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Levy Fidelix, uma caricatura entre os presidenciáveis

Na seriedade do debate, espanta o discurso defasado e ofensivo do candidato

Carla Jiménez
Levy Fidelix durante o debate na TV Globo.
Levy Fidelix durante o debate na TV Globo.Felipe Dana (AP)

Levy Fidelix, que concorre à presidência da República pelo PRTB, nunca teve uma projeção tão grande em campanhas eleitorais como na corrida eleitoral deste ano. Porém, ao contrário de outros candidatos nanicos, que procuraram levantar questões sensíveis como o direito ao aborto, para reduzir a morte de mulheres em clínicas clandestinas, ou a legalização da maconha, para atenuar o tráfico de drogas, Fidelix ficou marcado negativamente por descuidar das palavras para defender suas posições. Depois de dizer que “aparelho excretor não é aparelho reprodutor” ao abordar o casamento gay, no último domingo, durante debate na rede Record, Fidelix foi provocado pelo presidenciável do PV, Eduardo Jorge, a pedir desculpas sobre a sua fala. “O senhor envergonhou o Brasil”, disse Jorge, no debate desta quinta-feira.

Nervoso, o candidato do PRTB devolveu dizendo que Jorge propunha que o jovem use maconha e defendia o aborto e por essas razões fazia apologia ao crime. Disse ainda que iria à Justiça contra o candidato do PV. Sobre a questão dos gays, ele disse ser seu “legítimo direito defender a família”, uma vez que utilizava sua expressão cristã, ao dizer o que pensa, um direito consagrado na Constituição Federal, a família. "Eu não fiz nenhuma apologia. Apenas defendo a posição cristã, familiar". A Constituição brasileira, porém, prevê a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação.

Fidelix havia provocado a ira dos movimentos gays, na Record, quando disse “nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria”, o que foi interpretado como um incitamento ao ódio, num país que teve 650 assassinatos homofóbicos ou transfóbicos em 2012 e 2013.

Em seguida, Fidelix protagonizou um novo embate, pelo mesmo assunto. Desta vez, com Luciana Genro, que o acusou de ter incitado "o direito de uma suposta maioria contra os direitos de uma minoria”. Segundo ela, foi “o mesmo discurso que os racistas fazem contra os negros (…) Estamos lutando para que pessoas que fazem discurso como o seu saiam algemadas".

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No momento mais decisivo da corrida eleitoral, a três dias do pleito, ficou evidente que os presidenciáveis que lideram as pesquisas evitavam fazer perguntas a ele no primeiro bloco na noite desta quinta-feira. Por um lado, porque Dilma, Marina e Aécio Neves procuram aproveitar o pouco tempo que lhes resta para roubar pontos um dos outros. Por outro, um encontro com Fidelix geraria um incômodo que ficou do encontro anterior. Por isso coube a Jorge a primeira pergunta, pelas regras do debate da Globo.

De cabelos e bigodes pintados de preto, Fidelix, natural de Mutum, em Minas Gerais, parece um personagem saído dos anos 70, em pleno século 21, com um excesso de conservadorismo e invocando símbolos ultrapassados. Insinuou, por exemplo, que a candidata do PSOL, Luciana Genro, teve contato com a guerrilha de Cuba, por suas posições mais à esquerda.

Aos 62 anos, formado em Comunicação, ele já foi apresentador de TV, professor universitário e publicitário. Mas sua carreira mais longa parece ser a de candidato. Desde 1986 se candidata a cargos eletivos. Lançou-se a deputado federal pelo Partido Liberal, inicialmente, e depois, em 1989, concorreu pelo PTR.

Três anos depois fundou o PRTB, pelo qual concorreu à prefeitura de São Paulo, em 1996, quando saiu com menos de 1% dos votos. Depois, concorreu ao cargo de governador, vereador, deputado federal, e outras duas vezes a prefeito, até estrear como candidato a presidente em 2010. Teve uma votação ínfima, em todas as vezes, e acabou se tornando um personagem folclórico por sua persistência em ser um nanico com uma pauta difusa, que vai desde o reaparelhamento das forças armadas, até a criação de um trem suspenso, o aerotrem.

Na noite de quinta, ele aproveitou suas considerações finais para defender as declarações homofóbicas do último debate. Agradeceu a Deus pelo "conforto e firmeza quando tentaram atentar contra a moral e os bons costumes" por meio dele. "Não podemos deixar que o nosso país vá para o descalabro e a desagregação social e moral". Fechou a fala com chave de ouro ao dizer: “sei que não vou ganhar porque os três que estão pontuando foram escolhidos pela grande mídia e o capital. Mas estarei de volta com o apoio de todos vocês.” De fato, são os contribuintes que sustentam o partido de Fidelix, por meio do Fundo Partidário, constituído de dinheiro público -neste ano, sua campanha recebeu cerca de 1 milhão de reais deste fundo.

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