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Editoriais
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Dois filhos chineses

China abandona a política do filho único. Mas não é suficiente

Foto de arquivo de vários idosos junto a um bebê na localidade de Jiaxing na província chinesa de Zhejiang
Foto de arquivo de vários idosos junto a um bebê na localidade de Jiaxing na província chinesa de ZhejiangWILLIAM HONG (REUTERS)

A decisão do Governo chinês de acabar com a política que não permitia que os casais tivessem mais de um filho termina uma experiência social que se prolongou oficialmente desde 1980, embora tenha começado quatro anos antes, e que se revelou um fracasso. A doutrina não só violou os direitos dos casais chineses, mas causou sérios desequilíbrios demográficos cujas consequências sociais e econômicas ainda serão determinadas.

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Além dessas consequências, a lei imposta pelo regime aos cidadãos fez com que, entre outras coisas, milhões de chineses não tenham documentos de identidade porque seus pais tiveram que escondê-los; que milhões de mulheres fossem abandonadas recém-nascidas, e que milhões de idosos tenham ficado sem nenhuma família para ajudá-los. A lei do filho único significou sobretudo uma imensa tragédia humana.

Agora será permitido ter até dois filhos. Não devemos nos enganar; a nova lei não significa qualquer avanço, porque o que Pequim deveria reconhecer é o direito e a liberdade de cada casal ter os filhos que quiser. Ou nenhum. A nova medida poderá aliviar os dados demográficos de envelhecimento, mas continua violando um direito fundamental como o de formar a família do tamanho que cada um queira ou possa.

Precisamente aqueles que governam uma nação com uma cultura de milênios deveriam ser conscientes da dificuldade de se tapar o sol com a peneira. O problema não é proibir o jogo de golfe ou permitir ter um ou dois filhos. Trata-se de assumir que a democracia garante a liberdade e adotar esse sistema.

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