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A China a ponto de destronar os EUA como principal potência

Um relatório do Banco Mundial indica que a ‘ultrapassagem’ de Pequim ocorrerá no fim do ano, cinco anos antes do previsto

Alicia González
Inauguração de uma estrada construída pelos chineses na Etiópia.
Inauguração de uma estrada construída pelos chineses na Etiópia.Daniel Getachew (EFE)

Que a China superaria os Estados Unidos como primeira economia mundial a médio ou longo prazo era uma aposta quase segura. O que não se esperava era que pudesse fazer isso tão cedo como este ano. Segundo dados recolhidos até 2011 pelo Banco Mundial, o PIB da China, ajustado pela paridade de poder de compra, é muito maior do que se havia calculado anteriormente. No final de 2011, o PIB chinês equivalia a 87% do PIB americano. Apenas seis anos antes, equivalia a 72%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que nestes quatro anos a China tenha acumulado um crescimento de 24%, bem mais que os 7,6% dos Estados Unidos. Isso, se for confirmado, fará com que a China supere no fim deste ano os EUA como primeira economia do mundo nesses termos.

EL PAÍS

Anteriormente, o FMI tinha calculado que a “ultrapassagem” ocorreria no final de 2019, sempre com base na eliminação do efeito do tipo de câmbio sobre o PIB. Se o cálculo for feito em dólares correntes, nem o FMI nem o Banco Mundial preveem que o avanço chegue a ocorrer nesta década. Os EUA são a primeira economia do mundo desde 1872, quando superaram o Reino Unido.

O Programa de Comparação Internacional (PCI), coordenado pelo Banco Mundial, revisa a cada cinco ou seis anos suas estimativas sobre o Produto Interno Bruto em quase todas as economias do mundo (nesta ocasião, foram 199). Surpreendentemente, o Instituto de Estatísticas chinês expressou sua discrepância em relação à metodologia empregada nos cálculos, e diversas informações apontam a rejeição chinesa dos resultados. Pequim não parece ansiar em ser a primeira potência mundial.

China discorda da metodologia usada pelo organismo internacional

O PCI defende a utilização desta forma de medir o PIB, que elimina o impacto do tipo de câmbio em seu cálculo, porque “ao converter indicadores econômicos nacionais, como o PIB, em uma moeda comum, a paridade do poder de compra é uma medida mais direta que os tipos de câmbio para determinar o poder aquisitivo do dinheiro”, sustenta em sua nota. Com este sistema, habitual nas comparações internacionais, medem-se grandes agregados econômicos em função do que uma unidade monetária (um dólar ou um euro) é capaz de comprar em cada país. Os dados servirão de base para futuros cálculos de outros organismos, como o FMI, mas alguns especialistas duvidam que esse indicador sirva realmente para assegurar que a China seja a nova potência mundial.

“Se falamos sobre poder econômico, não sobre se as pessoas vivem melhor, o PIB por si só não é um grande indicador da verdadeira importância de uma economia”, sustenta Julian Jessop, economista-chefe global da Capital Economics, de Londres. “Os novos cálculos são um exercício acadêmico que não muda nada no mundo real.”

“A renda per capita chinesa é um quinto da americana”, aponta um especialista

De Washington, Arvind Subramanian, sócio do Instituto Peterson de Economia Internacional, discrepa. “Tudo importa. Se consideramos que exercer o poder passa também pelo que acontece às pessoas e não só por como evoluem os bens e os serviços, sem dúvida assistimos a uma mudança fundamental.”

Os dados ganham importância também do ponto de vista cambial. Segundo as estimativas do próprio Subramanian e de Martin Kessler, ambos do Instituto Peterson, os dados do PCI permitem assegurar “com bastante grau de segurança que a moeda chinesa, o renminbi ou yuan, está cotada neste momento em seu valor justo, o que supõe uma mudança dramática em relação a 2005, quando a divisa estava sobrevalorizada em quase 30%”, apontam eles em uma nota. Se isso se confirmar, a economia chinesa “estará assentando um pilar fundamental em seu modelo de desenvolvimento, até agora apoiado em uma divisa depreciada para impulsionar as exportações”, sustentam. Nos últimos meses, entretanto, a China permitiu uma depreciação do yuan superior aos 2%, uma mudança radical na política cambiária aplicada pelo país desde 2005.

Pequim duplicou a banda de flutuação do yuan, mas ainda não é uma divisa plenamente conversível, e embora esteja adotando reformas para sanear seu sistema bancário, aí a tarefa pendente é enorme. “Se amanhã se aprovasse a internacionalização do yuan, isso sim que teria um impacto dramático para a economia mundial”, sublinha Jessop. “Os EUA são o principal ator do sistema financeiro global e continuarão sendo durante o futuro previsível.”

“É preciso manter a perspectiva. Em dólares correntes, que proporcionam uma medida melhor do controle de um país sobre os recursos globais, a economia dos Estados Unidos é ainda duas vezes maior que a da China”, recorda por meio de correio eletrônico Charles Collyns, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais. “E, é obvio, a China continua sendo um país muito mais pobre. A renda per capita na China mal chega a um quinto da dos Estados Unidos, mesmo se a medirmos pelo poder de compra.”

Em seu último livro, Eclipse: Living in the Shadow of China's Economic Dominance (numa tradução livre, “Eclipse: vivendo à sombra do domínio econômico chinês”) defende que um país com renda média, como a China, pode chegar a exercer a liderança global, mas não há precedentes. Nos últimos séculos, os países dominantes, como Reino Unido e Estados Unidos, foram países ricos. Além disso, e não menos importante, a ultrapassagem colocaria à frente da economia mundial um país sem um sistema político democrático.

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