_
_
_
_
_

Garshad, o aplicativo que ajuda a escapar da polícia moral do Irã

Garshad é utilizado para combater os agentes que monitoram o cumprimento das normas islâmicas

Mulheres nas ruas de Teerã.Vídeo: Cordon Press / Youtube

Faz uma semana que o aplicativo Garshad está disponível para os cidadãos iranianos. Com a ajuda do programa, podem circular pela cidade sem topar com as patrulhas da polícia moral que monitoram o cumprimento das regras islâmicas, especialmente em relação às roupas das mulheres. "Recentemente, indignados com toda essa opressão, começamos a buscar uma solução para oferecer resistência diante desta injustiça e, assim, recuperar uma parte de nossa liberdade; foi quando tivemos a ideia [de criar] o Garshad", diz o site do aplicativo sobre seu objetivo.

Mais informações
Vôlei de praia, o ponto ou a bola na rede da abertura política no Irã
As estátuas cobertas em Roma ou quando a complacência ofende
Irã se prepara para receber capital e tecnologia estrangeiros
Irã cumpre pacto nuclear e EUA anulam as sanções

O aplicativo mostra mapas de diferentes cidades do Irã, e os cidadãos podem atualizá-los marcando os locais das patrulhas, permitindo assim que todos os usuários possam escapar dos policiais. Por isso, o Garshad destaca no site que "a exatidão do aplicativo depende da cooperação dos cidadãos".

"O Garshad, por enquanto, é compatível com o sistema Android, e, se quiser ter sucesso, precisa funcionar com a maioria dos sistemas operacionais, já que o êxito deste tipo de software depende, principalmente, do número de usuários", afirma Nima Esfandiari, especialista em informática.

Mohammad Khaleghi, estudante de administração de empresas, diz que o aplicativo chegou tarde. Para ele, "os cidadãos deveriam ter este tipo de aplicativo disponível há alguns anos, quando a presença da polícia moral pela cidade realmente incomodava". A pressão dessa força policial diminuiu muito depois que o atual presidente, Hassan Rowhani, chegou ao poder em 2013, e agora a polícia moral não assedia tanto as mulheres, apesar de continuar na ativa.

"Não acredito que o desenvolvimento de um aplicativo deste tipo importe muito para os iranianos; o que nos interessa é a questão da economia, do emprego e da saúde pública", disse Azar Rahimi, uma professora de meia-idade preocupada com o futuro dos dois filhos.

O último caso da presença desses policiais que chamou a atenção do público e fez o tema ressurgir nas redes sociais ocorreu há duas semanas, durante o Festival de Cinema de Fajr, em razão do 34o aniversário da Revolução do Irã, que costuma ser frequentado por garotas de visual mais moderno, e que sempre incomodou os setores mais conservadores, especialmente os meios de comunicação dessa linha.

"Para a polícia, ou para os basij, não é muito difícil neutralizar este aplicativo, precisam apenas que aqueles que são contra esse tipo de invasão ocidental comecem a introduzir dados incorretos, para que deixe de ser uma referência confiável e útil", disse Mojtaba Safi, estudante de engenharia de polímeros e integrante do Basij (Voluntários Islâmicos).

Mas, assim que o aplicativo foi disponibilizado, o site do Garshad foi bloqueado no Irã, como um sinal da cautela do sistema iraniano diante de seu possível sucesso. Embora esse bloqueio não preocupe tanto os internautas iranianos, já que quase todos contam com um desbloqueador em seus celulares e computadores.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_