7 fotosSete mancadas perpetradas por gênios da arquiteturaDesde que Deus foi descrito como “o grande arquiteto do Universo” os arquitetos se acham deuses. Mas eles erram, e comoEl País09 mai. 2018 - 17:37BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaA Casa da Cascata, de Frank Lloyd Wright (Wisconsin, EUA , 1867 – Arizona, EUA, 1959), construída em Bear Run, na Pensilvânia, é um dos edifícios mais fotografados do século XX. Entretanto, a estrutura apresentava problemas, e a construção era péssima. A incomensurável visão do arquiteto ultrapassou com sobra a competência técnica de quem a ergueu. A 'Casa da Cascata' tinha muitas goteiras, algo pouco surpreendente levando-se em conta que foi construída sobre o leito de um rio. Mas Wright considerava que essa intrusão demonstrava seu gênio. Do ponto de vista criativo, a ausência de goteiras teria revelado pouco empenho da sua parte. Wright acreditava que as falhas estruturais constituíam uma orgulhosa prova de seu talento imaginativo e demonstravam como ele estava adiantado em relação à entorpecida tecnologia construtiva. Expanda os limites até que se formem goteiras!Getty imagesFrank Gehry (Toronto, Canadá, 1929) é certamente o mais pródigo na hora de infringir os princípios de utilidade, firmeza e beleza que Vitrúvio cunhou. Em 2007, o MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts) processou o arquiteto porque o Centro Ray e Maria Stata, concluído três anos antes na mesma instituição, apresentava rachaduras e manchas de mofo nas paredes, e no inverno havia formação de gelo nas partes salientes. A empreiteira Skanska já havia alertado sobre os problemas que sua construção traria. Por quê? Gehry tinha projetado a forma sem pensar no funcionamento. O melhor foi com o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles (na foto). Ao sol de Califórnia, os reflexos do metal que o cobria elevavam em 15o C a temperatura da calçada. Se a temperatura no verão em Los Angeles pode chegar a 30o C, estamos falando em um calor de 45o C no perímetro do edifício. Os visitantes que faziam fila no lado de fora e os vizinhos protestaram, e foi preciso lixar o metal para reduzir o reflexo.CordonQuanto mais ilustre o nome, maior a ofensa. A piscina projetada por Zaha Hadid (Bagdá, Iraque 1950 – Miami, EUA, 2016) para os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 simplesmente não poderia ter sido construída conforme foi desenhada: a cobertura arredondada bloqueava a vista do trampolim a partir das últimas fileiras; além disso, os assentos dos espectadores estavam mal projetados. Os empreiteiros ficaram desesperados. Uma das últimas obras de Hadid foi o estádio do Qatar para a Copa do Mundo de 2022. Muitos observaram que, do alto, o estádio parecia uma vagina aberta. E Hadid respondeu: "Se você acha que qualquer coisa com um buraco é uma vagina, problema seu".CordonHá pouco tempo, Londres sofreu um choque térmico de origem arquitetônica na Torre Fenchurch 20, mais conhecida como ‘walkie-talkie’, do arquiteto Rafael Viñoly (Montevidéu, Uruguai, 1944). A banalidade conceitual desse edifício salta à vista por sua semelhança com um transmissor-receptor de voz. Mas os defeitos eram funcionais, além de artísticos: sua curvatura funcionava como espelho côncavo que concentrava a incomum luz solar londrina em um feroz raio que literalmente derreteu o Jaguar de um executivo. Foi preciso instalar caríssimos defletores, acrescentando o esbanjamento às acusações estéticas contra Viñoly.CordonOs erros arquitetônicos de Le Corbusier (Suíça, 1887 – França, 1965) eram de uma natureza especial. Alguns foram construídos, outros não. Em seu Plano Voisin, de 1925, pedia nada menos do que a demolição total do centro urbano de Paris e a substituição de seus belos bulevares por autopistas urbanas e blocos de apartamentos. Isso nunca saiu do papel. O que foi construído foram as moradias que Le Corbusier projetou para os trabalhadores dos vinhedos de Pessac, em Bordéus (na foto). Os empregados rejeitaram seu estilo limpo, níveo e racionalista e, assim que Le Corbusier deu meia-volta, adornaram seus brancos e austeros edifícios cúbicos com telhas de barro, venezianas, rodas de carro e lâmpadas de farol. Um momento antes de morrer, em 1965, um escaldado Le Corbusier disse: "A vida tem razão, e o arquiteto se equivoca".Corno.fulgur75 / Visualhunt.comMais um caso de um astro desastrado no mundo da arquitetura. As pontes expressionistas de Santiago Calatrava (Valencia, Espanha, 1951) são associadas a um irresponsável esbanjamento municipal, além de terem uma tendência às goteiras. Ele as construiu, quase sempre com problemas, em Bilbao, Murcia, Jerusalém, Veneza... Sua última obra, o Oculus do World Trade Center de Nova York, considerada a estação de trens mais cara do mundo, com um custo de quatro bilhões de dólares (18 bilhões de reais), começou a apresentar goteiras em maio de 2017, apenas um ano depois de sua inauguração.CordonO arquiteto britânico Richard Rogers (nascido em 1933) bebeu muito de Corbusier. Seu Centro Pompidou de Paris, construído entre 1970 e 1977, foi a materialização da visão mecânica que Le Corbusier tinha dos edifícios. A fixação de Rogers era colocar a climatização e a instalação eletromecânica no exterior do edifício, de modo que os intestinos ficassem pendurados por fora do esqueleto. Mas o espaço ganho no interior não servia para exposições, como estava previsto, e foi necessário criar novas divisões. Longe de ser funcional, o edifício de Rogers trouxe para o cliente inusitadas dificuldades de limpeza e manutenção – o fato de as instalações do edifício ficarem no exterior, e quase descobertas, é o principal atrativo e o máximo problema. Apesar de cada elemento ser identificado por uma cor (vermelho para elevadores e escadas, azul para climatização, verde para a água, amarelo para a eletricidade, e branco para os exaustores), sua manutenção na altura era muito complicada, e sempre surgiam problemas. Quando foi preciso realizar reformas aprofundadas, não voltaram a convidá-lo – chamaram outros arquitetos.Cordon