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(Tente) um encontro com Marina Abramović

Sesc Pompeia abre mostra da artista cujas performances são as mais famosas do mundo

Marina Rossi
Marina, na abertura da exposição, dia 9 de março.
Marina, na abertura da exposição, dia 9 de março.Eduardo Anizelli (Folhapress)

Se você é uma das quase 10 milhões de pessoas que assistiriam ao famoso vídeo de uma performance de Marina Abramović no Youtube, melhor baixar as expectativas. Na obra 'A artista está presente', Marina passou, ao todo, 736 horas sentada em uma cadeira mantendo apenas o contato visual com 1.675 desconhecidos, no MOMA, em Nova York. Em um dos encontros, a artista sérvia se depara com o ex-parceiro, na vida e na arte, Ulay. Surpreendida, Marina sai do script, se emociona e chora, espontaneamente. É tocante, mesmo aos mais avessos à arte moderna. 

O vídeo viralizou e a tornou ainda mais conhecida ao redor do mundo. Aqui no Brasil, os paulistanos terão agora a chance de conhecer melhor a obra da artista, já que, foi inaugurada nesta semana, no Sesc Pompeia, em São Paulo, uma exposição dela. Mas Marina Abramović não está presente. Ao menos não o tempo todo. Na realidade, são poucos os dias em que a maior artista da performance da atualidade estará em contato com o público. E será necessário um bocado de tempo e muita paciência para conseguir vê-la e participar de suas performances interativas. Para presenciar os encontros, que acontecerão mais sete vezes, sempre às 20h, é preciso retirar uma senha, que começa a ser distribuída no mesmo dia da performance, às 13h, na bilheteria do Sesc Pompeia. Na última vez que houve repartição de ingressos, na quarta-feira passada, as 700 entradas disponíveis acabaram em menos de uma hora e meia.

O esforço vale a pena para conhecer a “avó da performance”, como ela mesma se define. Filha de Danica e Vojin Abramović, combatentes comunistas da Resistência dos Guerrilheiros da antiga Iugoslávia, Marina foi criada com vigor pela mãe, que a levava para as exposições e galerias durante o fim da infância e início da adolescência. Seu nome, porém, foi escolhido em homenagem a uma guerrilheira russa por quem seu pai se apaixonara antes de conhecer sua mãe, e que morrera em batalha. De acordo com James Westcott, autor da biografia de Marina (Edições Sesc, 80 reais), lançada no mesmo dia em que a mostra foi aberta, 10 de março, esse foi um dos fatores responsáveis pela frieza com que a mãe de Marina a tratou ao longo de toda a vida.

A educação rígida e disciplinadora influenciou, posteriormente, o método de performance de Marina Abramović, ao levar seu próprio corpo a extremos e limites durante suas apresentações. Aos 68 anos, Marina carimba uma marca única em suas obras. Já deitou em uma estrela de cinco pontas em chamas até perder a consciência, e permaneceu passiva durante seis horas enquanto o público poderia fazer o que quisesse com ela. Do artista Ulay, com quem passou 12 anos de relacionamento e parceria em diversas obras, se despediu percorrendo a Grande Muralha da China, a partir de extremidades opostas, até que, 90 dias depois, encontraram-se no meio e despediram-se um do outro. O corpo e a vida de Abramović, que tem o tempo como elemento central de suas criações, são suas principais ferramentas de arte.

A concentração absoluta é um dos carimbos do chamado ‘método Abramović’. É difícil que o público possa sentir a força de sua trajetória artística em uma exposição. Mas aos que conseguirem retirar um ingresso, pode ser uma experiência única.

Quatro décadas com Marina

Batizada de Terra Comunal Marina Abramović + MAI (Marina Abramovic Institute), a mostra também expõe ao longo dos corredores projetados pela arquiteta Lina Bobardi (1914-1992) obras de quatro décadas de trabalhos de Marina, em três instalações. Para compensar a ausência da artista, há objetos, fotos, vídeos, textos e áudios de diversos trabalhos dela.

O título da exposição, Terra Comunal, é inspirado em experiências anteriores que Marina teve no Brasil. Na década de 80, fez uma pesquisa sobre objetos de poder, que a trouxe ao país para conhecer uma variedade de pedras, rochas e minerais, aos quais a artista atribuiu qualidades energéticas. Posteriormente, em 2012, Marina esteve novamente no Brasil para encontrar comunidades espirituais que ampliassem sua pesquisa. Uma das instalações no Sesc é dedicada a esse trabalho. Ali, é possível sentar-se em cadeiras feitas de pedras e cristais, e entrar em contato com outros minerais, em um convite para sentir a sua energia.

Há uma área com espreguiçadeiras onde o público pode se sentar e, com um fone de ouvido, escutar a descrição da performance The House with the Ocean View. Em uma TV, é transmitida a cena deste trabalho que a artista desenvolveu em Nova York em 2002: Três cômodos suspensos foram construídos de frente para a rua. A única separação entre a artista e o público eram três escadas, sendo que cada degrau era uma faca de cozinha afiada. Abramović viveu nesse espaço por doze dias, sem comida e em silêncio. O público podia vê-la dormindo, meditando, tomando banho ou indo ao banheiro. Uma das escadas com os degraus feito de lâminas faz parte da exposição no Sesc.

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O local abriu espaço, ainda, para a performance de outros oito artistas, que se apresentarão ao longo dos dias da exposição, aberta até o dia 10 de maio na rua Clélia, número 93, na Vila Pompeia.

Além do encontro com a artista ocorrido no último dia 11, os próximos ocorrerão nos dias 26 de março e 01, 02, 08, 15, 22 e 30 de abril. Aos que não conseguirem um ingresso, as mesas na área externa da choperia do Sesc estão em um lugar agradável para observar quem passa por ali. Uma maneira abromiviquiana de não perder a viagem.

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