas foi fechada durante ato ecumênico
“Nossos mortos têm voz!”, bradou o padre Martim Islas para cerca de cem pessoas que enfrentavam a garoa fina na noite de quinta-feira no bairro Jardim Munhoz Júnior, em Osasco. O ato, convocado pelas redes sociais e no boca-a-boca, marcou os sete dias da chacina que deixou 18 pessoas mortas na região. O religioso leu um a um o nome das vítimas, ao que a multidão respondia em coro: “Presente!”. Faixas com pedidos de paz foram penduradas na rua Antônio Benedito Ferreira, onde oito moradores foram assassinados dentro do bar do Juvenal. O episódio foi o macabro pontapé inicial da noite mais sangrenta do ano. A via foi fechada pelos moradores para a realização da homenagem pacífica.
“A quebrada só quer paz, e mesmo assim é um sonho”, dizia uma das faixas, citando parte da letra da música Fim de Semana no Parque, do grupo de rap Racionais MC's. Velas foram acesas na porta do bar, que foi coberta com flores, e os postes da rua foram pichados com a palavra "Justiça". “Chega de fazer minuto de silêncio na periferia!”, disse Islas, que acusou o Estado de estar por trás das mortes.
Até o momento, a principal linha de investigação aponta para a participação de policiais militares e guardas civis metropolitanos na ação, que teria sido uma retaliação contra a morte de um PM e de um guarda na semana retrasada. A Corregedoria da corporação informou que irá ouvir 32 membros da tropa, e os investigadores apreenderam armas de GCMs – calibre 380 - que podem ter sido usadas nos crimes. O governador Geraldo Alckmin ofereceu recompensa de 50.000 reais para informações que levem à elucidação do crime.
Se por um lado o bairro vive um toque de recolher informal desde a chacina, com o comércio fechando mais cedo e as ruas desertas, na noite de quinta famílias inteiras com crianças e idosos foram participar do ato ecumênico. Além do padre, outro pároco, um pastor e um representante das religiões de matriz africana também discursaram durante a homenagem, que foi marcada pela ausência de políticos e representantes do poder público. “Prefeito filho da puta! Se tivesse sido um playboy que morreu ele estava lá!”, gritou a irmã de uma das vítimas.
Zilda Maria de Paula, 62, que perdeu o único filho na chacina, amassava nervosamente um maço de cigarro vazio nas mãos enquanto falava no equipamento de som montado na rua: “Daqui a duas semanas isso tudo já vai cair no esquecimento...”, afirmou, agradecendo a todos os presentes. “A policia está trabalhando, esperamos que justiça seja feita”, concluiu.
O ato seguiu caminhando em oração por uma das avenidas do bairro, escoltado por um carro do departamento de trânsito – durante as duas horas que durou o ato apenas uma viatura da polícia passou pela rua. No final da homenagem, o padre Tião pediu que Deus “não deixe esmorecer o coração do governador, do secretario e do chefe de polícia” na busca por justiça.
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