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O que é a expansão quantitativa de um trilhão de euros do BC Europeu?

Seis pontos para entender o grande plano de estímulos aprovados para a zona do euro

Amanda Mars
Letreiro luminoso do BCE diante da sede da instituição em Frankfurt.
Letreiro luminoso do BCE diante da sede da instituição em Frankfurt.Martin Leissl (Bloomberg)

Segunda-feira é o dia em que o Banco Central Europeu (BCE) coloca em andamento um mecanismo de compras de dívida pública (chamado “expansão quantitativa” no indecifrável jargão financeiro) que acredita-se ter feito história na zona do euro. Por quê? Como afeta os europeus? Por que acredita-se ser decisivo para sair da crise? Seis pontos essenciais a respeito:

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1. No que consiste exatamente a “expansão quantitativa”?

O BCE comprará a partir de março títulos da dívida pública e privada (mas principalmente pública) pelo valor de 60 bilhões de euros (200 bilhões de reais) mensais até pelo menos setembro de 2016. São basicamente bônus emitidos por Governos ou por instituições públicas da zona do euro (como o Banco Europeu de Investimentos ou o ICO espanhol, por exemplo) com vencimento de 2 a 30 anos. As aquisições não serão feitas nos leilões dos tesouros de cada país, mas no mercado secundário, onde investidores de todo o tipo compram e vendem títulos já emitidos pelos Estados. No total, por 19 meses, o plano terá um orçamento de 1,14 trilhão de euros (3,80 trilhões de reais). A dívida grega não será comprada (porque o BCE não pode passar dos 33% de bônus emitidos por um Governo), mas para os demais existem poucas exceções: O BCE aceitará até mesmo a dívida com juros negativos (a que custa dinheiro a quem empresta) com um limite de -0,2%, que é a taxa cobrada pelo BCE aos bancos por depositar seu dinheiro no órgão de Frankfurt.

2. Qual é a parte desempenhada pela Espanha?

O Banco da Espanha será o responsável por realizar as compras e no total, de acordo com as contas mostradas por Mario Draghi na primeira apresentação em 22 de janeiro, o plano implicará a aquisição de 100 bilhões de euros (333 bilhões de reais) em bônus espanhóis se o programa for eficiente até setembro de 2016. E o presidente do BCE advertiu que, se a meta da inflação não for atingida (taxa menor, mas por volta de 2%), os estímulos podem ser prolongados além da data prevista para o fim do programa. Os 100 bilhões de euros, de qualquer forma, equivalem a aproximadamente 10% de toda a dívida pública espanhola.

3. Por que tem um nome tão incomum: expansão quantitativa?

O nome, para começar, não é oficial, mas a forma mais comum utilizada pelos analistas para referirem-se ao plano Draghi. Vem do nome que a Federal Reserve (Fed), que é o banco central dos Estados Unidos, deu aos seus estímulos massivos, que começaram em 2008 e já foram encerrados. O nome era Quantitative Easing (QE), chamados coloquialmente pela abreviatura QE1, QE2 ou QE3 dependendo da fase em que se encontravam. A tradução ao português – expansão quantitativa – não o explica melhor, mas indica que é uma expansão monetária ou de liquidez realizada pelo BCE. Em resumo, Draghi colocou em funcionamento a máquina de imprimir dinheiro. Enquanto o QE americano era ligado ao objetivo de conseguir uma taxa de desemprego baixa nos EUA, o europeu está relacionado às metas de inflação.

4. O que o BCE pretende com isso?

O objetivo principal é que os investidores percam o apetite pela dívida pública e desviem o dinheiro a um investimento mais rentável na economia produtiva. Boa parte da dívida dos Estados está em poder dos bancos da zona do euro e o BCE quer que dediquem-se a fornecer mais crédito. Se o BCE começar repentinamente a comprar bônus soberanos, seus preços subirão e a rentabilidades destes – que já está em seu valor mínimo histórico – baixará ainda mais. A medida implica uma injeção de liquidez no mercado e, portanto, debilita a cotação do euro (a moeda está há 13 anos em seu valor mínimo em relação ao dólar). Esta desvalorização torna mais baratas e competitivas as exportações europeias, o que ajuda na recuperação. Além disso, como consequência do estímulo ao consumo interno e externo, o banco central da zona do euro combate o risco da deflação, que é uma queda generalizada e prolongada dos preços. A baixa inflação é negativa? Em princípio, não, mas pode vir a ser. Os preços da zona do euro caíram 0,3% em fevereiro e a meta da inflação do BCE está próxima (ainda que abaixo) de 2%.

5. Por que o QE incomoda Berlim?

Isso ocorre porque a Alemanha é firme defensora da ortodoxia e o QE é o maior expoente de uma medida monetária não convencional. A compra de bônus públicos em grande escala é uma mudança na folha de serviços do BCE: nunca tomou até hoje uma medida de estímulo tão agressiva (mesmo que tenho deixado a taxa de juros a zero e concedido toneladas de crédito barato aos bancos). No mandato do banco fica claro que este não pode financiar os Estados e deve focar-se na estabilidade dos preços e o risco da inflação alta é um pesadelo histórico para os alemães. Como concessão aos chamados falcões ou guardiões da ortodoxia, somente 20% dos riscos serão compartilhados, os 80% restantes recairão no banco central de cada país.

6. Isso chegará somente aos bancos ou também no bolso da população?

Na quinta-feira Draghi disse as medidas de estímulo (em geral) já estavam sendo notadas na economia real pela via de uma certa recuperação do crédito. Nos mercados, a medida age como se estivesse vigente há um mês: a rentabilidade da dívida pública é mínima, em muitos casos já no negativo, e os prêmios de risco também caíram. Para começar, o programa do BCE dará mais liquidez aos bancos e isso fará o Euribor (Taxa Europeia de Oferta Interbancária) baixar, a taxa de juros que os bancos cobram entre si e marca a referência das hipotecas. Além disso, a queda do euro também ajuda a recuperação (ver Item 4). E o crédito deverá tornar-se mais fácil e barato, ainda que muitos especialistas vejam o problema do crédito na solvência da demanda e não na liquidez.

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