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O FMI alerta que a lenta melhoria do setor bancário freia a recuperação

As taxas de juros do Fed subirão em meados de 2015 A instituição debate entre reduzir as políticas de estímulo, tais como a injeção de crédito barato, ou preservar os incentivos

AMANDA MARS (ENVIADA ESPECIAL)
Christine Lagarde, diretora do FMI, e Angela Merkel, chanceler alemã, em uma imagem de 2012.
Christine Lagarde, diretora do FMI, e Angela Merkel, chanceler alemã, em uma imagem de 2012.ODD ANDERSEN (AFP)

Em um dos seminários que o Fundo Monetário Internacional (FMI) promoveu na terça-feira foi realizada uma espécie de referendo entre os participantes perguntando se os bancos centrais devem começar a reduzir as suas políticas de estímulo – taxas de juros menores, compras de ativos, injeções de crédito barato, entre outros – ou se, pelo contrário, devem preservá-los devido à fragilidade da economia. Os participantes, sobretudo jornalistas, tinham um aparelho para registrar a resposta, e 63% dos mais de cem votos escolheram por manter a expansão monetária.

Mas os debates dos últimos dias em Washington sobre qual deve ser o próximo passo estão longe de resolver a questão: teme-se tanto a retirada como a manutenção dessas medidas extraordinárias sem precedentes dos bancos centrais. Porque, embora o Fundo volte a destacar nestas reuniões a melhoria das condições, os problemas persistem e a zona euro, mais uma vez, está no topo das preocupações. O FMI, dirigido por Christine Lagarde, adverte em seu relatório de estabilidade financeira que a “reestruturação do setor empresarial endividado na zona do euro se viu paralisada porque a melhoria dos balanços dos bancos não foi concluída”.

Algo está errado com a Europa. Está falhando há vários anos. A política expansionista “não foi transferida para o fluxo de crédito necessário para apoiar uma recuperação mais forte, em especial das pequenas empresas”, de acordo com as palavras de José Viñals, responsável financeiro do FMI e ex-vice-governador do Banco da Espanha (banco central do país). Além disso, o Fundo considera o principal projeto da Europa para resolver este problema, a união bancária, insuficiente no momento de garantir que os riscos soberanos não fiquem vinculados ao banco.

“A atitude do mercado em relação aos bancos e às entidades soberanas da zona do euro submetidas a testes de estresse melhorou claramente, mas é possível que essa atitude tenha se antecipado ao processo de melhoria dos balanços que ainda é necessário”, alerta também o Fundo em seu relatório, divulgado no mesmo tempo que os testes de resistência ao setor europeu, cujos resultados devem ser publicados no segundo semestre.

A pressão dos mercados abrandou há algum tempo. Os investidores já exigem a países como a Espanha, há um par de anos envolvidos em programas de resgate, as mesmas taxas de juros anteriores a 2010, quando foi aprovado o primeiro plano de resgate para a Grécia e os títulos chegaram a remunerar menos juros do que o papel norte-americano. E, contudo, o crédito continua reduzido para as empresas.

Diferentes cenários

O Fundo tem se esforçado para refletir como a consolidação do setor bancário será importante para que essa fraca recuperação ganhe um impulso. Técnicos têm realizado uma série de simulações sobre as conexões entre o crédito, a morosidade e os amortecedores de capital e projetam que, por exemplo, no caso da Espanha, um aumento de 170 pontos básicos no ratio de capital e reservas (até alcançar o nível da taxa dos endividados) levaria a um crescimento acumulado do crédito de 8% em quatro anos. Na Itália, entretanto, um aumento deste amortecedor de 130 pontos básicos elevaria o crédito em até 5% no mesmo período.

Na mesma linha, uma melhora na qualidade dos ativos na Espanha, consistente em uma queda de 320 pontos básicos no ratio de créditos duvidosos, aumentaria o crédito corporativo em 14 pontos percentuais em quatro anos.

Apesar do otimismo nos bancos e a evolução da dívida soberana, a posição dos ativos líquidos das economias familiares continua fraca na Grécia, na Irlanda e na Espanha. E embora os saldos em conta corrente também tenham corrigido o seu déficit de forma notável, apesar do aumento da dívida pública, a dívida externa se mantém elevada neste mesmo clube dos países periféricos do euro, alerta o FMI.

O Fundo também prevê medidas para favorecer formas de financiamento não bancárias, tais como as participações de capital ou a emissão de dívida, uma mensagem dirigida principalmente a economias como a espanhola, na qual as empresas têm uma grande dependência do crédito bancário.

Estratégia de saída

Além disso, o banco central espanhol é um dos mais expostos ao risco dos mercados emergentes da América Latina, que deixaram de ser as estrelas do crescimento para se tornar uma das maiores preocupações do Fundo pelo efeito que a perda de capital derivada dos menores estímulos do Federal Reserve dos Estados Unidos poderá provocar. O FMI calcula que as taxas de juros do Fed começarão a subir em meados de 2015, uma data que a presidente do Fed, Janet Yellen, já adiantou, mas em seguida deixou no ar.

O Fundo espera que a estratégia de saída gradual evitará impactos nas economias em desenvolvimento. Além disso, acredita que as empresas desses países “têm em muitos casos defesas suficientes para resistir aos choques domésticos ou internacionais normais”, embora “algumas vulnerabilidades sejam óbvias”. E no Japão, a contínua aplicação de medidas de expansão monetária “é necessária, mas não suficiente para que o renovado dinamismo econômico se consolide”.

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