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O maior Atlético de Madri

A equipe de Simeone atropela o Chelsea e se classifica, 40 anos depois, para a final da Copa da Europa Em 24 de maio, Lisboa recebe o dérbi dos dérbis

Ladislao J. Moñino
Diego Costa celebra seu gol, o segundo do Atlético.
Diego Costa celebra seu gol, o segundo do Atlético.TOBY MELVILLE (REUTERS)

Chelsea 1 x 3 Atlético de Madri

Chelsea: Schwarzer; Ivanovic, Cahill, Terry, Penetre (Eto'o, min. 53); Azpilicueta, Ramires, David Luiz, Hazard; Willian (Schürrle, min. 76) e Fernando Torre (Demba Ba, min. 66). Não utilizados: Hilario; Kalas, Ginkel e Oscar.

Atlético: Courtois; Juanfran; Miranda, Godín, Filipe Luis; Arda Turan (Cebolla Rodríguez, min. 81), Mario Suárez, Tiago, Koke; Adrián (Raúl García, min. 65) e Diego Costa (Sosa, min. 76). Não utilizados: Aranzubia; Alderweireld, Diego Ribas e Vila.

Gols: 1 x 0, min. 36, Fernando Torre; 1 x 1, min. 44, Adrián; 1 x 2, min. 60, Diego Costa, de pênalti; 1 x 3, min. 72, Arda Turan.

Árbitro: Nicola Rizzoli (Itália). Advertiu Cahill, Diego Costa e Adrián.

40.000 espectadores no Stamford Bridge.

Diego Costa comemora o 2 x 1 / TOBY MELVILLE (REUTERS)

Contra o que significava que Fernando Torres, um dos seus, pudesse acabar com o sonho com um gol tão frio quanto daninho; contra um clube cujo orçamento é o quádruplo do seu, o Atlético subiu no Stamford Bridge ao degrau mais alto da sua história. Quarenta anos depois, volta a uma final da Copa da Europa, depois da derrota de 1974 contra o Bayern de Munique. A esse ponto que tanto evocam todos os torcedores, jogadores, ex-jogadores, treinadores, ex-treinadores, dirigentes e ex-dirigentes. A esse instante que muitos teriam preferido nem viver, nem recordar, simplesmente apagar das suas vidas. Agora, há uma oportunidade de cobrar aquela dívida pela qual o time tanto penou. A oportunidade de revanche para sanar aquela derrota será contra o Real Madrid, no maior dérbi já imaginado nos mais de 100 anos de existência dos dois clubes, na primeira final na história da Copa da Europa entre equipes de uma mesma cidade. Será em 24 de maio, em Lisboa.

O Atlético conquistou o Stamford Bridge e venceu uma eliminatória em que foi a equipe que mais fez por ganhá-la. Primeiro no seu estádio, e depois no do Chelsea, onde jogou sem complexos, muito seguro de si mesmo. Certo de que tudo o que fazia no campo tinha um sentido. Superou rapidamente o gol de Torres, para depois se impor com fabulosa autoridade. Se o jogo do Real em Munique foi de gala, o do Atlético não fica atrás. Quando Adrián empatou, o grupo não se conformou em se resguardar. Procurou o segundo gol, e o terceiro, perante o olhar incrédulo de José Mourinho, o grande derrotado do duelo. Outros 10 metros à frente, eternamente trajado de negro, estava Simeone, artífice de uma estrutura solidária que em dois anos e meio se colocou na primeira fila do futebol europeu, e que em Lisboa terá a oportunidade de dominá-la.

Fernando Torres marcou e não o celebrou, empatou Adrián e os rojiblancos se cresceram

O empate em zero na partida de ida e o comportamento conservador de Mourinho geraram muita expectativa quanto às propostas que ambos os treinadores apresentariam. Havia a curiosidade em medir a ambição do Chelsea em seu próprio estádio, em saber se o time se atreveria a oferecer à sua torcida outra tese de jogo defensivo, como a que expôs no Calderón, ou se mostraria um rosto mais ofensivo. As pistas começaram pelas escalações. Mou usou todos os seus melhores zagueiros disponíveis, incluído Terry. Um quinteto em que Azpilicueta ocupou a lateral direita do centro do campo para formar uma dupla com Ivanovic pelo corredor. O objetivo: parar Filipe Luis.

Simeone surpreendeu com Adrián e deixou Raúl García de fora. Abriu mão da garra e do jogo aéreo em troca de ganhar as segundas bolas em velocidade. Dada a importância de Raúl García nesse tipo de jogo, a decisão parecia apontar logo de cara para a intenção de uma partida menos aérea do que na semana passada. Assim foi. Nenhuma das duas equipes se abriu, sempre com o olhar posto no equilíbrio, mas a alternância na busca pela iniciativa propiciou um duelo menos confuso que o primeiro. Quando era o Chelsea que dominava, David Luiz governava o meio, orientando o jogo para os flancos. À sua esquerda tinha Hazard, com sua mudança de marchas e sua velocidade na ponta. Uma ameaça sempre que esboçava uma aceleração. À direita, Azpilicueta, chegador, mas também atento ao que acontecia às suas costas. Esse jogo pelas laterais tinha como objetivo Fernando Torres. Foi El Niño, depois dessa primeira longa meia hora com as duas equipes sem darem trégua, mas praticamente sem nenhum arremate, que abriu o placar. Um gol de oportunismo, mas também cheio de significados, obrigando a uma mistura de sentimentos e profissionalismo. Willian se livrou de uma emboscada no córner, rodeado por três defensores do Atlético, e conseguiu ligar com Azpilicueta, cujo passe Torres aproveitou num chute forte, baixo e cruzado. Não comemorou. Nem sequer ameaçou correr. Ficou como que interiorizando e conjugando em alguns segundos o seu passado com o seu presente.

Apenas oito minutos durou o jeito doído que o confronto havia assumido com o gol de Torres. Adrián já havia dado um aviso desviando uma falta de cabeça. Depois, caçou um cruzamento de Juanfran. O chute saiu mascado, mas entrou e justificou a aposta do seu treinador.

Do empate não emergiu um Chelsea mais ambicioso depois do intervalo, e sim um Atlético imperial e coral. Koke se soltou, Filipe também, Mario começou a jogar com critério, Arda impôs sua arte, e os desmarques de Diego Costa e Adrián desmanchavam a zaga blue. Até Courtois, com o 1 x 1 ainda no marcador, mostrou aos seus donos e àquela que pode vir a ser sua torcida a sua capacidade de salvar partidas, ao defender uma cabeçada de Terry para baixo.

Depois começou o festival. Eto’o derrubou Diego Costa quando este dominou uma bola sem perigo algum na área. O hispano-brasileiro, depois também de voltar a mostrar as garras a Terry, que tentou deixá-lo nervoso, converteu o pênalti forte e no alto, após uma polêmica com o árbitro pela colocação da bola.

A essa altura já se escutava à torcida alvirrubra evocar Luis Aragonés, cantarolar o hino e marcar com olés os toques que terminaram por coroar Arda com uma cabeçada no travessão, cujo rebote ele empurrou para confirmar o Atlético como o maior da história. E o melhor dérbi possível, em Lisboa, na final da Champions.

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