6 fotosComo fazer para que as lembranças ruins não nos persigam?A literatura científica sugere algumas estratégias para apagar da memória o que não queremos recordarAlejandro Tovar15 out. 2018 - 07:55BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinBlueskyLink de cópiaExistem formas de potencializar nosso cérebro. Ler livros, jogar xadrez, aprender idiomas e até mesmo sair com amigos são algumas das atividades de lazer que nos ajudam a melhorar a memória. Também existem alimentos, como as folhas verdes, as bagas e os legumes, que contribuem para melhorá-la. Ok, mas o que podemos fazer se o que queremos é esquecer? Para isso, muitas vezes tendemos a evitar lugares e objetos relacionados com essa lembrança. Bares que visitamos com pessoas que já não fazem parte de nossa vida ou presentes que nos deram, por exemplo. Isso é um erro, diz o psicólogo Jesús Matos, especialista em gestão da tristeza. Ao contrário do que se imagina, ele diz que “é necessário assimilar as emoções associadas com a lembrança ruim para que desapareçam”. E completa: “Atrair à memória recordações positivas fará com que a ausência seja ligeiramente menos pesada”. Confira a seguir alguns passos para já começar a esquecer.A palavra “recordar”, do latim recordare, significa em sua etimologia “voltar a passar pelo coração”. Conseguir modificar o que uma lembrança nos faz sentir é possível, curiosamente, enganando o cérebro. Trata-se de um processo chamado “fase de reconsolidação da memória”, quando o cérebro ativa novamente uma lembrança e a torna instável durante um período curto de tempo, para logo depois salvá-la e fixá-la de novo. Uma pesquisa, realizada por cientistas da Universidade de Nova York e publicada na revista Nature em 2009, mostrou que durante essa fase é possível enganar o cérebro e trocar uma lembrança ruim por outra tranquilizadora. Uma técnica que, segundo os pesquisadores, “promete uma aplicação como terapia contra a ansiedade e o estresse pós-traumático”.O contexto da experiência vivida também desempenha um papel fundamental em nossas lembranças, tanto nas boas como nas ruins. É o que indica um estudo realizado por psicólogos das universidades Dartmouth e Princeton. A conclusão: nós somos capazes, se quisermos, de eliminar uma lembrança de forma intencionada relacionando-a com estímulos positivos que substituem os negativos. A capacidade de eliminar intencionalmente uma lembrança de nossa memória também foi estudada por cientistas de Stanford e da Universidade Trinity. Muita gente gostaria de se submeter ao processo de ‘apagar’ episódios vitais desagradáveis, como o vivido por Kate Winslet (Clementine) em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, mas o objetivo do estudo foi comprovar a capacidade que as pessoas com depressão têm de esquecer as coisas negativas que reaparecem em sua memória de forma recorrente e incontrolável. Uma vez mais, as conclusões demonstraram a capacidade que temos de nos livrarmos de uma lembrança desagradável.“Quando o cérebro reativa uma lembrança, também desperta emoções aderidas a ela, sejam positivas ou negativas [recordare]”, explica Matos. Quanto mais negativas elas forem, maior será o grau de ansiedade que as acompanha. “Essas emoções tentam nos adaptar à situação. São mecanismos adaptativos, mas, se pensamos na lembrança que as provoca até tirar sua importância, o cérebro acabará entendendo que a ansiedade, nesse caso, não serve para nada”, afirma o psicólogo. Inclusive nos esqueceremos dela, segundo um estudo publicado na Nature. Desse modo, recordar de forma recorrente quando seus amigos se irritaram com você por alguma coisa será o caminho para perceber que aquilo já passou, que não tem solução, que seus amigos já te perdoaram.“Encontrar um nível superior de bem-estar ao que tínhamos antes da situação negativa é uma prática comum na terapia de crescimento pós-traumático”, diz Matos. Focar no que você aprendeu, nos ensinamentos obtidos e nos recursos que alcançou será um bom antídoto contra o poder negativo das lembranças.A literatura sobre psicologia demonstrou que escrever sobre uma recordação negativa é terapêutico e que esse processo de introspecção, plasmado depois no papel, ajuda a superar inclusive depressões e estados de ansiedade severos. Assim, independentemente do tipo de lembrança e do tempo que tenha passado desde aqueles fatos que ainda te atacam, dedicar um momento tranquilo e solitário para escrever sobre ele no papel pode te ajudar a neutralizá-lo.