Você pegaria um táxi compartilhado?
Dividir a corrida com desconhecidos ajudaria a reduzir o trânsito nas metrópoles
Você seria capaz de entrar em um táxi com pessoas que não conhece para fazer o mesmo trajeto? Em Paris, Amsterdã, Santiago, Caracas ou Bogotá essa prática já é adotada há anos e é absolutamente normal. Se isso pode reduzir o trânsito, as emissões de gases de efeito estufa e, ainda por cima, oferecer mais comodidade por quase o mesmo preço de andar espremido em um ônibus, a proposta parece tentadora. Uma projeção feita pelo Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, por onde circulam mais de 2 milhões de veículos, mostra que se cada 300 pessoas optassem por essa alternativa na capital carioca, 250 carros deixariam de circular na cidade maravilhosa. Se essa fosse a opção de 300.000 pessoas, seriam 250.000 mil carros a menos…
A ideia parece sedutora para cidades como São Paulo, por onde trafegam 7,8 milhões de veículos, e onde o paulistano perde ainda 2h53 no trânsito diariamente. Um projeto de lei (nº 770/13) sobre o tema pode ser sancionado em breve, pois já passou por uma primeira votação na Câmara Municipal e foi aprovado. O vereador Ricardo Young (PPS), um dos autores da proposta, defende que o sistema de transporte público não é funcional e, atualmente, os cidadãos não andam mais de táxi porque é caro. "As pessoas não fazem o cálculo de quanto gastam para usar o carro e, às vezes, o táxi sai mais barato. A ideia é migrar do transporte individual para o coletivo, baseado em dois aspectos: funcionalidade e conforto".
O projeto prevê que esses táxis se concentrariam em pontos de grande aglomeração, como terminais de ônibus e estações de metrô, a partir de onde as pessoas fazem trajetos curtos para zonas comerciais. Assim, seria possível trabalhar em cima do conceito de economia colaborativa – o de combinar para um único trajeto meios de transporte público e privado. A priori, haveria “uma racionalização do uso do transporte privado“, explica o vereador, o que não significa necessariamente que seria uma panaceia para o trânsito. Hoje, a capital tem 11,8 milhões de habitantes e uma frota de 34.000 táxis, ou seja, um para cada 347 pessoas, segundo a prefeitura de São Paulo.
Os taxistas, porém, não veem com bons olhos a ideia de partilhar trajetos. "Antes de mais nada, deveriam consultar a gente, pois não é viável para a categoria", diz Natalício Bezerra Silva, presidente do Sindicato dos Taxistas de São Paulo. Ele explica que essa proposta já foi feita nos anos 1980 e não funcionou. "O táxi lotação não deu certo, não sei porque daria agora", acredita.
Para o meio ambiente, o ganho seria mais simbólico do que efetivo. Isso porque os táxis representam um número pequeno da frota total de veículos da cidade. Em 2013, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), os carros foram responsáveis por 60% da emissão de gases de efeito estufa na região metropolitana de São Paulo, de um total de 160.568 toneladas de poluentes. "O impacto na qualidade do ar somente seria maior se as pessoas trocassem o carro pela bicicleta ou pelo transporte público", diz o Lincoln Paiva, diretor do Instituto Mobilidade Verde.
Paiva acredita que compartilhar um táxi pode ser útil para parte da moradores da capital, mas é preciso pensar em soluções para toda a população. “É, inicialmente, uma opção para quem pode pagar. Mas e o resto? 34% das pessoas em São Paulo percorrem grandes distâncias a pé porque sequer têm dinheiro para pegar ônibus ", diz. "Uma cidade não pode ser boa para alguns, precisa ser boa para todos", conclui.
Já Clarisse Linke, da ONG Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) aprova a ideia. "Nosso objetivo é tirar as pessoas do carro. Se um desses modos é o táxi compartilhado, isso é bom", diz. Linke diz que em Nova York já há estudos que comprovam que 80% das viagens de táxi poderiam ser compartilhadas, com um desvio máximo do trajeto de três minutos.
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