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Mesmo com chuva acima da média, crise em SP ainda é “gravíssima”

Nível do maior reservatório que abastece a Grande São Paulo ainda é preocupante

Gil Alessi
Ruas alagadas pela chuva em São Paulo.
Ruas alagadas pela chuva em São Paulo.Paulo Pinto (Fotos Públicas)

As fortes chuvas que atingiram o Estado de São Paulo em fevereiro fizeram com que muitos paulistanos respirassem aliviados após um início de ano sob a ameaça de um severo racionamento de água. Em 15 dias choveu o equivalente à média histórica para o mês inteiro, e o nível do Cantareira, o maior sistema de reservatórios que abastece a Grande São Paulo, voltou a subir. Mas para especialistas, a situação ainda é “gravíssima”.

De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Cantareira está com 9,5% de sua capacidade. “Para que possamos atravessar o ano de forma relativamente tranquila teríamos que chegar a cerca de 30% da capacidade [do Cantareira], e temos apenas mais um mês e meio de chuvas para a época de estiagem. Isso levando em conta o consumo de água no reservatório em 2014”, afirma Samuel Barrêto, gerente do departamento de água da ONG The Nature Consevancy (TNC). Neste mesmo período do ano passado, o Cantareira ainda tinha 20% de sua capacidade, além dos chamados dois volumes mortos, ou reservas técnicas, a serem utilizados. São chamadas de volume morto as reservas de água situadas abaixo das comportas das represas do  Cantareira. Até essa crise, essa água nunca havia sido utilizada para atender a população.

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“As chuvas de fevereiro já superaram a média histórica para o período, mas a crise não passou. Mesmo com as chuvas a situação ainda é grave. Teremos que fazer um esforço muito grande para enfrentar a situação, e não é hora de afrouxar o cinto. É preciso cobrar do Governo o plano de contingência, especialmente para hospitais e escolas”, diz Barrêto.

Antônio Carlos Zuffo, professor do departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, vai além. Zuffo discorda da metodologia utilizada pela Sabesp que, segundo ele, “camufla” o problema: “O valor real do reservatório é -20%. A Sabesp não está levando em conta o volume morto que foi gasto. Ainda estamos recuperando a segunda parcela [do volume morto], estamos muito longe ainda do volume operacional”.

Para ele, a falta de transparência na divulgação dos números prejudica a conscientização da população quanto à gravidade do problema. “O uso dessa metodologia é irresponsável. As pessoas não percebem o tamanho do buraco. Não é para ninguém ficar tranquilo, muito em breve entraremos no período seco, no final de março, e estaremos em uma situação mais complicada do que a enfrentada no ano passado, que já foi bem grave”, afirma.

Segundo Zuffo, a tendência é que chova até o dia 22 deste mês. “Em seguida é provável que o nível do Cantareira continue subindo por mais uns cinco dias. Depois deste período, no final do mês e no início de março, caso não chova, o nível do reservatório voltará a cair”, explica.

O especialista em Gestão Ambiental e Sustentabilidade João Alexandre Paschoalin Filho diz que “a população tende a achar que a crise esta passando por causa das oscilações positivas dos reservatórios. Mas é preciso ver que vamos entrar nessa época de estiagem, de março para frente devemos assistir ao retorno da seca. O que arrecadamos em termos de água condiz ainda com a parcela referente ao volume morto, e 9,5% é um volume muito baixo.”

Outro problema enfrentado pelos reservatórios mesmo durante este mês chuvoso é o efeito 'esponja': como o solo das represas está ressecado após longo período de seca, ele ainda precisa absorver muita água até conseguir reter o líquido. Por isso a subida no nível do Cantareira não foi tão acentuada quanto o esperado.

Racionamento de fato

Oficialmente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), diz que a Sabesp avalia diariamente se será necessário implementar um rodízio de água na cidade, que já foi cogitado no formato de cinco dias sem água e dois dias com fornecimento em sua versão mais rigorosa. Na prática, a cidade já sofre com a crise hídrica e a falta de água. Em janeiro, a companhia reconheceu pela primeira vez que diminui a pressão das torneiras de todos os bairros da capital paulista e divulgou site com os horários da restrição. A redução da pressão diminui o consumo de água e das perdas por vazamento, e, como efeito colateral, deixa as torneiras secas especialmente nas áreas mais altas da cidade.

Segundo Marzeni Pereira, sindicalista e tecnólogo em saneamento da Sabesp, o governo mente ao falar em redução de pressão, porque não há esse mecanismo disponível em toda a rede. O que se faz, disse Marzeni ao EL PAÍS em 7 de fevereiro, é fechar os registros. "Não é toda a tubulação da capital de São Paulo que está controlada por válvulas redutoras de pressão (VRP). O que eles [a Sabesp] estão fazendo é fechar o registro. Eles já estão fazendo rodízio, mesmo, pois não há água", disse ele.

Na última sexta-feira, o secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, admitiu que a Sabesp está fechando os registros em parte da cidade, ou seja, cortando o fornecimento. "O sistema de redução de pressão não está disponível em todos os locais", disse ele, segundo o jornal Estado de S. Paulo, que flagrou técnicos da Sabesp fechando registros para interromper a distribuição de água.

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