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MERCADO BRASILEIRO

A Telefónica vence a Telecom Italia na disputa pela brasileira GVT

A francesa Vivendi negociará com exclusividade a venda de sua filial com o grupo espanhol, que elevou sua oferta para 7,45 bilhões de euros

Ramón Muñoz
Sede da filial brasileira da Telefônica em São Paulo.
Sede da filial brasileira da Telefônica em São Paulo.EFE

A Telefónica venceu a primeira rodada na batalha que vem travando para adquirir a Global Village Telecom (GVT), a filial brasileira da Vivendi. O grupo francês decidiu abrir “negociações exclusivas” com a empresa presidida por César Alierta, depois de recusar a oferta da Telecom Itália. Mas ser a escolhida não saiu barato. O grupo espanhol elevou ontem sua oferta a 7,45 bilhões de euros (cerca de 22 bilhões de reais), acima dos 6,7 bilhões de euros (19,8 bilhões de reais) de sua primeira proposta, feita em 5 de agosto passado. Assim, superou a Telecom Itália, que ontem fechou sua proposta em 7 bilhões de euros (20,7 bilhões de reais).

A compra da GVT permitiria à Telefónica se tornar a líder do mercado brasileiro de telecomunicações e complementar sua atuação no país com mais televisão por assinatura e banda larga e um maior alcance fora da região de São Paulo.

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A operadora espanhola jogava com certa vantagem pelo fato de sua situação financeira ser mais tranquila do que a dos italianos. Isso lhe permitiu colocar na mesa 4,663 bilhões de euros (13,8 bilhões de reais) em dinheiro, 63% do total da oferta, completada com a cessão de ações que representam 12% da nova Telefónica Brasil, resultado da integração com a GVT, avaliada em cerca de 2,7 bilhões de euros (8 bilhões de reais).

A proposta italiana só incluía 1,7 bilhão em dinheiro (5 bilhões de reais), já que o restante até completar os 7 bilhões era em ações próprias (que representam 16% do capital e 21,7% dos direitos políticos) e títulos de sua filial brasileira TIM (15% do capital).

A Vivendi não teve muitas dúvidas na hora de escolher o grupo espanhol. “A oferta da Telefónica se adapta melhor aos objetivos estratégicos e financeiros do grupo”, destacou em um comunicado. Esses objetivos, além disso, passam por um lucro de capital na operação de cerca de 3 bilhões de euros (8,8 bilhões de reais), segundo a avaliação realizada pelo grupo francês.

O grupo também tem a opção de adquirir a participação da Telefónica na Telecom Itália, uma possibilidade que não se encaixa na estratégia da Vivendi, que está se desfazendo de todas as suas participações no setor de telecomunicações — anteriormente vendeu a Maroc Telecom e a SFR — para se concentrar nos meios de comunicação e conteúdos, como destacou ontem em seu comunicado. Na verdade, essa estratégia abre a porta para uma colaboração com a Telefónica nessa área.

Além disso, a Vivendi ocuparia uma posição importante como acionista (8,3% do capital), mas sem qualquer controle sobre a Telecom Itália. A Telefónica, que fez um investimento ruinoso na empresa italiana, sabe por experiência própria que ser o principal acionista da empresa italiana não lhe garante nada. Na verdade, mesmo sendo a maior acionista, teve de concorrer com empresa italiana pela GVT, o que a obrigou a aumentar sua oferta.

No entanto, a Vivendi deixou aberta essa possibilidade ontem na conferência dos analistas. É que ficar com essa participação pode servir de arma de negociação entre as duas partes nos três meses que foram dados de prazo para se chegar a um acordo, já que ainda que a oferta expire hoje, a empresa espanhola deixou aberta a possibilidade de ampliar o processo em 90 dias se as partes assumissem esse compromisso de exclusividade, como aconteceu. A Vivendi apontou ontem que espera que a operação se encerre na primavera de 2015, assim que obtiver as autorizações dos órgãos reguladores brasileiros.

Para a Telefónica, é interessante desfazer-se o quando antes de sua participação na Telecom Itália para garantir as condições impostas pelas autoridades de concorrência no fim de 2013, que impedem que o grupo espanhol participe de duas operações brasileiras: diretamente em sua filial Vivo e indiretamente na TIM.

Para a Telefónica, o mercado brasileiro é fundamental, e a empresa acredita que esse movimento pode ser fundamental no processo de consolidação que se avizinha no país. A GVT possui 2,7 milhões de clientes de banda larga fixa e, junto ao grupo espanhol, chegariam a 31% desse mercado, superando os mexicanos do grupo Telmex (NET, Claro e Embratel) de Carlos Slim, que lideram o segmento com quase 7 milhões de clientes. Mesmo assim, a integração dos dois grupos daria à Telefónica o terceiro lugar do mercado de televisão por assinatura, com 1,48 milhão de clientes, e 7,8% de participação no mercado. A GVT faturou 1,709 bilhão de euros (5 bilhões de reais) em 2013 com um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 707 milhões de euros (2 bilhões de reais).

A Telefónica estima, além disso, que a oferta pela GVT não comprometerá seus objetivos de redução da dívida, e lhe permitirá manter sua alavancagem dentro dos níveis estipulados pelos gestores, segundo a Moody’s.

A recusa da Vivendi, por sua vez, deixa a Telecom Itália em situação muito ruim, já que agora só terá presença no mercado de telefonia móvel, e pode ter de enfrentar uma oferta de ações (IPO) hostil sobre sua filial TIM se a brasileira Oi finalmente concretizar sua oferta.

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