“A torcida do Atlético de Madri merecia esse título”
O brasileiro Leivinha, campeão com o clube na década de 70, celebra a um oceano de distância a conquista do título espanhol e se emociona ao falar do carinho da torcida colchonera
Falar do Atlético de Madri ainda emociona o ex-atacante brasileiro Leivinha. Mesmo passados 35 anos de sua saída do clube, com o qual conquistou um título espanhol (1976-77) e outro da Copa do Rei (1975-76). O carinho da torcida, que diz ser único, é uma das fortes lembranças do seu tempo de jogador, capazes até de deixar em último plano em uma entrevista sobre a sua carreira as lesões que fizeram com que pendurasse as chuteiras cedo, aos 29 anos. Por isso, além de celebrar a um oceano de distância o título espanhol, Leivinha, de 64 anos, não se esquece da importância da conquista para os colchoneros.
“A torcida do Atlético merecia esse título. É uma torcida fiel, única, o sentimento é realmente diferente. Foi muito tempo de sofrimento, inclusive com a passagem pela segunda divisão. Mas a equipe agora voltou com força e a conquista é merecida”, diz, sem deixar de recorrer ao passado. “Lembro que quando cheguei ao clube éramos convidados constantemente para os aniversários das peñas (agremiações de torcedores). Havia umas 240. Íamos praticamente todas as segundas-feiras. Foi muito especial. No segundo ano não conseguíamos mais comparecer, porque senão viveríamos confraternizando”, acrescenta, entre risos.
Leivinha acredita ainda que a conquista do título neste sábado, com o empate por 1 x 1 ante o Barcelona no Camp Nou, tem um sabor especial, principalmente pela dificuldade de se ganhar títulos com as desvantagens financeiras em relação ao Real Madrid e ao Barça atualmente. E diz que se deve “tirar o chapéu” para o técnico Simeone, embora achasse o argentino como jogador um pouco violento. “Mas, como treinador, o Simeone é realmente muito bom, motivador, parece que tem o grupo na mão. Conseguiu montar e armar uma grande equipe.”
Agora, o desafio é muito maior, segundo o brasileiro, que já atuou como comentarista esportivo em emissoras de TV a cabo no Brasil. Antes do jogo deste sábado, Leivinha já antecipava que o duelo com o Real Madrid no próximo fim de semana, pela final da Liga dos Campeões, se avizinhava como muito mais difícil de ser vencido. “O Real tem um elenco excelente, com o melhor jogador do mundo em uma fase excepcional e a cobrança forte de voltar a ganhar o título europeu. O Barcelona, embora jogasse em casa, vinha em uma fase decrescente, caiu muito de rendimento. O próprio Messi hoje não vive um bom momento.”
De ascendência espanhola –os avós paternos eram de Almogía (Andaluzia, no sul do país), João Leiva Campos Filho, o Leivinha, chegou a Manzanares em 1975, junto com o ex-zagueiro Luís Pereira, e permaneceu no Atlético até 1979. Despertou o interesse do clube espanhol após conquistar o troféu Ramón de Carranza pela equipe brasileira do Palmeiras, na vitória sobre o Real Madrid por 3 a 1 na decisão, tendo sido responsável por um dos gols do confronto. As contratações dele e de Pereira acabariam encaminhadas antes mesmo do retorno ao Brasil.
A sua estreia pelo Atlético ocorreu na quarta rodada do Campeonato Espanhol da temporada 1975-76, contra o Salamanca, em uma partida na qual marcou três gols. Além do desafio de manter a excelente média inicial, havia o de empunhar a camisa 8, do ídolo colchonero Luis Aragonés, que havia deixado o gramado para virar treinador do time. “Ele falava a nossa língua. Todos gostavam dele. Foi ainda um grande jogador, que sabia bater bem na bola.”
Além de se destacar pelas jogadas plásticas, Leivinha também se revelou um homem de área nato em Manzanares, após atuar mais como meia-direita no Brasil. Marcou 40 gols em pouco mais de 80 partidas no clube espanhol, destacando-se também no cabeceio. Um momento inesquecível foi o gol contra o Athletic de Bilbao, do goleiro Iríbar, que conquistou o título da Eurocopa de 1964 com a seleção espanhola. O brasileiro caiu na área dentro do gol, no Vicente Calderón, e na reposição de jogo o atleta basco não percebeu a aproximação de Leivinha.
“Roubei a bola e fiz de calcanhar. Fiquei até envergonhado de ter marcado. O jogo terminou 1 x 0. O Iríbar tinha um grande nome, era experiente. Quando saí do campo fui falar com ele, dizendo que não gostaria de ter feito um gol assim. Mas ele falou que tudo bem, que eu tinha feito o que devia ser feito. Até hoje quando volto à Espanha me perguntam desse lance”, diz.
Lesões e Mundial
Mas a carreira de Leivinha não só ficou marcada pelos gols, como também por seguidas lesões que o levaram a encerrar a carreira precocemente, em 1979, e o perseguem até hoje –atualmente se recupera de sua 14ª cirurgia. O ex-atacante possui três próteses: duas nos quadris e uma no joelho esquerdo. As lesões também o prejudicaram em uma Copa do Mundo –em 1974, na Alemanha, sofreu uma entorse no tornozelo no terceiro jogo, contra o Zaire, e não conseguiu retornar para a disputa do restante do torneio pela seleção brasileira. Além de custarem quase um ano fora dos gramados ao longo de sua temporada no Calderón.
“O meu martírio começou mesmo em um lance maldoso de um jogador chamado Manolo, do Celta de Vigo. Sofri uma pancada no joelho esquerdo. Voltei a jogar depois disso, mas essa lesão acabaria pesando sempre na minha saúde. Naquela época, a recuperação de uma cirurgia era muito mais demorada –o músculo atrofiava e dificultava o retorno aos campos”, conta.
Na saída do Atlético, voltou ao Brasil para defender por quatro meses o São Paulo, “apenas para não ficar parado”, porque ele já estava acertando sua transferência para o Cosmos, de Nova York. Acabaria machucando o mesmo joelho esquerdo em seu segundo jogo pela equipe brasileira. Não houve saída senão deixar definitivamente os gramados.
Depois de encerrar a carreira, Leivinha se arriscou em diferentes áreas: além de comentarista esportivo, foi dono de casa noturna, dono de uma confecção de roupas e fazendeiro. Agora, espera o início da Copa do Mundo para acompanhar os jogos pela TV. A sua ligação com a seleção brasileira perdura até hoje –é tio do volante Lucas Leiva, do Liverpool, um dos integrantes da lista reserva do técnico Luiz Felipe Scolari para o Mundial deste ano.
“Por jogar em casa, o Brasil tem que entrar como favorito, mesmo sem estar jogando um futebol primoroso. O Mundial não é a Copa das Confederações, é muito mais complicado. Torcerei para a Espanha também, embora a seleção tenha caído de rendimento recentemente. Vejo, em uma ordem de favoritismo, Brasil, Argentina, Alemanha e Espanha”, conclui.
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