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Morata frustra a ‘final das finais’ e leva a Juventus a Berlim

O garoto da Fábrica, herói da Juventus, frustrou o duelo que sonhava o Madri com a fastuosa liturgia de um órdago com o Barça na grande cimeira de Berlim

José Sámano
Álvaro Morata marca o único gol da Juventus.
Álvaro Morata marca o único gol da Juventus.A. Ruesga

Morata, um garoto forjado na fábrica do Real Madrid, frustrou a final de todos os séculos, com a qual tantos sonhavam. Principalmente, os madridistas, que anteviam a extraordinária liturgia de uma decisão contra o Barça na grande cúpula de Berlim. O algoz foi a Juventus, que saiu das masmorras à qual foi condenada por velhas infâmias e voltou ao topo do futebol continental. Em Chamartín, provocou um desengano colossal depois de um bom primeiro tempo do time de Ancelotti, que após o intervalo deixou a Juve jogar e pagou por isso. Ao seu estilo, sem perder os detalhes de vista, atenta a qualquer faísca favorável, a Juve igualou o gol de Cristiano com outro de Morata, exilado há quase um ano do clube branco, e que foi o jogador desta semifinal. Numa uma partida com ar saariano, o Real, sem o foco do início, procurou um resultado épico com muito empenho e pouca clareza. Desta vez lhe faltou pegada. A garra não lhe bastou, e não terá como renovar o título. Aguarda-lhe um complicado fim de temporada, sem tronos, com tudo o que isso significa neste clube tão propenso às mudanças.

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Até que o choque causado pelo gol de Morata fizesse sua ansiedade disparar, O Real cumpriu os ditames de Ancelotti, que havia pedido concentração, intensidade e tranquilidade. Três variantes necessárias para administrar a partida. Foi uma ameaça, com seus 13 arremates no primeiro ato (22 ao final, contra 6 do adversário). Em determinado momento, avançava tanto como o time de Turim, mas sem provocar estragos na defesa. Desta vez, o espírito corporativo, mosqueteiro, não mereceu reparos, de Bale ao último companheiro. O Real soube desde o início da urgência que havia no meio campo, já que lá a Juve, com cinco e até seis jogadores quando Tévez se soltava, queria administrar o duelo e levantar um dique, porque esta Juve nada tem a ver com a longa tradição de pacatas equipes italianas. Ao menos não foi até o capítulo final, quando se enfiou embaixo das traves de Buffon. Um Forte Apache total. Para sua desgraça, o Real só respondeu por via aérea, de chutão em chutão.

A Juve havia começado equilibrando a partida, embora tenha pagado pela pouca inspiração de Pirlo, sem a geometria que o distingue. Parece que está com a chuteira um pouco espanada. Tampouco Pogba, em pleno reaparecimento, foi aquele jogador expansivo que costuma ser, apesar de ter resistido com galhardia quase até o apito final e ganhado a bola decisiva da noite, a que resultou no gol de Morata. Até o dardo do ex-madridista, apesar do equilíbrio entre os rivais, os ataques marcavam a diferença. Comparado com o Real, o da Juve é de festim. Até o intervalo, Casillas, com seu nome gripado desde o início pela torcida, só precisou intervir em um disparo longínquo de Vidal. Na outra direção, os atletas de Ancelotti fechavam cada ofensiva, com Carvajal e Marcelo como ventiladores pelos flancos e Benzema, esse aríete com patins, para engripar com sua classe os zagueiros italianos. Em mais de uma hora na qual esteve em campo, deu uma aula de futebol, do bom e do melhor. Bale insista, Cristiano insistia, claro. Todo um batalhão contra uma mosca. De bicada em bicada.

Madri, 1-Juventus, 1

Real Madrid: Casillas; Carvajal, Varane, Sergio Ramos, Marcelo; Kroos, James, Isco; Bale, Benzema (Chicharito, min. 66) e Cristiano Ronaldo. Não utilizados: Navas, Illarra, Pepe, Coentrão, Arbeloa, Jesé.

Juventus: Buffon; Lichtsteiner, Bonucci, Chiellini, Evra; Pirlo (Barzagli, min. 78), Marchisio, Pogba (Pereyra, min. 88), Vidal; Morata (Llorente, min. 83) e Tévez. Não utilizados: Storari, Kingsley Coman, Padoin, Sturaro.

