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Jogadores negros, público branco

A relação entre as tensões raciais (ou distensões) e o futebol no Brasil é extensa

Antonio Jiménez Barca
Imagem de uma parte da torcida no Itaquerão.
Imagem de uma parte da torcida no Itaquerão.F. A. (ap)

Em 1914, um jogador mulato do elitista clube Fluminense, do Rio de Janeiro, para dissimular a cor de sua pele, lambuzou sua cara com pó de arroz. No começo tudo bem. Mas quando começou a suar, seu truque foi descoberto. O jogador ficou marcado, para sempre, como o Pó de Arroz, assim como o próprio clube. A relação entre as tensões raciais (ou distensões) e o futebol no Brasil é extensa.

Na verdade, há muitos historiadores e especialistas que sustentam que o futebol serviu precisamente para unir as diferentes raças que povoam este país-continente, que é uma das poucas coisas que todos fazem juntos, ricos e pobres, brancos e negros, ou que todos assistem juntos. E a seleção seria o ponto alto desse sentimento de irmandade acima das cores. Sim, mas há também quem afirme que em 1950, o goleiro Barbosa, por ser negro, foi injustamente culpado por tomar o gol definitivo de Ghiggia no infeliz Maracanazo. Se fosse branco, teria sido perdoado. No vídeo no Youtube, podemos comprovar que a ação de Barbosa tampouco foi um erro enorme, nem sequer pode ser catalogado como erro. Mas que digam isso ao pobre goleiro que carregou por toda a vida, até sua morte em 2000, a culpa imensa de ter servido de instrumento da desgraça. Até nos supermercados ele era apontado com o dedo: "Olha, filha, o homem que fez o Brasil chorar", disse uma vez a mãe para sua filha na presença do atribulado Barbosa.

Pelé, Garrincha e outros redimiram sua raça e converteram a seleção brasileira em uma máquina mestiça e perfeita, capaz de fabricar o melhor futebol da história. Desde então, a seleção do Brasil foi uma radiografia fiel da sociedade, onde mais da metade da população é negra ou mulata.

E assim era mais ou menos a equipe que entrou na quinta-feira no estádio do Itaquerão e ganhou da Croácia graças a Neymar e a um árbitro armado com um spray de grafiteiro.

No entanto, as arquibancadas estavam cheias de milhares e milhares de brasileiros brancos, quase todos brancos, os únicos que, em sua grande maioria, têm dinheiro neste país para pagar a entrada, os únicos que, no geral neste país, vão ao cinema, ao teatro, às exposições ou aos restaurantes de categoria, os que dominam as melhores oportunidades...

Dentro do campo era fácil: Marcelo, Daniel Alves, Thiago Silva, Hulk, Ramires…. Mas olhem as fotos da partida e brinquem de encontrar um negro entre o público do estádio que, vestido de amarelo, animava com euforia sua seleção. Tentem encontrar algum negro que não estivesse assistindo à seleção de todos pela televisão, do lado de fora.

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