O Brasil aos pés de Neymar
Num confronto decisivo contra o Chile, o jovem Neymar é a grande esperança para fazer o Brasil passar para as quartas de final
Desde que Pelé se despediu dos gramados, em outubro de 1974, no mítico e acanhado estádio da Vila Belmiro, em Santos, os torcedores da cidade –e do Brasil– lamentavam. “Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar”. Mas, neste sábado, um atacante de 22 anos, carrega mais uma vez as esperanças da seleção brasileira. Num confronto decisivo da Copa do Mundo contra o Chile, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, o jovem Neymar é a grande esperança para fazer o Brasil passar para as quartas de final.
Está em jogo uma marca de 20 partidas sem derrota do camisa 10 pela seleção atuando no Brasil. E muito mais do que isso: uma vaga nas quartas de final para junto com a sua geração, o atacante começar a confirmar que, sim, um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar.
No seu primeiro Mundial, lá se vão quatro gols em três jogos –a ‘Neymardependência’ restrita ao clube santista começa a adquirir um tom verde e amarelo. Sim, depois da saída de Pelé houve relâmpagos na cidade, como Giovanni, Robinho, Diego, mas só Neymar poderá confirmar a condição efetiva de um grande raio em um Mundial.
Assim como Pelé, ele não nasceu na cidade portuária de cerca de 500.000 habitantes à beira do Atlântico, mas conquistou os títulos que fizeram o torcedor lembrar a época gloriosa de conquistas nos anos 1960, inclusive com uma Libertadores, em 2011. Mesmo ainda com uma enorme distância entre ambos no histórico no clube e na seleção –Pelé fez mais de 1.000 gols, jogou no Santos por 18 anos, ganhou dois Mundiais interclubes e três Copas–, os comentários na cidade sobre a escolha divina ou do destino na hora de depositar os raios são constantes.
Nos arredores do estádio com capacidade para 20.000 torcedores, a vida pacata dos dias comuns se confunde com a história. Na barbearia de João Araújo, o Didi, por exemplo, as fotos e relíquias de Pelé espalhadas pelo salão são exibidas com orgulho por quem corta o cabelo do Rei há mais de 50 anos. “O Neymar eu via muito jovem ainda andando por aqui. Assim como o Pelé, quando ele entrou no time não saiu mais. Esse pedaço é iluminado. É a Vila mais famosa do mundo”, diz Araújo, 74, apontando para o estádio a poucos metros de sua barbearia.
“Logo que chegou à cidade o Pelé em 1956 fez uma parada aqui para cortar o cabelo, antes mesmo de se apresentar ao clube. O Waldemar de Brito –ex-jogador descobridor do ídolo– já era meu freguês e o trouxe de Bauru (cidade do interior de São Paulo)”, emenda. “Quando ele não pode vir por algum motivo ou por causa do assédio eu vou até a casa dele. Se todos que aparecem por aqui quando o Rei vem à barbearia virassem meus clientes, eu já estaria rico.”
Ao lado, no bar Confraria do Alemão, um pequeno grupo acompanha o noticiário da Copa do Mundo pela TV. O torcedor Alberto Francisco, 56, cujo apelido dá nome ao bar, carrega o escudo do time tatuado nos braços e até na testa. É para recordar os títulos, conta ele, em meio ao vaivém de turistas com camisas de diferentes seleções no corredor que dá acesso ao Memorial do clube, em frente. O atual camisa 10 e Pelé são praticamente onipresentes na cidade durante a Copa, estampando de painéis publicitários a estátuas de areia na praia.
Um dos descobridores de Neymar, o ex-companheiro de Pelé no Santos e na seleção brasileira Zito lembra bem da primeira impressão ao ver o atacante. “Fui com um amigo e o Neymar me encheu os olhos. Falei (ao presidente) que ele tinha de ser contratado imediatamente, antes que outros o fizessem. Ele tinha 11 anos. E aí deu no que deu”, contou recentemente à emissora Sportv o ex-volante de 81 anos, bicampeão mundial com a seleção (1958 e 62).
De lá até o último jogo contra Camarões na Copa, na última segunda-feira, tudo também passou como um raio. O jogador estrearia entre os profissionais em 2009, aos 17 anos, tendo marcado 138 gols até a sua despedida. Nem a sua conturbada saída do clube rumo a Barcelona foi capaz de estremecer a relação do jogador nascido em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, com o Santos e a cidade. Na seleção, os números também começam a ser superlativos, com 35 gols, que o situam na artilharia brasileira junto a ídolos como Ronaldinho Gaúcho e Tostão. E a história ainda está começando a ser construída
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