Gols: 1 x 0, min. 22, Cristiano (pênalti); 1 x 1, min 56, Morata.

Árbitro: Jonas Eriksson. Advertiu Isco e James, do Real, e Tévez e Lichtsteiner, da Juventus.

81.000 pessoas no Santiago Bernabéu.

Tudo no Real era mais do que notável, e inclusive conseguiu limpar o seu adversário no eixo do campo, onde Kroos, Isco e James, com auxílios variados, assumiram as tarefas depois dos 15 minutos. Chegaram então as primeiras sacudidas em cadeia do conjunto local. A esquadra italiana abriu suas velas. Benzema e CR já haviam deixado o gol escapar. E Bale, que mirou com a canhota em Buffon a partir do infinito. Respondeu o já legendário arqueiro juventino, que teve trabalho. Com a equipe italiana encapsulada, James invadiu a área e, sem maior emergência, Chiellini, que não é propriamente um aprendiz, derrubou o colombiano com um golpe na panturrilha da perna direita. O primeiro flash não delatava pênalti algum. A câmara lenta, sim, foi taxativa. Bingo arbitral. Cristiano não se apequenou, apesar do seu destempero do passado domingo diante de Diego Alves. CR, e como não, Benzema, baixaram a persiana do primeiro período novamente flertando com o gol.

Nunca se decompôs do todo a Juve, que esperou seu momento. Não perdeu o jeito de resistente, mas o Real lhe concedeu um lance depois do descanso, confiando no seu demolidor contragolpe. Perdeu a bola, errou passes e passes. Vida para a Juve. Nada acontecia nas áreas, até que, perto dos 15 minutos, Sergio Ramos cometeu uma falta desnecessária em Vidal, que estava estrangulado contra a linha lateral. Pirlo pôs a bola em movimento, Casillas colocou o punho e a bola chegou em Vidal, que a mandou de novo para a área. Então se viu o que é Pogba, que tem um chassi hercúleo. Qualquer um teria ido à lona em seu corpo a corpo com Ramos, mas o francês conquistou o round e sua deixada de cabeça foi alcançada por Morata. Um Morata que é outro Morata, graduado no futebol italiano a passos aumentados. Ele foi o grande flagelo branco nesta eliminatória. Voltas que dá a vida, que roda como o futebol.

Final inédita

Barcelona e Juventus jogarão em 6 de junho em Berlim uma final inédita na história da máxima competição continental. Será a oitava vez que o Barça disputa o título, com um total de quatro títulos. Para a Juve também será a oitava final, mas os rendimentos são menores: duas Copas da Europa.

A última vez que o conjunto italiano disputou o título foi em 2003, quando caiu ante o Milan de Ancelotti e Pirlo nos pênaltis. Para sua última conquista do cetro é preciso recuar a 1996, quando derrotou ao Ajax, também nos pênaltis. Seu primeiro troféu havia vindo em 1985, na final de infausta lembrança de Heysel (Bruxelas), contra o Liverpool, em que 39 pessoas morreram por uma avalanche provocada pelos hooligans.

O Real notou o golpe moral. Havia tempo, ao menos, para forçar a prorrogação. A situação exigia futebol. A equipe espanhola esqueceu-se, que tirou da alma, sem outro plano senão aquilo tudo que remete ao esforço. O de Chicharito, por exemplo, substituição de um esgotado Benzema. E o de Marcelo, um colosso por sua rota. Com muito ímpeto e pouca fluidez, o real enclausurou totalmente o rival, com uma frequência considerável de arremates desviados de Bale, que não ajustava seu repertório de cabeçadas. De Cristiano, improvisadamente, não havia migalhas do que fora no primeiro tempo.

Escondida a Juve, Marchisio, em uma aventura, esteve frente ao gol. Irrompeu pelo centro da área e seu duelo com Casillas foi vencido pelo madrilenho com uma magnífica defesa, uma ação que deu sobrevida ao seu time até o último suspiro. Pelo caminho, o Chamartín, elegante, concedeu honras a Pirlo, tão legendário como Casillas ou Xavi, para citar alguns. O relojoeiro juventino deu lugar ao sistema de cinco zagueiros com a entrada do Barzagli. Não houve remédio para o Real, vencido antes daquela que teria sido a final das finais. O Barça está lá, e a Juve voltou.

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