Os eleitores reclamam do Governo, mas estão satisfeitos com suas vidas
A presidenta sobe de 37% para 40%, e Aécio Neves de 14% para 20% nas intenções de voto na última pesquisa do Ibope Rejeição à presidenta é de 33%, mas 71% dos brasileiros se dizem felizes
Se você se sentisse satisfeito com sua vida hoje, teria vontade de mudar o status quo? Este é um dos dilemas sobre os quais os marqueteiros políticos dos principais partidos brasileiros estão se debruçando neste momento, depois da divulgação da pesquisa de intenções de voto do instituto Ibope na quinta-feira. O levantamento, que ouviu 2.002 pessoas, entre os dias 15 e 19 de maio– portanto, em meio aos protestos pré-Copa do Mundo– trouxe boas notícias para os três candidatos. Houve um crescimento das preferências pela continuidade da petista Dilma Rousseff como presidenta, de 37% para 40%, assim como o avanço de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de 14% para 20%, e de Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que passou de 6% para 11%.
A dúvida é como será o ritmo de crescimento dos três candidatos daqui até outubro, diante de um eleitor que reclama do Governo Rousseff, como mostra o Ibope, mas que, em sua maioria, está satisfeito com sua própria vida. Diante da pergunta “Como o senhor se sente em relação à vida que vem levando hoje?”, 71% dos 2.002 entrevistados de todo o país se disseram satisfeitos, e 9% muito satisfeitos.
Ao mesmo tempo, o levantamento do instituto mostra que 33% dos eleitores não votariam em Rousseff “de jeito nenhum”, contra 20% de Aécio Neves para a mesma pergunta, e 13% para Eduardo Campos. A rejeição à presidenta é mais alta na região Sudeste (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo), onde estão 43% dos eleitores, ou quase 61 milhões dos brasileiros que votam, e mais baixa no Nordeste (que soma 38 milhões de pessoas aptas a votar).
Nos Estados do Nordeste, Rousseff tem 52% de apoio, o que, se mantido esse porcentual, poderia resultar em cerca de 20 milhões de votos, caso a eleição fosse hoje. Nos Estados do Sudeste, por sua vez, o apoio chega a 33%, o que garantiria praticamente o mesmo número de votos que no Nordeste, onde se localizam os brasileiros mais pobres.
O desafio do PT agora é administrar a vantagem e blindar os eleitores que já a consideram como candidata ideal. Os seus adversários, por outro lado, tentarão avançar entre os indecisos e os votos nulos e brancos, que somam 24%, e ainda sobre o eleitorado que anuncia desejo de mudança no Governo na próxima eleição (30%). Dentro desse universo dos inquietos com os atuais rumos do país, apenas 25% desejariam que as mudanças fossem praticadas com Rousseff no poder.
O analista José Roberto de Toledo, colunista político do jornal O Estado de S.Paulo, avalia que a pesquisa do Ibope traz sinais mistos ao partido da presidenta. Por um lado, o crescimento da candidata à reeleição pode ajudar alguns aliados mais rebeldes, como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), a permanecerem na base do Governo.
Por outro, os números revelam que o teto de preferência por Rousseff está chegando ao limite, com o potencial de expansão se revelando limitado a cada levantamento divulgado. “A diferença entre ela e a soma dos opositores está diminuindo, o que reforça a ideia de um segundo turno”, diz. Na última pesquisa Ibope, realizada em abril, Rousseff tinha 37%, mas seus adversários somavam juntos 25%, incluindo Neves, Campos e outros menores, como o representante da igreja evangélica, Pastor Everaldo, do Partido Social Cristão (PSC). Nesta última edição, eles somam 36% - Everaldo chega a 3% das intenções de votos – o que reduz sensivelmente a diferença entre a mandatária e a soma dos adversários, de 12 pontos porcentuais para quatro.
Toledo lembra também que a rejeição à candidata do PT continua alta, o que seria normal para uma aspirante do Governo. “Mas, ao contrário dos principais adversários, a rejeição não caiu após os programas partidários na TV”, completa. Não caiu, mas o avanço de três pontos porcentuais de Rousseff em relação à pesquisa anterior mostra que a presidenta ganhou parte dos votos indecisos, que somavam 13% em abril, e agora chegam a 10%. Rousseff se beneficiou de duas aparições importantes na televisão este mês, que refrescaram a memória de seus eleitores. No dia Primeiro de Maio, a presidenta aproveitou o Dia do Trabalho para anunciar algumas bondades, como o aumento de 10% do programa Bolsa Família. E no último dia 13, a propaganda eleitoral do PT, em rede nacional, reforçou, em cadeia nacional, as conquistas petistas, como o aumento da geração de emprego durante os anos Lula/Rousseff. O cientista político Fábio Wanderley observa que o desemprego baixo e os benefícios como o Bolsa Família atendem claramente o eleitorado popular, que é quem decide, ao fim e ao cabo, uma votação no Brasil.
É um eleitorado que não está atento, por exemplo, aos escândalos de corrupção na Petrobras, ou à crise com a base do Governo. Por isso, prevê, a tarefa da oposição será árdua até outubro. “A briga dos adversários de Rousseff é morro acima”, diz Wanderley, que não vê nada de ideologia no apoio que o PT recebe atualmente. É mais um voto pela manutenção da cobertura às necessidades básicas, numa percepção de lados, de ricos e pobres, resultado da herança da desigualdade histórica. “É positivo que isso alcance o debate político do jeito que alcançou”, conclui. Isso mostra que no Brasil quem governa atualmente é uma agenda social, da qual o PT se apropriou.
Para José Roberto de Toledo, a disputa promete ser acirrada até o hipotético segundo turno e a propaganda televisiva no horário eleitoral terá um grande peso nesse processo, sobretudo na costura de alianças a fim de se garantir mais tempo de exposição na TV.
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