Um 9 atípico para o Brasil
Fred foi convocado como titular e parece definitivamente ser escolhido para a glória em um momento estranho para o futebol brasileiro que não conta com um atacante comparável aos protagonistas de suas duas últimas vitórias em Copa
Há três semanas, numa partida contra o Macaé, Frederico Chaves Guedes (mais conhecido como Fred) marcou de cabeça o gol da vitória da sua equipe, o Fluminense, depois de seis meses sem anotar um só tento. Lesões musculares haviam-no deixado praticamente sem jogar desde que ganhou a Copa das Confederações com a seleção brasileira, em julho passado; desde sua volta aos gramados, no começo do ano, não havia se encontrado com as redes (e falhou em dois pênaltis, além do mais). O gol foi comemorado com alvoroço, não só pelo próprio jogador (“Só eu sei todas as dificuldades que passei”, disse minutos depois) e pela torcida do Flu, que tinha saudades do seu centroavante, mas também pelo técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, que mantém sua aposta em um camisa 9 sem muito renome internacional para conquistar a Copa das Copas na sua própria terra, dentro de três longos meses.
Poucos dias depois desse gol, Scolari apresentou a lista de convocados para o amistoso do último dia 5 contra a África do Sul (vitória brasileira por 5 x 0). Os rumores sobre surpresas não se confirmaram: Fred foi convocado como titular e parece definitivamente ser o 9 escolhido para a glória em um momento estranho para o futebol brasileiro, que continua alimentando o futebol europeu com extraordinários meio-campistas, meias-atacantes, laterais e zagueiros, mas que não conta – nem de longe – com um atacante comparável aos protagonistas de suas duas últimas vitórias em Copas: Romário (em 1994) e Ronaldo Nazário (2002). Confiante na sua recuperada solidez defensiva, no talento transbordante de sua linha medular e da magia do ídolo Neymar, o treinador confessou seu apreço “por um centroavante com bom posicionamento na área, com boa altura para o jogo aéreo e que saiba se posicionar defensivamente quando for necessário”. O jogador, até agora, está correspondendo: foi Chuteira de Prata (atrás de Fernando Torres) na citada Copa das Confederações.
Forte, rápido e trabalhador, a maior virtude de Fred provavelmente é seu grande jogo de costas para o gol, a capacidade de prender os zagueiros e segurar a bola para a chegada da segunda linha. Pessoas próximas à seleção costumam destacar, além disso, sua solidariedade e liderança. Em 2005, depois de uma temporada brilhante no Cruzeiro, o Olympique de Lyon o contratou como seu grande astro. Venceu a Liga francesa de 2005-2006, sendo vice-artilheiro da competição, mas depois passou a enfrentar um ciclo de lesões que o persegue com mais ou menos sanha até hoje. As contusões e a ascensão de um jovenzinho barbado chamado Karim Benzema relegaram Fred a um papel secundário no Lyon. Em fevereiro de 2009 ele retornou ao Brasil, ao Fluminense, onde depois de duas temporadas opacas alcançou seu melhor nível e foi uma peça essencial na conquista do Brasileirão em 2012 (sendo eleito, além disso, o melhor jogador do torneio).
Apesar disso, nenhum clube europeu de primeira linha chegou a oferecer os 2,5 milhões de euros (8,1 milhões de reais) que, segundo seu contrato, permitiriam sua liberação e seu retorno ao Velho Continente (caso ele assim desejasse). Fred, capitão do time, trabalha com afinco para alcançar um sonho heroico, o de ser o camisa 9 da seleção na sua Copa, uma proeza facilitada por um improvável acúmulo de circunstâncias: a continuada irrelevância de Robinho, a má fase física e mental de Pato, os vaivéns pessoais de Adriano, a “fuga” espanhola de Diego Costa e os 33 anos de Luis Fabiano. Outro candidato, o robusto Hulk (do Zenit, de São Petersburgo), foi escalado na quarta-feira como ponta-direita na África do Sul, completando o tridente ofensivo com Neymar e o próprio Fred.
As outras alternativas, menos conhecidas na Europa, eram Jô Alves (Atlético Mineiro), Leandro Damião (Santos), Diego Tardelli (Atlético Mineiro) e o ex-Benfica Alan Kardec, hoje no Palmeiras, que poucos dias antes de Fred marcar o seu gol e de Scolari anunciar a convocação para a África do Sul aparecia com força na imprensa brasileira. Jonas, de bom rendimento no Valencia, não é um centroavante nato, mas também entrava nos bolões por sua facilidade goleadora. A sorte, entretanto, parece estar lançada: o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, afirmou há alguns dias que Fred tem a vantagem de chegar à Copa “muito menos cansado que outros jogadores”, e lembrou que Ronaldo, em 2002, também foi para a Copa da Coreia e Japão depois de uma longa lesão, e mesmo assim foi seu astro.
As especulações não sobem à cabeça do jogador: na semana passada, ele reconheceu que a torcida estava “meio chateada” com ele por causa da falta de gols e do medíocre rendimento da sua equipe. “A única coisa boa disso é que estou aprendendo”, concluiu, sem se alterar muito. No domingo, contra o Vasco, marcou mais um gol, o do empate, e se tornou o décimo maior artilheiro da história do Fluminense.
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